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Como escolher uma mochila de viagem

Eu entrei numa loja e vi um mochilão enorme e barato. Pronto. Saquei meu cartão e fiz a compra, sem nem pensar. Aquele mochilão, o primeiro da minha vida, me acompanhou na África, visitou a Europa, morou comigo na Índia, conheceu as praias paradisíacas da Tailândia e deu uma volta completa ao globo. Mochilão de sorte.

Mas quando voltamos para casa, um ano depois, ele já estava rasgado, sem uma das alças e condições de uso. Agradeci pelo serviços prestados, mas eu já sabia o óbvio: eu tinha comprado uma mochila ruim. Se ela deu conta da missão – mesmo com o transporte, err, carinhoso comum em aeroportos – foi por acaso. Só isso. Eu podia ter ficado sem mochila no meio da viagem.

Um bom planejamento de viagem começa bem antes de você sair de casa e não envolve apenas o destino. Entre outras coisas, é preciso escolher bem a sua bagagem. E, antes de comprar um mochilão, vale responder uma pergunta: eu preciso mesmo de um? Essa é a melhor opção para mim?

Quando a mala é uma escolha melhor

Vou deixar uma coisa clara: você não precisa ter um mochilão para ser mochileiro. Na realidade, o que menos importa é o tipo de bagagem que você vai escolher. Eu já viajei o mundo com uma mochila nas costas. E já passei três meses na Europa com uma mala de rodinhas.

Atualmente, com minhas viagens sendo mais curtas e pelo Brasil, estou adotando a tática da mochila comum (onde vai o computador e a câmera) + uma pequena mala de rodinhas (para as roupas). Com essa configuração, ideal para viagens de até 15 dias, eu normalmente nem despacho bagagem. Já cheguei a viajar também só com a mochila comum, até para fora do país. Só não repito isso porque levo sempre uma quantidade grande de eletrônicos e material fotográfico, o que deixa a mochila muito cheia.

Portanto, o que mais pesa na hora de escolher seu tipo de bagagem é o seu conforto. O mochilão é ideal para viagens mais longas, em que você vai usar muito transporte público e caminhar bastante, ou por regiões onde o calçamento é ruim. A Lu já puxou uma mala de rodinhas pelas ruas de Varanasi, na Índia, e sabe bem a dificuldade que foi. E eu já puxei uma mala de rodinhas pelas ruas da Europa, numa viagem em que eu usava muito transporte público e tinha que escalar as escadas do metrô diariamente, e também não recomendo a experiência para ninguém.

Por outro lado, se sua viagem envolver pouco uso de transporte público, lugares com boa estrutura, não for muito longa ou se você sofrer de dor nas costas, simples: vá de mala de rodinhas. Será mais confortável e suas roupas não vão amassar. De preferência, compre uma mala com quatro rodinhas, daquelas que você nem precisa inclinar para empurrar. Isso tem nome: felicidade.

Como escolher a mala

Foto: Murgermari / Shutterstock.com

Como escolher a mochila de viagem

Tamanho

A primeira coisa é básica: o tamanho da mochila. A não ser que você queira tentar o combo mochila + malinha de rodinhas, é provável que estejamos falando de um mochilão. Mas cuidado com o “ão”. A experiência me mostrou que o melhor é não comprar um mochilão muito grande.

O problema é a chance de você cair em tentação. Se você tiver espaço de sobra na mochila, provavelmente tenderá a enchê-la até o talo. E, não importa o tamanho da sua viagem, isso é sempre um erro. Você pode ficar um ano na estrada. Se levar roupas para duas semanas, você estará bem. Basta usar as lavanderias que você encontrará pelo caminho. Levar mais do que isso é sempre sinônimo de arrependimento e dor nas costas.

O tamanho das mochilas é medido em litros. O mochilão normalmente começa com 40/45 litros e termina com mochilas de 90 litros. Hoje eu tenho uma Quechua de 60 litros. Eu gosto da marca, mas acho que a de 50 litros seria ainda melhor. A Natália Becattini, autora aqui do blog, tem uma desse tamanho e nunca teve problemas em levar as coisas dela. Se faltar espaço, basta ter uma mochila de ataque.

escolher mochila

A mochila de ataque

A mochila de ataque é uma mochila pequena que você usará no dia a dia. Você chega no hotel, deixa o mochilão lá e coloca as coisas importantes – câmera, documentos e uma garrafa d’água, por exemplo – na mochilinha. Se você tiver que despachar a mala, como normalmente acontece com os mochilões, é na mochila de ataque que irão os itens que não podem ser despachados, tipo os seus eletrônicos.

