O mundo é um caldeirão de discordâncias, mas há coisas que causam um inesperado consenso. A certeza que o Brasil é um país caro para o viajante é uma delas, mais unanimidade nacional que samba ou futebol (ainda mais em tempos de 7 x 1).
“É mais barato viajar pela Europa que pelo Brasil”, bradam uns. “Passagens para a Miami são mais baratas que para o nordeste”, garantem outros. “Queria ser rico e poder parar de viajar para Paris e finalmente conhecer a Amazônia”, completam os exagerados.
Nem o governo fica de fora da gritaria. “É caro fazer turismo no Brasil”, disse em 2013 o então ministro do turismo, Gastão Vieira. Flávio Dino, presidente da Embratur, completou: “Temos que levar em conta que o turismo doméstico está muito caro. Conforme o próprio IBGE já registrou, as passagens aéreas e as diárias de hotéis estão ficando cada vez mais caras”.
Eu, que bobo não sou e também tenho bolso, não vou discordar. Sim, viajar pelo Brasil poderia (e deveria) ser muito mais barato. Mas nos últimos meses acumulei experiência em viajar pelo nosso país gastando pouco. E, a melhor parte, você também pode fazer o mesmo.
Foz do Iguaçu
Planejamento: a palavra de ordem
Por mais que o custo do turismo precise cair no Brasil (e que o governo tenha um papel nisso aí), precisamos admitir uma coisa: nós, brasileiros, somos ótimos em planejar viagens para o exterior. O próprio 360 é prova disso. Diariamente recebemos comentários de pessoas que planejam viagens para agosto, setembro ou outubro. Do ano que vem! Gente que se preocupa com detalhes de viagens que serão realizadas daqui a 12 meses (ou mais).
Quando o assunto é conhecer outras terras, a maioria de nós já aprendeu que planejar com antecedência razoável significa economia. Passagens compradas antes são quase sempre mais baratas que as compradas na véspera da viagem, seja no Brasil, na Europa ou na Cochinchina.
Portanto, não adianta deixar janeiro chegar para dizer que as passagens para Fortaleza ou Salvador durante o carnaval estão mais caras que os tickets para a Espanha. Muita gente quer ir para o nordeste no carnaval. Fuja da lei de oferta e procura e garanta sua viagem antes. Isso vale tanto para passagens aéreas quanto para hotéis, como ficará claro nos itens a seguir.
Como achar passagens aéreas baratas no Brasil
Era uma noite qualquer de janeiro. Eu estava de bobeira na internet, procurando passagens para o mês de abril. Não importava o destino, eu só queria viajar naquele mês. E pagando pouco. Foi quando achei uma promoção de passagens nacionais. Tudo por até R$ 250, ida e volta e com taxas, partindo de Belo Horizonte. Repito: tudo. Eu poderia ter comprado passagens para 10 destinos diferentes, em qualquer parte do país, escolhendo as datas e garantindo uma viagem por mês até o fim do ano. Comprei para dois destinos: São Luís (voos diretos) e Maceió (voos com conexão em São Paulo).
Lençóis Maranhenses
Meses depois, outra promoção, dessa vez com milhas aéreas. O Smiles, programa de fidelidade da Gol, prometia passagens nacionais por 4 mil milhas o trecho. Assim que a promoção começou, entrei no site e passei a procurar as passagens que julguei que seriam mais complicadas de conseguir: para Manaus, Belém e Fernando de Noronha. Achei todas que eu quis. Acabei optando pelas duas últimas – estarei em Belém em agosto (paguei R$ 50 de taxas de embarque + 8 mil milhas) e em Fernando de Noronha em setembro (paguei R$ 41 de taxas de embarque + 8 mil milhas).
“Ahh, mas eu não tenho milhas para gastar”, alguém pode dizer. Eu também não tinha até outro dia, pelo menos não com empresas aéreas nacionais. Até dezembro do ano passado eu acumulava milhas só com empresas aéreas estrangeiras. Foi só no fim do ano que eu passei a levar os programas de milhagem nacionais a sério. Em seis meses, eu acumulei cerca de 20 mil milhas no Smiles, a maior parte com gastos do cartão de crédito, e garanti duas viagens. Duas passagens praticamente de graça.
