Você chega ao aeroporto, faz o check-in, passa pelos procedimentos de segurança e embarca. Se isso faz parte da sua rotina, é provável que encare tudo com naturalidade, afinal já se acostumou a voar. Para quem nunca tirou os pés do chão, porém, a experiência pode ser amedrontadora. “O único medo que nós, latinos, confessamos sem vergonha e até com um certo orgulho machista é o medo de avião. Talvez porque seja um medo diferente, que não existe desde nossas origens, como o medo do escuro ou o próprio medo de que se perceba que sentimos medo”, escreveu o colombiano Gabriel García Márquez.
Se nós, passageiros, nos limitamos a entrar no avião, com medo ou não, milhares de técnicos e cientistas trabalham pesado para tornar a aviação mais avançada e segura a cada dia. O que para nós é um mistério, para eles é a rotina. Para tentar entender um pouco mais sobre os bastidores da aviação, resolvemos listar dúvidas que temos no dia a dia. Para não falar bobagem, algo muito comum na internet, o 360meridianos foi atrás de quem entende do assunto: entrevistamos o Lito Sousa, um técnico com 28 anos de experiência na aviação comercial. Ele é um dos autores do ótimo blog Aviões e Músicas.
Existe alguma área do avião que seja menos instável em caso de turbulência?
Ok, provavelmente ninguém gosta de turbulência, mas também não há motivos para pânico, afinal elas fazem parte de qualquer voo e os aviões são projetados para passarem por elas sem o menor problema – só mesmo uma ou outra sacudida. Mas e se você quiser evitar até esses balanços, há algo que possa fazer? Existe algum lugar da aeronave que seja menos instável e por isso mesmo mais indicado para quem não gosta (ou teme) as turbulências?
O Lito responde: “Sim e não. A área imediatamente sobre as asas é onde fica o centro de gravidade do avião. Da mesma maneira que uma gangorra balança bem menos no centro do que nas pontas, assim ocorre no avião. No entanto, a turbulência é um fenômeno diferente, que não faz o nariz do avião subir ou descer, toda a aeronave sofre com os solavancos. Mas para quem tem medo de voar pelos movimentos que o avião faz, os melhores lugares são sobre as asas”.
E vale repetir o mantra: turbulência não derruba avião. O risco real é para o passageiro que desconsidera as orientações do piloto e não coloca o cinto de segurança, afinal uma turbulência pode derrubar passageiros e causar até ferimentos graves. Por isso, use sempre o cinto de segurança.
Quer saber mais sobre turbulências? Vai lá no Aviões e Músicas, que tem um guia completo sobre o assunto.
Por que é preciso manter os cintos afivelados em solo?
Você já sabe que o cinto de segurança é um dos melhores amigos do passageiro e entendeu que é preciso estar com ele afivelado sempre que você estiver sentado, como toda empresa aérea aconselha aos passageiros. Mas por que precisamos manter os cintos afivelados depois do pouso, antes do avião parar completamente?
Num voo entre São Paulo e Belo Horizonte, pela Gol, já vi uma comissária de bordo puxar a orelha de dezenas de passageiros, gente que se levantou antes do avião parar, apesar dos pedidos insistentes dela. O problema é que esse pedido parece, para quem não entende do assunto, bobagem, afinal o risco maior é no ar, certo? Mais ou menos. “Por incrível que pareça é mais seguro e estável estar em voo de cruzeiro do que nos movimentos de solo. Salvo ocorrências de turbulência de céu claro (não detectadas por radar), os voos em alta altitudes são extremamente suaves. Já no solo, o comandante pode ser obrigado a frear a qualquer momento e muita gente iria para o chão”, explica o Lito.
É por isso que comissários de bordo andam com café e bebidas quentes em mãos durante voos de cruzeiro e você pode ir ao banheiro.
Celulares podem mesmo atrapalhar os instrumentos do avião?
A resposta para uma das perguntas mais comuns dos passageiros é simples: não. “Isto ocorreu em raras ocasiões no passado com instrumentos analógicos ou com celulares fora de especificação. Hoje em dia a blindagem dos aviões é muito melhor preparada para interferências, pois o próprio avião já possui redes wi-fi a bordo e até célula de telefonia celular”.
Apesar disso, é preciso respeitar as orientações dos comissários de bordo e desligar os equipamentos eletrônicos, quando eles pedirem isso. Há mais coisas envolvidas no assunto, como o Lito explica aqui.
Por que as luzes são apagadas durante pousos e decolagens noturnas? E por que as janelas são abertas?
Passageiros frequentes talvez já tenham notado que as luzes do avião são apagadas em pousos e decolagens noturnas. Essa medida é um procedimento de segurança e tem a ver com o corpo humano, algo que crianças aprendem lá no ensino fundamental: se você muda de um ambiente claro para um escuro, demora um certo tempo até que sua visão se adeque. Por isso, durante pousos e decolagens noturnas as luzes do avião também são apagadas: se for necessária uma saída rápida da aeronave, a iluminação será a mesma que está do lado de fora, garantindo aos passageiros preciosos segundos. Quer saber mais sobre o assunto? Veja aqui.
As cortinas das janelas também precisam ficar abertas – e não é só para você apreciar a vista da cidade lá de cima. “As cortinas das janelas são abertas para que os comissários possam avaliar qual o melhor lado para evacuação em caso de emergência. As janelas de emergência sempre ficam sobre as asas e se um motor estiver em chamas é preciso ver antes de abrir a janela”, explica o Lito.