Quando ela for inútil, é só deixá-la vazia e guardá-la dentro do mochilão. Alguns mochilões já vêm com uma mochila de ataque, que pode ser acoplada à mochila maior. Pode valer a pena verificar produtos assim, mas não faça questão de comprar uma que já venha com a mochila de ataque. Qualquer mochila comum (ou bolsa) faz a mesma função. A única diferença é que ela não será acoplada ao mochilão, mas eu raramente uso esse recurso. Normalmente levo a mochilinha na minha frente, pendurada na minha barriga, estilo canguru. E isso em viagens realmente longas ou em que ela é indispensável.

Mochila de viagem

Compartimentos são úteis

Meu primeiro mochilão, aquele que deu a volta ao mundo comigo, tinha poucos compartimentos. E isso era um problema. Quanto mais compartimentos, mais fácil fica separar as roupas. Uma abertura que te permita tirar os itens que estão no fundo da mochila, mesmo sem ter que esvaziar tudo, também é útil. E bolsos laterais, claro, são sempre indispensáveis.  O mochilão não precisa ter mil compartimentos, veja bem, mas uma quantidade razoável ajuda.

Invista direito

Produto bom tem o seu preço. E esse preço não é baixo. Não adianta escolher a mochila mais barata da loja e querer um produto da melhor qualidade. Fora que esse tipo de economia porca quase sempre dá prejuízo, com o produto durando menos que você esperaria e a consequente necessidade de comprar outra mochila. Talvez até no meio da viagem.

Portanto, não tenha medo de gastar. Eu sei que o orçamento de viagem já pega boa parte das suas economias. Por isso mesmo, vale comprar a mochila bem antes da viagem, de forma que ela não se torne um peso no orçamento na véspera da partida (trazendo de volta a danada da tentação, nesse caso para economizar com um produto ruim).

Quer saber se uma marca é boa? Veja a garantia que ela dá.  Bons produtos costumam ter garantia longa.

Os itens opcionais. E bons.

Existem alguns itens que podem tornar sua vida mais fácil. A barrigueira, alça que prende o mochilão à sua barriga e ajuda na distribuição do peso, é um dos mais importantes (e também um dos mais comuns). Antes de comprar, veja se o mochilão pode ser regulado para sua altura e peso. Alças de compressão, que ajudam na organização das roupas, também são úteis. Eu parei de usar depois que conheci os sacos a vácuo, essa maravilha do mundo mochileiro que diminui o tamanho da bagagem, fato útil para aqueles casacos enormes para inverno rigoroso.

E vários mochilões vêm com capa de chuva. Eu não acho que seja tão importante assim, mas tem quem só compre a mochila que vem com esse item. Para mim, no entanto, acaba sendo mais útil para envolver a mochila na hora de despachá-la. E esse é certamente um ponto a favor, já que alças de mochilas se perdem numa frequência enorme, durante o transporte entre o avião e a esteira de bagagem. Outra saída é ver se a mochila permite que as alças sejam guardadas na hora do embarque – nesse caso a mochila fica com a aparência de uma mala.

Por fim, devo dizer que este texto não é pensado para trilheiros, que têm outras demandas. É para o mochileiro urbano.

E você? Qual mochila usa? O que recomenda?

*Fotos do post: Shutterstock.com

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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57 comentários sobre o texto “Como escolher uma mochila de viagem

  1. Bom dia Rafael!

    Obrigada mais uma vez pelo post! São sempre muito úteis.
    Estou iniciando um mochilão com duração de 1 ano agora no final do ano e estou super na dúvida entre: a MOCHILA CURTLO MOUNTAINEER 50+15L LF ou a MOCHILA FORCLAZ 50 EASYFIT (QUECHUA), a diferença de preço entre as duas é de R$250,00 reais.

    O que você me sugere entre elas?

    Obrigada!!!

  2. Adorei o post, super sensato e acho que dá uma luz para quem busca mochilas. Já fiz a mesma coisa de comprar uma mochila por ser grande, e não ver referencias, ela ainda dura, por sorte! Mas as especificações de barrigueira, alças mais largas nos ombros, inxistem nela. Comprei outra bem melhor, de uma marca brasileira bem conceituada e está sendo maravilhosa. Ah se eu tivesse lido isso da primeira vez hehehehe. Mas fiquei na dúvida na idéia de fazer da capa de chuva uma travel bag para despachar, em onibus até que vai, mas avião? Funciona? Pq os roubos a mochilas são sempre imensaos por ser fáceis de abrir. Eu fiz para mim uma especie de bolsa estanque para despachar, me serve muito bem, preferi fazer e até vender para demais pessoas do que comprar uma de 280 reais.

