Como é morar em um hostel

“Essa galera é maluca”, era o que eu pensava toda vez que, nas minhas viagens, cruzava com um hóspede permanente de algum hostel. Desde o cara esquisito que não falava com ninguém até as bailarinas americanas que viviam em um quarto para oito em Cingapura. Eu não poderia aguentar isso, eu diria. Hostel por alguns dias está bem, mas por meses? No way, eu diria. Anos mais tarde, cá estou eu: vivendo em um hostel há dois meses, com mais dois meses por vir e, não se espantem, amando a experiência.

É claro que, não fossem as reviravoltas do destino, eu nunca teria terminado aqui. Quando eu estava procurando um lugar para ficar em Buenos Aires, queria dividir um apartamento com alguém, ter um quarto só meu, um lugar para trabalhar tranquila e a liberdade de uma casa. Por isso, reservei por alguns dias um quarto via AirBnB e combinei com o proprietário que pagaria o resto do mês quando chegasse, para me aproveitar da cotação do câmbio paralelo. Mas, na minha cabeça, o pequeno e velho apartamento em San Telmo seria minha única casa na temporada portenha.

Morar em um hostel

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Quando cheguei, começaram os problemas. O quarto era muito menor do que eu havia inferido pelas fotos: ou entrava eu, ou a minha mala. A região de San Telmo na qual estava localizado o apartamento era estranha e me passava uma sensação de insegurança. A casa não tinha janelas, o que é algo muito importante quando se vive com dois gatos. Mas eu danço conforme a música e estava levando tudo de boa até que eu acordei, na manhã do segundo dia, com o corpo coberto por feridas de pulgas. Foi quando eu percebi que não teria como ficar ali.

Desesperada, postei um apelo em grupos do Facebook e o dono do Belgrano Hostel entrou em contato. Eu queria uma saída urgente, para o dia seguinte, e sabia que seria impossível conseguir um apartamento tão rápido. Pode parecer estranho, mas hoje eu sempre digo que as pulgas salvaram minha estadia em Buenos Aires.

A primeira mudança que eu senti foi de região. Belgrano, coladinho com Palermo, é um bairro muito mais charmoso, bonito, limpo e agradável que a região de San Telmo onde eu estava e que o Centro, área onde vivi na minha primeira temporada na cidade. Se eu gostava de Buenos Aires antes, foi em Belgrano que eu me apaixonei pela cidade.

Quarto Coletivo de Hostel

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Prós e contras de morar em um hostel

O principal ganho foi de convivência. No apartamento, eu dificilmente conheceria tantas pessoas quanto eu conheci aqui. Pessoas que hoje são minhas amigas, companheiras de balada, de ver um filme no fim do dia ou de dividir um mate. Pessoas que têm ajudado a tornar minha temporada aqui mais divertida e rica. Gente de todos os cantos do mundo. Muitos hispano-hablantes que me forçam a praticar o idioma de forma verdadeiramente imersiva.

Esse tipo de experiência conseguiu superar os inconvenientes que eu poderia ter previsto. Descobri que a falta de privacidade não me incomodou tanto quanto eu pensei que ia incomodar e que dividir o banheiro é um preço pequeno a se pagar para poder dividir uma garrafa de Quilmes com gente bacana.

Mas, é claro, a forma como a gente escolhe encarar uma situação é decisiva na forma como vamos nos sentir quanto a ela. Por mais que morar em um hostel tenha sido um plano B, decidi viver a experiência de coração aberto. Se eu tivesse me permitido incomodar com o fato de ter mais três pessoas no meu quarto e que às vezes tem gente tomando banho na hora que eu preciso entrar no banheiro, com certeza meu humor e disposição não seriam os mesmos.

Se você vai viver em um hostel, não fique esperando ter o que você teria em um apartamento. Viver com outras pessoas tem suas vantagens e desvantagens. Se você decidir que essa equação compensa, abrace essa decisão.

