Chiloé é um arquipélago situado na costa chilena, formado por qualquer coisa entre 33 e 45 ilhas. Digo entre 33 e 45 ilhas porque não há muito consenso sobre o número oficial: como a maré cobre alguns pedaços de terra ao longo do ano, transformando-os em mar, a contagem varia. Dessas, a Ilha Grande é a maior e mais importante. É nela que estão as principais comunas (cidades): Castro, a capital, e Ancud, além dos principais pontos de interesse turístico, como os parques nacionais e o mercado de Dalcahue. Algumas das ilhas menores também desenvolveram comunas, como Achao, e outras são completamente tomadas por natureza.
Administrativamente, Chiloé faz parte da Região dos Lagos, que seria a porta de entrada para a Patagônia Chilena. Culturalmente, no entanto, o arquipélago é algo à parte. Seu relativo isolamento, em conjunto com a mistureba de culturas que habitaram a região – entre o povo Mapuche e os conquistadores espanhóis -, possibilitou o desenvolvimento de uma forte identidade regional, com gastronomia, folclore e tradições que só são vistas ali e que cercam as ilhas com uma atmosfera mágica.
Dica Importante: Não cometa o erro de viajar para o Chile sem um seguro viagem. Entenda a razão e saiba como conseguir um seguro com desconto.
A região é famosa em todo Chile por seus mitos e lendas, como o Trauco, demônio que seduz e engravida as moças da ilha, e a Pincoya, um espírito das águas que controla a abundância de peixes na região. As figuras fazem parte do imaginário popular e são tema recorrente do artesanato local, vendido nos mercados e feiras que se espalham pelas ilhas e que, ao contrário do que acontece com muitos mercados por aí, ainda são frequentados pelos moradores e fazem parte de seu cotidiano. É também nos mercados que se encontram os peixes e frutos do mar frescos, levados diariamente pelos pescadores chilotas.
Passeios e atrações em Chiloé
Bairros de Palafitas
Chiloé já foi repleta delas, mas a maior parte das palafitas caiu com o terremoto de 1960, o mais forte já registrado na história. Hoje, as casas que se alçam sobre a água estão restritas principalmente a dois bairros de Castro, Gamboa e Pedro Montt, e a algumas construções espalhadas pela Ilha Grande. As casas de madeira colorida são construídas com duas frentes, uma para a rua e outra para o canal, que costuma ter uma varanda utilizada para amarrar barcos e auxiliar em trabalhos de pesca.
As casas ajudam a dar um charme a Chiloé e a maior parte funciona como hotéis e restaurantes. No passado, no entanto, cumpriram a importante função de abrigo confortável, seguro e livre de umidade perto da costa para os moradores dali, que tinham – e ainda tem – na pesca uma importante fonte de renda.
Observação de pássaros
Os mapuches batizaram Chiloé assim porque, em sua língua, a palavra significa “lugar de gaivotas”. O arquipélago é refúgio para mais de 147 espécies de pássaros, algumas delas são aves migratórias que chegam ali nas temporadas de acasalamento, vindas de lugares tão longínquos quanto o Alasca. Há diversos pontos de observação de aves no arquipélago, e a melhor época para vê-las é entre outubro e março, meses de primavera e verão. Diversas agências oferecem passeios do tipo. Em geral, eles te buscam no hotel, entregam um mapa com os pontos visitados e fazem uma explicação das espécies que serão vistas antes de sair a campo. Leve binóculo e câmera fotográfica.
A Bahía Pulao, a 15 km de Castro, é um dos melhores pontos para observação de aves na Ilha Grande, além de oferecer vistas maravilhosas dos arredores e trilhas para caminhadas e bicicleta. Da Estação de Avistamento é possível observar o Cisne de pescoço negro, Pato Colorado, Pato Real e outras 40 espécies. Essa é uma boa opção para quem pretende fazer o passeio de forma independente.
Os pinguins são, sem dúvida, os pássaros mais populares da ilha. Eles chegam a Chiloé vindos da Patagônia e da costa do Peru e do Chile, para se acasalarem e terem seus filhotinhos na baía de Puñihuil. Para avistá-los é preciso contratar um passeio de lancha até o local. Durante a temporada, há diversas saídas durante o dia, mas os passeios estão sujeitos as condições climáticas.
Observação de Baleias
Outro animal simpático a dar as caras por Chiloé é a baleia azul. Vê-las não é tarefa fácil, mas em Chiloé suas chances são boas: o Golfo Corcovado e o nordeste da Ilha de Chiloé são reconhecidas internacionalmente como a área com o mais alto índice de avistamentos de baleias azuis no hemisfério sul. Estima-se que existam mais 300 exemplares nos arredores do arquipélago. As excursões a alto mar saem da baía Puñihuil com a associação de microempresários Ecomarine Puñihuil, que possuem embarcações aptas para o passeio.