Fernando de Noronha (Ricardo Polisel Alves CC BY 2.0)
Acho que nunca gastei mais de R$ 250, ida e volta e com taxas, para viajar pelo Brasil. Isso inclui também as viagens que fiz para Florianópolis, Porto Alegre e Foz do Iguaçu, entre outras. É lógico que os preços variam de acordo com o estado onde você mora, mas duas atitudes podem garantir passagens aéreas baratas.
1 – Fique de olho nas promoções.
As empresas aéreas fazem promoções em quase todo fim de semana. Saiba quando as promoções vão acontecer. Para isso, leia nosso texto com dicas de como conseguir achar passagens baratas na internet.
Utilizar metabuscadores, como o Kayak e a Expedia, é uma boa forma de pesquisar os preços em todas as empresas e agências de viagem e depois fazer a compra no site da empresa que oferecer a melhor oferta. Alguns deles permitem também que você crie alertas de preços, que avisam quando o valor da tarifa que te interessa caiu.
Além disso, as companhias aéreas têm newsletters. Sabe quando você pede para receber avisos de promoções por e-mail? Faça isso. Sim, sua caixa de entrada vai lotar de e-mails, mas no meio daquilo tudo pode aparecer alguma coisa interessante. O aviso sobre aquela promoção de milhas que me garantiu passagens para Fernando de Noronha por R$ 40 foi dado por e-mail, dias antes da promoção. Se você não quer assinar a newsletter de todas as empresas aéreas nacionais, pelo menos faça isso com a empresa que você mais costuma voar.
Maragogi, Alagoas
E foco no planejamento. Quer viajar no feriado de 7 de setembro, uma segunda-feira? Ou no de 12 de outubro, outra segunda? Você precisa comprar suas passagens agora. Isso vale até para o Natal e para o Ano-Novo. Esta semana o Melhores Destinos falou sobre uma promoção de passagens nacionais com preços a partir de R$ 113, ida e volta, para as festas de fim de ano. Outras promoções ainda virão, mas é importante não deixar a compra para a última hora.
Por fim, saiba quando você gostaria de viajar, aonde você gostaria de ir e quem viajaria com você. Fica mais fácil comprar uma passagem promocional quando você já sabe o que quer. Afinal de contas, passagens promocionais acabam rápido. É uma questão de minutos.
2 – Faça parte de um programa de fidelidade
Escolha o programa de fidelidade da empresa aérea que você costuma voar mais. Depois de estudar as regras e verificar se compensa fazer parte, passe a dar preferência para aquela empresa. E, mais importante, acumule milhas com seu cartão de crédito.
Como as passagens promocionais não costumam dar milhas (ou dão poucas), a maior parte das milhas que você conseguirá juntar virão dos gastos no cartão. Você pode optar por pagar tudo no crédito – até aquele cafezinho – ou apenas as compras maiores. Em todo caso, a cada mês verá seu saldo de milhas crescer. E uma nova viagem surgir.
Por isso, pode compensar usar cartões que garantam mais milhas por dólar gasto, mesmo que a anuidade seja um pouco maior. Bons cartões também podem te garantir um seguro de viagem, embarque preferencial no avião e até acesso liberado às salas VIPs dos aeroportos (normalmente em voos internacionais).
No Brasil, os programas de milhagens são o Smiles, da Gol, o Multiplus, da TAM, o Tudo Azul, da Azul, e o Amigo, da Avianca. Clique nos nomes dos programas para saber as regras de cada um.
Como conseguir hospedagem barata no Brasil
A princípio vale a mesma regra das passagens aéreas: planeje-se. Se você pretende viajar em alta temporada, não deixe para reservar de última hora. Além disso, alguns serviços online de reservas de hotéis não cobram taxas e têm um enorme banco de opções, dos mais variados preços. É o caso do Booking, que é parceiro do 360meridianos.
Assim como as empresas aéreas fazem promoções, os hotéis e hostels também abaixam os preços. Basta saber como procurar. Nós já explicamos como você pode achar hotéis em promoção no Booking, por meio de um mecanismo chamado oferta esperta. Marque a caixinha mostrada na imagem abaixo e a página passará a exibir apenas resultados com desconto.