Quarto de Hostel

Radiokafka / Shutterstock.com

Dicas para escolher um hostel para morar

Escolher um hostel para morar por meses não é o mesmo que escolher um lugar para se hospedar em uma viagem curta. O tipo de propriedade deve mudar bastante. Uma coisa que ajuda com que a minha experiência no Belgrano Hostel seja positiva é que muitas das pessoas que passam por aqui ficam no mínimo por um mês. São estudantes, pessoas em ano sabático, argentinos em busca de uma moradia mais econômica na cidade. Não há gente entrando e saindo o tempo inteiro e acredito isso faça total diferença.

Nem sempre é fácil encontrar uma propriedade com esse perfil, vai depender muito do lugar aonde você vai, mas tente, no mínimo, escolher um hostel em que não tenha festa todos os dias ou que limite o horário da bagunça. Em especial se você precisa trabalhar ou estudar. Além do óbvio incomodo com o barulho, é muito difícil se concentrar se sempre há gente fazendo coisas mais divertidas na área comum.

Lugares com mais cara de casa vão ajudar você a se sentir… bem, em casa. Ter uma cozinha ampla e bem equipada para cozinhar ajuda a evitar que você se renda a comprar porcarias na rua. E, claro, o lugar tem que ser limpo e agradável.

Evite quartos com muitas pessoas. Em geral, mesmo para quem vai ficar pouco tempo, eu sempre aconselho pegar o menor quarto disponível ou o menor que o seu bolso aguentar. Se você vai ficar muito tempo, então, essa dica pode te salvar de muitas situações estressantes. E ter um banheiro dentro do quarto também ajuda bastante a melhorar a experiência. Ah, e um locker é importante, mas um armário inteiro vai tornar sua vida bem mais fácil.

Morar em um hostel via work exchange

Muita gente acaba passando pela experiência de morar em um hostel graças a programas do tipo work exchange, que se popularizaram entre mochileiros em busca de uma viagem mais barata. Mas hoje, essa modalidade de intercâmbio acabou se tornando uma experiência de viagem diferente, barata e flexível que gera troca cultural e uma oportunidade de aprender habilidades novas ou de praticar um idioma.

Os programas mais famosos envolvem justamente trabalhar algumas horas por dia em um hostel em troca da hospedagem. Há vagas para a recepção, limpeza e até para a produção de conteúdo e gerenciamento das mídias sociais. Mas também dá para encontrar oportunidades em projetos ecológicos, de impacto social ou educacionais, ensinando idiomas, fotógrafo ou video maker, além de fazendas orgânicas e até mesmo como instrutor de yoga.

Além da hospedagem, alguns programas oferecem também refeições gratuitas. E o melhor é que esse tipo de experiência se adapta a viagens de qualquer duração, não tem limite de idade e a diversidade de destinos é muito grande. Há diversos sites que oferecem esse tipo de programa. No Worldpackers, parceiro do blog, a membresia custa U$ 49 por ano ou U$ 59 para um casal ou dupla de amigos, e você pode participar de quantos programas quiser durante o período.

No valor, está incluído um seguro que te ajuda a achar outra atividade caso você encontre condições diferentes da combinada ao chegar. E o site é brasileiro, logo, você tem suporte 24 horas em português.

Leitores do 360meridianos ganham U$ 10 dólares de desconto na membresia, basta utilizar o cupom 360MERIDIANOS na hora da compra. Clique aqui para saber mais sobre o programa.

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Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade. Viajo o mundo contando histórias e provando cervejas locais desde 2010. Além do 360meridianos, também falo de viagens na newsletter Migraciones e no Youtube. Vem trocar uma ideia comigo no Instagram. Você encontra tudo isso e mais um pouco no meu Site Oficial.

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30 comentários sobre o texto “Como é morar em um hostel

  1. Olá, Natália!!!

    Estou planejando passar 3 meses em Buenos Aires ano que vem, trabalha on-line, vc acha que consigo trabalhar num hostel? Eles fornecem wi-fi?

    Adorei seu post, muito útil, tô lendo todos…rs..bjus.

    1. Ei Valeria, eu fiz isso por cinco meses! Em geral, fornecem wi-fi sim, não se preocupe! O legal de morar em um hostel em Buenos Aires é que é uma ótima forma de conhecer gente, já que os portenhos são meio fechados…

      Abraços

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