No caso de despressurização, por que a indicação é colocar primeiro a máscara de oxigênio e só depois ajudar outra pessoa?
Essa dúvida rolou numa lista do Reddit, supostamente feita por gente da área, como pilotos, comissários de bordo e técnicos. A explicação seria simples: “se as máscaras de oxigênio caírem, você só tem cerca de 15 a 20 segundos antes de desmaiar”. O Lito lembra que o tempo exato varia de acordo com a altitude. De qualquer jeito, é realmente contado em segundos. Por isso, colocar a máscara primeiro em você (e só depois em seus filhos ou em alguém que precise de ajuda), não é egoísmo, mas prudência. “Se você tentar ajudar outra pessoa antes de colocar sua máscara, pode perder a consciência antes de conseguir. Aí, além de não ajudar, você também vai ficar desmaiado”, explica ele.
O avião consegue planar por um longo período mesmo caso os dois motores falhem?
Aviões comercias são projetados para voar mesmo que um dos motores falhe. Ok, isso muita gente sabe, mas o que nem todo mundo faz ideia é que o avião é capaz de planar mesmo sem os dois motores. “Se houver a perda dos dois motores em voo de cruzeiro, o avião pode planar por mais de 120 km se estiver em altitude de 10 mil metros”.
Não é preciso dizer que a perda simultânea de dois motores é algo bastante raro. De qualquer forma, há casos de aviões que voltaram ao solo (e em segurança) mesmo após a perda dos dois motores. Apenas para exemplificar, em 1983 isso aconteceu com um Boeing 767 da Air Canada, que ficou sem combustível no ar. E um caso muito mais recente foi com o A320, da USAirways, que em 2009 fez um pouso de emergência no rio Hudson, em Nova York.
Foto: Greg L, Wikimedia Commons
Como funciona o “procedimento de portas”, aviso que o piloto costuma dar para a tripulação?
Portas em automático. A expressão, muito usada por pilotos, passou a chamar ainda mais atenção dos passageiros depois que entrou para o idioma de jogadores de futebol, que transformaram a expressão em hashtag do Twitter. Mas qual o significado disso?
Segundo o Lito, o tal do cheque de portas indica que “as portas estão armadas para o caso de emergência”. A partir do momento em que o capitão dá o aviso de “portas em automático”, os comissários(as) de bordo acionam o sistema de emergência das portas. Se abertas, significa que houve uma emergência, o que acionará aqueles tobogãs infláveis que a gente vê nos filmes. Quando é dito “portas em manual”, o avião já está parado e com motores desligados. A partir desse momento as portas podem ser abertas com segurança e sem acionar o sistema de emergência.
Vale lembrar também que é impossível abrir as portas de um avião durante um voo. Saiba mais sobre o assunto aqui.
*Imagem destacada: Dave Sizer, Wikimedia Commons.
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sempre pergunto e não tenho respostas satisfatória .PERGUNTO ; ao degolar o piloto faz o nariz do avião suspender , qual é o procedimento ? sei que o vento sustenta as asas , mais o nariz inpinar o que é feito para isto acontecer ?
Talvez nesse blog aqui você consiga a resposta, José:
https://www.avioesemusicas.com/
Abraço.
Olá,
Quando viajei de navio, ao transpor a linha do Equador, os comissários me fizeram descer para a cabine e só sair de lá quando eles mandassem.
Ao viajar de avião, por diversas vezes, em voos internacionais, ao cruzar a linha do Equador os comissários de bordo me mandaram fechar a persiana da janela, e só pude abrir novamente quando eles autorizaram.
Gostaria de saber porque isso?
Obrigada,
Marta
Ei, Marta. Olha, nunca vi isso. Será que não foi por outro motivo?
Abraço.
Bom dia. O mundo da aviação sempre foi um fascínio para mim e por isso, de vez em quando lá aparece alguém a fazer-me perguntas “disto e daquilo”. Mas há uma pergunta que nunca consigo responder, “Porque razão nos voos de noite, mandam fechar as janelas (principalmente nos voos de longo curso)?”. Abraço.
Muito bom! Fiquei bem mais tranquilo depois de saber de tudo isso.
Vocês. Estão de barabem pela coragem adorei tenho receio de avião quero ir a Portugal comprei o livro digital felicidade
Oi, Mara. Espero que goste do livro.
Abraço.
Muito obrigada por compartilhar esse texto elucidativo e objetivo! Vou fazer uma viagem para Austrália sozinha e só viajei de avião uma vez, de Juiz de Fora para BH. Confesso que contei cada segundo dos 40 min (somente!) que durou a viagem e não me senti muito confortável. Achei que balançava muito e, pra completar, tenho medo de altura. Enfim, esses esclarecimentos me ajudaram a ficar um pouco mais tranquila. Espero que um dia eu possa dizer também que encaro uma viagem aérea com naturalidade. Tudo o que é novo, amedronta mesmo.
Exato, Paolla. O problema é a novidade.
Logo logo você se acostuma. 🙂
Boa viagem!
Otimo Post!!!Parabéns…
Obrigado, Eddy.
Abraço.
Ana Paula, a fonte é Arial.
Na verdade a fonte é Lucida Sans!
Qual a fonte desse texto?
Oi, Ana Paula.
O nome do especialista consultado está no final do segundo parágrafo do texto. Ó:
“Para não falar bobagem, algo muito comum na internet, o 360meridianos foi atrás de quem entende do assunto: entrevistamos o Lito Sousa, um técnico com 28 anos de experiência na aviação comercial. Ele é um dos autores do ótimo blog Aviões e Músicas.”
Abraço.