Pelas ruelas de um labirinto chinês: a cidade velha de Xangai

Parecia a porta de uma loja, mas era um túnel que levava para o século 15 – ou quase isso. Foi assim que a Cidade Velha de Xangai mostrou, de repente, todo o seu esplendor. Seguimos para lá já sabendo que aquele era um dos pontos altos da viagem, mas eu esperava que as belezas ficassem por conta do Yuyuan, um jardim chinês construído há 500 anos e que tem a fama de ser um dos mais bonitos do país.

Só que a área vai muito além disso, como ficou claro assim que entramos no coração da cidade velha de Xangai. São inúmeras construções e telhados em estilo chinês, restaurantes, lojas de quinquilharias, casas de chá e muitas, muitas opções de comida de rua. Se a ideia for fazer compras ou comer bem e barato, poucos lugares da China são mais interessantes que essas ruas.

Some a tudo isso uma multidão. É que estávamos em pleno Ano Novo chinês, época em que atrações turísticas ficam lotadíssimas e o planeta registra seu maior movimento migratório. É muita gente indo para casa; é muita gente nas ruas. Decorada até dizer chega, a  Cidade Velha estava linda. Em cada esquina, algo que fazia alusão ao Ano Novo chinês e ao cachorro, o animal símbolo do período que começaria em breve. O ano do cachorro começou em 16 de Fevereiro de 2018 e termina em 4 de Fevereiro de 2019, quando será sucedido pelo ano do porco.

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Um pouco de história

Xangai nasceu ali, no século 11. Durantes séculos, foi uma cidade cercada por uma muralha circular de 10 metros de altura e com cinco quilômetros de comprimento, que tinha como objetivo defender seus habitantes de possíveis invasores, principalmente japoneses, que atacaram a região várias vezes.

E as invasões, rebeliões e guerras foram muitas. A do ópio, no século 19, levou aos Tratados Desiguais, em que a China foi forçada a ceder partes de seus territórios para impérios e potências ocidentais. Foi assim que nasceu, do lado de fora dos muros da Cidade Velha de Xangai, a Concessão Francesa, um território governado pela França e onde chineses não eram bem-vindos.

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Mapa da Cidade Velha de Xangai, de 1533 (autor desconhecido/acervo Museu Tung)

A presença francesa logo fez com que a região dentro das muralhas passasse a ser chamada de cidade chinesa ou cidade sul – a cidade norte era a francesa, que tinha prédios em estilo europeu e vida própria. Hoje, é interessante caminhar pelas duas regiões e notar as diferenças, que ainda são evidentes.

As muralhas da velha Xangai resistiram até 1912, quando foram demolidas, por ordem do governo chinês. Duas ruas foram construídas no lugar, ocupando a mesma forma circular da antiga muralha. São as ruas Renmin e Zhonghua. A Concessão Francesa foi aos poucos sendo ocupada por chineses, até que deixou de existir e voltou ao comando da China, após a Segunda Guerra Mundial. Os japoneses, que chegaram a ocupar Xangai e a Cidade Velha durante o conflito, deixaram o local em 1945.

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As atrações da Cidade Velha e o jardim Yu (豫园)

Caminhe sem pressa, entre nas lojinhas, coma de tudo um pouco, tome sucos e chás. Esses são os grandes programas da Cidade Velha de Xangai, uma região que é conhecida também como Yuyuan Bazaar. Mas não deixe de passar por alguns prédios e lugares históricos. O mais importante deles, você já deve ter imaginado, é o jardim Yu (ou Yuyuan).

Foi construído a partir de 1559, durante a dinastia Ming, por ordem do governador Pan Yunduan e como um presente para o pai deste. O jardim é lindíssimo e cheio de lagos, pontes e casas. Até a ponte que dá acesso ao jardim, a partir da Cidade Velha, chama atenção, por conta de seu formato em zigue zague que, garante uma teoria, seria para espantar os maus espíritos.

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Interior do jardim Yu

Ao lado dessa ponte está outro ponto alto da Cidade Velha, a Huxinting, uma casa de chá que funciona no meio do lago artificial há mais de um século. Por fim, visite também o Chenghuangmiao, o principal templo dessa área e também chamado de City God Temple, onde os três protetores de Xangai são celebrados: Huo Guang, Qin Yubo e Chen Huacheng. Eles foram homens de diversas épocas que, por seus papéis na proteção da cidade, foram, depois de mortos, declarados deuses de Xangai.

Durante a ocupação japonesa, de 1937 a 1945, os chineses ergueram um templo na área das concessões estrangeiras, que deixou de existir depois da guerra. Mas o templo original também permaneceu fechado durante a Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung, só voltando ao seu papel em 1994.

Informações importantes: como visitar a Cidade Velha de Xangai

A Cidade Velha de Xangai e o Yu Garden estão a alguns quarteirões do The Bund, a região mais turística e onde ficam muitos dos hotéis. Dá para ir caminhando, mas o metrô te deixa na porta. É só descer na Yuyuan Station, da linha 10.

Se resolver ir de táxi, peça para descer no Yu Garden. É que a Cidade Velha é relativamente grande e assim você garante que o motorista vai te deixar perto do centro dela. Não se esqueça de ter o nome em chinês anotado (豫园). O site Taxi Cauculator ajuda a estimar o valor da corrida (e em geral funciona quase que perfeitamente, pelo menos em Xangai). Certifique-se que o motorista ligou o taxímetro no começo da viagem.

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A entrada na Cidade Velha é de graça, mas é preciso pagar ingresso para conhecer o Yu Garden, que custa entre 40 e 30 yuans, dependendo da época do ano – é mais barato no inverno e na baixa temporada. O jardim abre às 8h30 e fecha entre 17h (de novembro a fevereiro) e 17h30 (de março a outubro).

Reserve pelo menos a metade de um dia para toda a área – só no jardim você gastará duas horas, o restante é para percorrer com calma a Cidade Velha. Se quiser evitar multidões, vá num dia de semana, mas a muvuca vale a pena no Ano Novo chinês. Em dias assim, tome cuidado com seus pertences. A área é segura e muito monitorada pela polícia, mas furtos acontecem.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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