Circuito de Igrejas Históricas
Igreja de Santa María de Loreto de Achao
A arquitetura única desenvolvida no arquipélago é marca registrada de Chiloé, e as Igrejas que seguem o estilo chilota são considerados Patrimônio Mundial da Unesco. São mais de 70 templos feitos de tejoles de madeira, uma espécie de escama cortada em diferentes formatos que é característica das construções dali, que foram erguidos durante as missões jesuítas e franciscanas e são um dos poucos exemplares ainda de pé de construções de madeira do século 18 nas Américas. Dessas, 16 constam na lista da Unesco e formam o Circuito de Igrejas Históricas de Chiloé. Nove estão na costa oriental da Ilha Grande, três em Lemuy, duas em Quinchao, uma em Caguach e uma em Chelín.
A mais antiga é a Igreja de Santa María de Loreto de Achao, na ilha de Quinchao, construída em 1730. Essa é também uma das mais interessantes, por seu aspecto meio sombrio. O governo chileno tem um aplicativo que guia os turistas pelo circuito, com mapas e explicações multimídia.
Trilhas pelos Parques de Chiloé
O Parque Nacional de Chiloé e o Parque Tantauco, os dois principais do arquipélago, somam juntos quase 300 km de trilhas junto à exuberante natureza local. Tem caminhada para todos os níveis: baixa, média ou alta dificuldade. Os dois roteiros mais famosos são o Cole Cole, no Parque Nacional Chiloe, que tem como ponto de início a vila de Cucao; e a Abtao, um caminho de 20 km e grande dificuldade que liga Castro aos Pacífico através da cordilheira da costa. Outros pontos de interesse do Parque Nacional são Chanquín, onde fica o lago Cucao, as dunas litorâneas, que se estendem por quilômetros; a Ilha Metalqui, onde habitam leões marinhos, e o lago Huelde.
Já o Parque Tantauco fica no extremo sul da Ilha Grande, próximo a Ancud, tem mais de 10 trilhas, sendo que uma delas percorre toda a extensão do parque.
Mercados
Mercado de Castro, em Chiloé
Grande parte da vida pública de Chiloé ocorre em seus mercados. É ali que os moradores do arquipélago se abastecem de verduras frescas, frutos do mar, queijos, doces e vendem seu típico artesanato de lã. Há diversos pequenos mercados espalhados pelas comunas de Chiloé e que certamente merecem uma visita.
Artesanato vendido no mercado de Dalcahue
O de Dalcahue, que vende apenas artesanato, é o mais famoso deles. Ali você pode se abastecer de bonequinhas de lã, um presente típico da região, e comprar também roupa, mantas, cestas, tudo feito a mão por moradores locais. Domingo o mercado se enche com mais lojas de artesãos que vêm de outras comunas. Uma boa ideia é juntar a visita ao mercado com a Nuestra Señora de los Dolores, que faz parte do circuito histórico, e com um almoço nas tradicionais cocinerias de Dalcahue.
Gastronomia
A comida é uma atração à parte em Chiloé. O prato mais famosos é o curanto, um mistura de frutos do mar, carnes diversas, batatas e outros vegetais cozinhados em um buraco na terra, sobre folhas aromáticas. Se você tiver a oportunidade, não deixe de assistir a preparação do prato, que é quase que um ritual e uma importante tradição do arquipélago.
Preparação do curanto. Foto: Shutterstock
As batatas são onipresentes nas preparações. Ali se cultivam quase 300 variedades do tubérculo. Os frutos do mar também estão muito presentes. Graças a tradição pesqueira da ilha, não faltam mariscos nas sopas, cazuelas, assim como as carnes bovina e de ovelhas, criadas no interior das ilhas.
Leia também: Onde ficar em Chiloé
Do Curanto ao Navegado, as comidas típicas de Chiloé
Quando ir e quanto tempo ficar
Os meses de verão, entre novembro e fevereiro, são a melhor época para visitar Chiloé. É nessa altura do ano que as constantes chuvas da ilha dão um trégua e quando ocorrem as temporadas de observação de pinguins, aves migratórias e baleias azuis. O período também é marcado pelas festas costumbristas, que celebram as tradições típicas das ilhas com muita música, dança e comida. O inverno – entre maio e agosto – é frio e bastante chuvoso (sério, nunca vi tanta água!), por isso, não dá para aproveitar as atividades ao ar livre, que são as grandes atrações do arquipélago.
