Cisterna da Basílica: A história escondida no subterrâneo de Istambul

Durante sua viagem a Istambul, no ano de 1545, o francês Petter Gyllius ficou intrigado. Com a missão de pesquisar relíquias do passado bizantino da cidade e buscar manuscritos antigos para o Rei da França, ele, um cientista, tradutor e viajante curioso, se hospedava na casa de locais nos arredores do distrito de Eminönü, perto da basílica Hagia Sofia.

Foi numa dessas estadias que ele notou que os moradores da região poderiam acessar água através de buracos no piso de seus porões. Esse fato em si já parecia estranho o bastante para o viajante, mas ele também observou que, vez ou outra, era possível também pescar um peixe através desses buracos.

Gyllius resolveu que precisava esclarecer o mistério de onde vinha essa água e passou a investigar a região. Foi quando ele descobriu, alguns metros abaixo das movimentadas ruas de Istambul, uma das mais impressionantes marcas do passado e da história local: um labirinto de canais, colunas e arcos que era usado para prover água para os edifícios mais importantes do então Império Bizantino. É possível que os habitantes da cidade estivessem conscientes de que havia algo abaixo de suas casas, mas as estruturas das cisternas bizantinas haviam caído no esquecimento há séculos.

Cisterna da Basílica, Istambul

Estima-se que existam centenas dessas cisternas antigas na cidade, mas apenas duas estão abertas para a visitação hoje em dia. A maior e mais importante delas é a Cisterna da Basílica. Construída durante o reinado do Imperador Justiniano, no século 6, para suprir a demanda de água no Grande Palácio, a Cisterna da Basílica é uma surpreendente obra de engenharia que demonstra toda a grandeza do Império Bizantino.

O grande tanque, com 143 metros de comprimento e 65 de largura, é adornado com 336 colunas de mármore que sustentam a estrutura, divididas em 12 fileiras de 28 colunas cada. Ali dentro, era possível armazenar 80 mil metros cúbicos de água que chegava de um centro de distribuição na Floresta de Belgrado, a 19 km da cidade. A água era transportada até o centro de Istambul através de aquedutos que também foram construídos pelo Imperador.

Cisterna da Basílica, Istambul

Muitos séculos se passaram entre o redescobrimento das cisternas e a abertura para a visitação pública. Foi apenas em 1987 que a prefeitura de Istambul resolveu limpar, restaurar e explorar o potencial turístico do local. Hoje, podemos acessar a cisterna através de uma entrada próxima à Hagia Sofia. Após descer um lance de escadas em direção ao subsolo da cidade, é possível explorar a construção através de passarelas construídas em toda sua extensão.

O lugar tem um clima assim meio filme de suspense, meio Indiana Jones. Tanto é que já serviu de cenário para nosso amigo Bond, James Bond, que fugia dos Soviéticos no filme Da Rússia, com Amor (1963). Dá mesmo para se sentir um pouco explorador de ruínas ao caminhar pelos corredores fracamente iluminado por lâmpadas instaladas junto às colunas.

Lá dentro, a temperatura é alguns graus mais baixa que do lado de fora, por isso um casaquinho é bem vindo se você pretende passar um tempo maior no subterrâneo. O chão está sempre molhado e há goteiras aqui e ali, por isso, prefira usar sapatos fechados e que não escorreguem em contato com água.

Cisterna da Basílica - Istambul

Ao fundo e à esquerda fica a principal atração da visita. Duas esculturas de cabeças de medusa servem de base para duas pilastras, uma deles está de cabeça para baixo, a outra deitada de lado. Os motivos pelos quais as medusas foram usadas para sustentar essas duas colunas e por que elas estão posicionadas essa forma permanecem desconhecidos.

Há quem diga que tenha algo a ver com manter maus espíritos e energias longe dali. Outros afirmam que na verdade elas foram reaproveitadas de uma construção do Império Romano. Seja como for, elas ajudam a manter a atmosfera misteriosa do lugar.

Medusas na Basílica da Cisterna - Istambul

Perto das Medusas há uma fonte dos desejos, uma parte da galeria onde você pode jogar uma moeda e fazer um pedido (apesar de que as pessoas fazem isso em qualquer lugar, como vocês podem ver na foto acima). Eu pedi para voltar a Istambul algum dia. E você, o que pediria?

Leia também: Istambul: o que fazer na cidade e outras dicas

Visita à Cisterna da Basílica – Serviço

Endereço: Alemdar Mh.,Yerebatan Cd. 1 (mapa), próximo à estação Sultanahmet de tram.

A Cisterna está aberta para visitação todos os dias, das 9h às 17h30 no inverno e até as 18h30 no verão.

A entrada custa 20 liras (mais ou menos US$ 7).

Mais informações no site oficial.

A viagem a Istambul foi um convite da organização do World Tourism Forum 2016. A visita à Cisterna da Basílica foi feita por escolha minha e por conta própria, fora da programação do evento. 

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Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade. Viajo o mundo contando histórias e provando cervejas locais desde 2010. Além do 360meridianos, também falo de viagens na newsletter Migraciones e no Youtube. Vem trocar uma ideia comigo no Instagram. Você encontra tudo isso e mais um pouco no meu Site Oficial.

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