Veja também: Como achar e escolher hotéis pela internet
Mas a dica mais importante é outra: esteja aberto para diversas opções de hospedagem. A pessoa que está disposta a ficar num hostel, em Londres, pode ser a mesma que faz questão de ficar num resort all inclusive no nordeste. E depois reclama do preço.
Quando eu fiz meu primeiro mochilão pelo Brasil, há cinco anos, as opções de hospedagem econômicas eram bem mais raras e completamente fora da realidade. Cheguei a achar um albergue em Itacaré que cobrava mais por uma cama em dormitório do que qualquer pousadinha da cidade. Em Ouro Preto, também em 2010, havia apenas duas opções de hostels. Hoje são dezenas.
Se ficar em quarto coletivo não é para você, pesquise os preços de pousadas, apartamentos e casas. A Lu, por exemplo, conseguiu achar um apartamento pelo Airbnb em Pernambuco, em janeiro, pela metade do preço dos hotéis. Eu já me hospedei na casa das pessoas algumas vezes. Pode até não ter café da manhã, mas fica bem mais em conta. Inclusive, essa deve ser minha opção em Fernando de Noronha, onde as diárias de hotéis são caríssimas.
Por fim, não dispense modelos gratuitos de hospedagem como o CouchSurfing. Você não paga nada e ainda conhece pessoas interessantes.
Veja também: Como funciona o CouchSurfing
Controle outros gastos
Mês passado eu e a Natália Becattini, autora do blog, estivemos em Ouro Preto. Comemos num restaurante sem balança (e com sobremesa incluída), Depois de muitas repetições, me surpreendi com o preço: R$ 12 por pessoa. É possível comer bem e barato em qualquer cidade, inclusive nas capitais. Basta procurar os restaurantes certos – e não estou falando de uma espelunca com padrão de higiene questionável. Com um pouco mais, cerca de R$ 20, você garante uma ótima refeição em praticamente qualquer lugar.
Pôr do Sol em Ouro Preto, Minas Gerais, no mês passado
É claro que a alimentação em lugares turísticos – praias incluídas – fica mais cara. Nessas horas, não tenha medo de ser farofeiro. Milhares de parisienses levam lanchinhos (e até garrafas de vinho) para beber na beira do Sena. No Brasil ainda impera a ideia de que isso é, sei lá por qual motivo, brega. E assim julgamos quem leva um isopor com cervejas para Marataízes, mas os parisienses seguem com o piquenique numa boa. E economizando uma grana.
A mesma coisa vale para gastos com passeios. Nos Lençóis Maranhenses, nós abusamos deles, que custavam em média R$ 50 por pessoa e duravam cerca de cinco horas. Fizemos um passeio por dia, durante os quatro dias que ficamos lá. Quando o passeio parece ter um preço injusto – caso do trem que liga Ouro Preto e Mariana, em Minas Gerais – pense antes de fazê-lo. Porque, amigos viajantes, ninguém precisa fazer tudo. Deixar uma atração de lado pode não só ser econômico, mas também abrir espaço para uma coisa importante: tempo para relaxar durante a viagem. Pese bem as atrações, museus, igrejas, parques e programas antes de decidir quais você fará durante a viagem.
O valor final da viagem depende, claro, de você. Gastar muito não é um problema, desde que você sinta que o investimento é justo e vale a pena.
Veja também: Viajantes, precisamos descobrir o Brasil
Inscreva-se na nossa newsletter
Muito bom este contéudo e de muito grande valor. Adoro vijar pelo mundo e conhecer novas culturas.
Que bom que gostou, Valeria.
Abraço!
eu já perdi a vontade de viajar pelo brasil, acho melhor guarda dinheiro e viajar para o exterior.
Uma pena, Rose, porque o Brasil é incrível.
Abraço. 🙂
viajar ja e difícil e sem gasta muito fica ainda mais improvável, mais com essas dicas vi que isso e possível obrigada Rafael, estou lendo vários artigos seus e gostando muito
Fico feliz de ajudar, Marta.
Abraço.
Uau! Muito legal seu site!! Era exatamente o que eu estava procurando, viajar economizando.