    1. Que bom que gostou, Rildson.

      Sobre a capa de chuva, acho que isso não impede roubos não, mas ajuda que a mochila não estrague caso as alças fiquem soltas, por exemplo. Já estraguei um mochilão assim.

      Abraço.

  3. Oi Rafael! Esse esquema de mochileiro é novidade para mim, sempre viajo com mala (mesmo viagens curtas). Mas, para a nossa volta ao mundo, já entendi que vou ter que me desapegar de umas comodidades (tipo secador de cabelo.. rs!) e viajar com uma mochila. Dai comecei a pesquisar qual mochila seria mais adequada para mim (mulher de 1,58m e 45Kg). Ainda não estou certa, mas gostei bastante da “Deuter 55 + 10 litros + 15 litros (mochila de ataque)”. Achei uma fortuna (R$1.280,00 até agora foi o menor preço), mas vi por ai que essas mochilas boas costumam ser mesmo nessa faixa. Você conhece essa mochila? Abraços

    1. Tenho essa, é grande demais! Sou bem mais alta e pesada do que você, não recomendo. A marca é excelente, mas a mochila e grande e pesada já vazia…

  4. Perfeito esse tema. Já usei um mochilão de 80 litros a primeira vez que fui a Europa.Mas, as vezes o peso incomoda. Descobri algum tempo atrás as malas mochilas,com alças e rodinhas,acho ideal. Com ela,você tem a possibilidade de carregar nas costas ou chão.Hoje viajo sempre com uma mala mochila e uma mochila pequena nas costas.

      1. Eu também tenho uma conversível. Ela é bem pesada (quase 3 kg vazia) mas compensa para mim porque sinto muita dor nas costas com o mochilão. Ela é 50 litros e tem como guardar as alças para embarque. A marca é Nature et Découvertes, mas já vi outras.

        Quanto a mochilão mesmo, eu acho que vale a pena comentar que várias marcas tem mochilões femininos. Eles são mais adaptados ao corpo feminino, a onde a gente tem massa muscular, e não fica aquela alça incomodando os seios. Geralmente tem escrito LF (Lady Fit) ou SL.

  5. Massa Rafa…sempre me perguntei isso e ano que vem farei meu mochilão pela américa do sul e tava na dúvida o que usar. Na verdade ainda estou um pouco, pois sei que na maioria dos lugares que irei, vou ter como arrastar a mala. PORÉM, AMO trilhas…logo provavelmente será a mochila mesmo, e no tamanho tipo o seu (coisa que não tinha nem noção…hahaha)
    Outra coisa, sigo vocês já tem 3 anos e ultimamente os posts tem sido MUITO pra mim! Obrigada por mais um post fantástico!

    1. Que ótimo, Camila! Inclusive, você sabe que a gente é super aberto a receber sugestões de posts, né?

      Se precisar de algo, só falar. Dependendo a gente faz um post pra você mesmo. 🙂

      Abraço.

  6. Obrigada pelas informações, Rafa. Não conhecia o termo “mochila de ataque”, ou a a possibilidade de guardar as alças ao despachar uma mochila. Maravilha, hein?

    Como sempre, a palavra de ordem é conforto! Pra mim, na hora de escolher um mochilão um dos itens fundamentais é ter uma abertura no meio dele, tipo de mala mesmo, sabe? Além daquela no fundo. Sofri pra achar e organizar roupas na última viagem só com a abertura de cima e do fundo. rsrs

  7. Legal o artigo, Rafa!
    Eu tenho alguns anos de experiência como mochileiro e sempre usei essa técnica: mochilão + mochila de ataque.
    Meu mochilão é “ão” mesmo, de 80 litros. Eu queria muito poder viajar só com a mochila de ataque, mas só de levar uma câmera DSLR e um tripé já me impedem =/
    Despachar bagagem é uma enorme perda de tempo, tanto na ida ao aeroporto, quanto na chegada…

    1. Pois é, a câmera ocupa um espaço enorme. Foi por isso, inclusive, que eu mudei de tática nessas viagens curtas, de até 15 dias. Uma mochila normal e uma mala de rodinhas pequena. Sobra espaço na mala e eu quase sempre consigo não despachar. Despachar é tipo a pior parte da viagem. hahaha

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