Para aproveitar melhor as atrações e cultura local sem pressa, recomendo ficar entre quatro dias e uma semana em Chiloé.
Como chegar a Chiloé
Dá para chegar a Chiloé por terra, atravessando para a ilha por uma balsa, ou por ar. Ônibus saindo de Santiago fazem o trajeto de 15 horas até Castro durante a noite e custam cerca de 25.000 pesos chilenos (R$130). Quem preferir quebrar a viagem pode parar em Puerto Montt. Um bom site para pesquisar passagens de ônibus no Chile é o recorrido.cl. Quem vai de carro pode fazer a travessia da balsa por conta própria. Há diversas saídas ao longo do dia e os bilhetes podem ser comprados na hora. Saindo de Puerto Montt, a viagem até Castro dura cerca de quatro horas.
Já os vôos para o arquipélago chegam no aeroporto de Castro. Dá para voar de Santiago ou diretamente de Puerto Montt, já que é inevitável fazer escala ali antes de aterrizar em Chiloé.
Como se locomover em Chiloé
A forma mais prática é alugando um carro. Assim você terá liberdade de ir de um ponto a outro sem depender dos horários e das conexões de transporte público. Como as distâncias na ilha não são pequenas e o deslocamento pode não ser rápido, ter um carro à disposição pode te poupar um bom tempo. Não se preocupe, as estradas estão em boas condições e são bem sinalizadas. Neste texto explicamos como alugar um carro no exterior garantindo o melhor custo/benefício.
Mas quem não quiser dirigir não fica na mão. As cidades e principais pontos turísticos de Chiloé estão conectadas por linhas de ônibus que saem de forma regular. Por isso, o melhor é planejar a estadia para Castro pois ali é de onde parte o maior número de ônibus e também há inúmeras agências de viagem que oferecem passeios com transporte até a porta do seu hotel.
Onde ficar em Chiloé
As comunas de Castro e Ancud são as opções mais práticas para se hospedar em Chiloé. Castro, a capital, oferece mais infraestrutura e está em uma boa posição para explorar os arredores, bem no centro da Ilha Grande. É ali que fica o aeroporto, a maior oferta de hotéis do arquipélago e as pitorescas casas de palafitas. Nas proximidades, estão o mercado de Dalcahue, o Parque Nacional Chiloé e o Parque Tantauco, além do percurso de Igrejas Históricas, outra forte marca da típica arquitetura local. Castro é, sem dúvidas, a melhor opção para quem não pretende alugar um carro, já que é da rodoviária de Castro que sai a maior parte dos ônibus para outras comunas.
Em Castro, indico o hostel Backpacker Chiloé Sur, que possui um bom custo/benefício para quem busca algo econômico e aconchegante, tanto em quartos privados quanto em coletivos. A diária inclui café da manhã regional e os donos, super simpáticos, às vezes preparam drinks e jantar para os hóspedes e adoram bater um bom papo no fim do dia. Você também pode pesquisar outras opções de hotéis em Castro.
Ancud está mais perto para quem chega de balsa e dos pontos de observação de pinguins e baleias, como a baía de Puñihuil e a baía de Caulín, habitat natural de dezenas de espécies de pássaros, o que rendeu ao local o apelido de “El Santuario de las Aves”. Por isso, se você viaja em temporada de observação desses animais, ficar em Ancud também é uma grande ideia. Quem tem a partir de quatro dias pode dividir a hospedagem em dois e ficar parte do tempo em Ancud e parte do tempo em Castro, já que a viagem entre as duas cidades é de mais de uma hora. Encontre hotéis em Ancud.
Imagem destacada: Shutterstock
Inscreva-se na nossa newsletter
Obrigada pelas dicas, Natália!
Vou para o Chile dia 29/04 e volto pra Bh dia 10/05.
Estou muito na dúvida do destino apos uns 3 dias em Santiago.
A dúvida está entre ir para Patagonia e conhecer Torres del Paine e Perito Moreno, ou Pucon, região dos Lagos e Chiloé.
Queria muito ver os animais marinhos dessa ilha, mas pelo seu post, acredito que essa não seja a melhor época em função das chuvas.
Qual a sua opinião?
Obrigada!!!
Ei Flávia, nunca estive na Patagônia, mas acredito que seja muito bonito. Chiloé não tem paisagens tão incríveis. O interessante lá é a história, arquitetura, cultura chilota. E realmente a época de chuva atrapalha muito, talvez seja melhor deixar para visitar na época seca e de apreciação de pássaros…
Abraçøs