“Bem-vindos. Nesta casa eu nasci e passei meu primeiro ano de vida, junto com minha mãe e minha família materna”. De pé, ao lado do antigo escritório do avô, quem me desejou boas-vindas foi Mario Vargas Llosa, um dos mais importantes escritores latinos e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. Tudo bem que ele não estava lá em carne e osso, mas em holograma e tecnologia, mas a participação deixou a visita mais interessante mesmo assim.
Isso foi em Arequipa, a segunda maior cidade do Peru e onde Vargas Llosa nasceu. Ao completar a oitava década de vida, o escritor peruano abraçou de vez sua origem. Ele doou milhares de livros para as bibliotecas arequipeñas, estimulou a criação de um tour que leva seu nome e participou ativamente da organização do Museo Casa de Vargas Llosa, que funciona na antiga residência de sua família. O escritor gravou uma série de vídeos, que são exibidos, como hologramas, ao longo da visita.
Veja também: O que fazer em Arequipa
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Arequipa, no Peru
Depois das boa-vindas chegou a hora do parto. Uma rádio dava as notícias do dia e mostrava que tínhamos voltado ao passado: era 28 de março de 1936. Enquanto Arequipa se preocupava com a atividade do vulcão Ubinas, Dora Llosa Ureta tinha um filho. A holografia faz mais uma vez o trabalho de máquina do tempo e a parteira, uma inglesa chamada de Miss Pritchard, pede que Dora empurre. O choro de um bebê invade o quarto. “É um menino”, diz a parteira.
Vargas Llosa foi um filho de pais divorciados. Fruto único daquele casamento, não chegou a ver seus pais juntos: a separação foi antes dele nascer. O pai, Ernesto Vargas Maldonado, tinha uma relação com uma alemã, com quem se casou e teve outros filhos.
Mario passou o primeiro ano de vida naquela casa do Bulevar Parra, com a família materna. Foi embora cedo, quando o avô foi transferido de emprego. Os anos seguintes da família Llosa foram em Cochabamba, na Bolívia, época que também é relatada no Museu. Para Mario, a infância na Bolívia foi cheia de boas memórias e totalmente feliz.
Bairro Miraflores, em Lima (Foto: Mira4espina78y. CC, 2013)
É fácil imaginar que divórcios não eram aceitos nas sociedades peruanas e bolivianas da década de 40. Talvez tenha sido por isso que a mãe de Mario disse ao menino que o pai havia morrido. A verdade só apareceu quando ele tinha 10 anos, idade em que conheceu o pai. Ele foi morar com a família paterna no ano seguinte, dessa vez em Lima.
O adolescente Vargas Llosa teve suas primeiras vivências (e decepções) amorosas no bairro Diego Ferré, no Miraflores, e nos anos seguintes estudou no Colégio Militar Leoncio Prado, onde começou a escrever. Experiências que mais tarde foram parar num dos livros mais famosos do escritor: “A Cidade e os Cachorros”, publicado em 1963.
De volta ao museu, vários personagens conversam com o escritor, entre eles Alberto, o poeta, quase um autorretrato presente em “A Cidade e os Cachorros”, que quer entender o final do livro. O diálogo do autor com outros personagens continua – inclusive a menina má, personagem de outra obra famosa de Llosa.
Além dos hologramas, as paredes da casa estão repletas de objetos e fotografias que lembram a importante família que viveu ali. Muita coisa era acervo familiar, claro, mas vários objetos foram encontrados em antiquários de Arequipa. Outra sala guarda os prêmios e condecorações que Vargas Llosa recebeu ao longo da vida. E, na parte de fora da casa, funciona um teatro que leva o nome do escritor.
Vargas Llosa teve uma vida cheia de aventuras. Rodou o mundo, morou também em Madrid, Barcelona, Paris e Londres e teve uma vida amorosa polêmica. O primeiro casamento foi com uma tia, Julia Urquidi, que era 10 anos mais velha. Ok, ela não era tia de fato de Mario, mas fazia parte da família: a irmã mais velha de Julia era casada com um tio dele.
Veja também: Travessuras da menina má: uma volta ao mundo com Vargas Llosa
O casamento, que contrariou a família, durou 13 anos e rendeu outro romance: Tia Julia e o escrevinhador. Um ano depois do divórcio, Vargas Llosa se casou de novo. E continuou tudo em família. É que dessa vez a noiva era Patricia Llosa, prima de Mario e sobrinha de Julia (a mãe de Patricia era a Olga, a irmã mais velha de Julia). Quando Mario e Julia ainda eram um casal, Patrícia, então com 15 anos, foi acolhida na casa dos dois, em Paris.
“O Peru é Patrícia, a prima de nariz arrebitado e caráter indomável”, disse Mario, no discurso do Prêmio Nobel de Literatura, em 2010. O segundo casamento de Vargas Llosa durou 50 anos, até 2015, quando o escritor se divorciou e iniciou uma relação com Isabel Preysler, com quem ele mantinha uma amizade de duas décadas.
Acrescente mudanças de posicionamento político, uma candidatura presidencial quase vencedora, várias viagens pelo mundo, amizade com pessoas interessantes e um soco na cara de Gabriel García Marquez, fato que acabou com a amizade entre os dois. É, Vargas Llosa, sua vida dá um livro. O bom é que você se encarregou de escrever vários.
Serviço:
A Casa Museo Mario Vargas Llosa fica na Av Parra 101, Arequipa.
Funciona de terça a domingo, das 10h às 17h.
A entrada custa 10 soles.
*O 360meridianos viajou ao Peru a convite do Submarino Viagens e da PromPerú
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Li o Tia Júlia e o Escrevinhador, além do Travessuras da Menina Má, entre outros do grande Vargas Llosa, ambos mostram a fixação do escritor pela Paris dos anos 1960 , a água furtada na capital francesa, escrevendo folhetins baratos, o sonho do jovem Marito. Já está na minha whislist das coisas ainda por fazer…
São livros ótimos, Nívia!
Abraço e obrigado pelo comentário.
Que legal! Agora fiquei com vontade de conhecer este museu dedicado a um dos maiores escritores contemporâneos. Vargas Llosa é admirável!
Os meus olhos saltaram aqui com o desejo de boas-vindas vindo do Vargas Llosa! Voltaram ao normal depois de “holograma”, mas ainda deve ter sido bem empolgante! 🙂
Gosto muito do Llosa e, claro, adorei o post! Listei mais um lugar pra conhecer e lembrei que “A Cidade e os Cachorros” é uma leitura pendente.
Os textos de vocês sobre viagens são sempre ótimos; E me encantam mais quando trazem algo de Literatura ou Cinema. Melhor blog! 🙂