Meu avião decolou da Cidade do Panamá e, conforme subia rumo ao norte, uma estranha ansiedade tomou conta de mim. Em algumas horas, eu iria desembarcar sozinha em um dos países mais perigosos do mundo. Violência urbana é um aspecto que dificilmente me impressiona em uma viagem. Tendo crescido em uma capital latino-americana, acostumada às manchetes de jornais, sei muito bem que o perigo não se espalha de forma uniforme por todas as ruas e bairros de uma cidade e que, mesmo nos lugares mais perigosos, há vida, há cotidianidade, há muita gente boa disposta a ajudar também. Mas em El Salvador eu não sabia o que iria encontrar. Como um país tão pequeno alcançou uma posição tão alta em um ranking tão triste? Qual era a dimensão e alcance das Maras, as quadrilhas que aterrorizam o país, dentro daquela território diminuto? Eram algumas dúvidas que passavam pela minha cabeça.
Foi descer no aeroporto para ver que esse medo todo era bastante exagerado, como costuma acontecer quando baseamos nossa percepção em manchetes sangrentas. Na saída, perguntei a um segurança onde podia conseguir um táxi credenciado e ele me indicou um motorista que me levou ao hotel, onde ia me encontrar com amigos, por 28 dólares. No longo caminho entre o aeroporto e a região central de San Salvador, percebi que estava em um lugar normal, com seus problemas, claro, mas muito longe do cenário de guerra entre facções, pobreza e desolação que minha imaginação teimava em criar.
“Enquanto vocês continuarem vindo, há esperança para esse país”, me disse um jornalista salvadorenho que eu conheci em um bar de San Salvador, depois de dividirmos algumas garrafas de cerveja. Ele queria saber o que eu tinha achado dali. “Eu sei que a imagem que temos lá fora não é das melhores, mas não somos só isso, temos muito o que mostrar”, desabafou.
Isso ficou ainda mais claro quando nos mudamos para a casa de um artista local, que nos recebeu de couchsurfing. Com ele, viajamos dentro e para fora de San Salvador utilizando transporte público, frequentamos a parte boêmia da cidade e assistimos a um show na rua em uma pequena festa de bairro.
A verdade é que El Salvador, apesar de todas as questões internas que enfrenta, é um país relativamente seguro para turistas e que oferece uma infraestrutura para viajantes que excedeu minhas expectativas. Isso, é claro, não quer dizer que você deve ignorar totalmente as estatísticas e advertências ao explorar o país. Manter-se dentro das rotas pré-desenhadas para esse tipo de atividade, escutar o que dizem os moradores, ter cuidado ao circular pelas cidades e evitar locais ermos são algumas das medidas de segurança que todo viajante por ali deve ter. Se bem que essas dicas se aplicam a muitos lugares do mundo, não é mesmo?
Leia também: 10 coisas que você precisa saber antes de viajar para El Salvador
Crime em El Salvador: as Maras e como isso afeta o turismo
O motivo pelo qual El Salvador figura entre os países mais violentos do mundo é um só: a guerra entre as Maras. Essas quadrilhas se tornaram internacionalmente conhecidas pelas icônicas tatuagens no rosto e pelo corpo – por esse motivo, homens são aconselhados a esconder tatuagens no país, para que não sejam confundidos com membros das quadrilhas.
A raiz de sua existência, você já pode imaginar. El Salvador está bem no meio do corredor do narcotráfico, que transporta drogas e armas da América do Sul para a do Norte, e são as Maras que controlam esse tipo de comércio no país (e também em Honduras e Guatemala).
Esses grupos armados ganharam força na segunda metade dos anos 1990, após uma guerra civil que durou doze anos, muito embora o estado de instabilidade social se arrastasse desde a década de 1970. Com o país em processo de reconstrução, milhares de pessoas sem emprego e uma geração inteira sem qualquer perspectiva de futuro, o crime floresceu em El Salvador.
Até hoje, a maior parte dos assassinatos no país está relacionada às Maras e ao narcotráfico. Formadas por uma forte organização hierárquica – com um grande sentimento de lealdade ao líder – e territorial, têm como objetivo a expansão de sua área de atuação e a consolidação do poder de um grupo sobre outro. Para garantir o domínio de uma região, elas recrutam seus novos membros entre os moradores dali desde a infância. Um bebê nascido em um bairro controlado por uma mara dificilmente terá escapatória que não juntar-se a esse grupo dentro de alguns anos.
Membro da Mara Salvatrucha, em El Salvador. Foto: Shutterstock.
Não por acaso, a maior parte das vítimas de assassinato em El Salvador são homens com idade entre 15 e 29 anos, supostamente envolvidos com esse tipo de quadrilha. Além de bairros específicos da capital San Salvador, outras cidades que apresentam alto índice de violência relacionada às Maras são La Libertad, Soyapango e Usulutan.
Embora seja uma situação preocupante para o salvadorenho, esse tipo de criminalidade não costuma afetar viajantes em geral, já que a violência é direcionada a membros das gangues rivais. O maior risco que você pode correr é o de ir parar no meio de uma disputa entre esses grupos, o que é bastante improvável se você não se meter nas áreas controladas por eles.
Durante meus 20 dias em El Salvador – viajando por áreas nem tão turísticas assim -, não vi sequer um sinal das Maras, assim como não presenciei nenhuma situação estranha ou desconfortável e tampouco me senti insegura em nenhum momento.
El Salvador: por onde é seguro viajar?
As cidades mais seguras de El Salvador estão na Rota das Flores e na zona de surf (El Tunco e Sunzal). Essas são zonas de grande atividade turística, tanto interna quanto externa, e por isso possuem toda a infraestrutura e vigilância necessárias para garantir uma boa experiência aos visitantes.
A capital San Salvador não encanta imediatamente por sua beleza, mas você não encontrará por ali nada que não encontraria em outra capital latino-americana. Basta se manter nas vizinhanças seguras e não sair se metendo em lugares que você não conhece (uma recomendação que poderia ser dada também para o Rio de Janeiro, por exemplo). Há risco de furto e roubo no centro, por isso evite exibir bens de valor ou chamar atenção para si.
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Acabei de passar um mes inteiro em El Salvador!!! Adorei o país, adorei as pessoas!!! Foi incrível!
Recomendo a todos que sim, vão pra la! Só andei de chicken buses, por todo o país e inclusive cruzando fronteiras e foi tranquilo! Sempre encontrando pessoas super amáveis!! Não pule el salvador! Não deixe de comer pupusas! Hahaha você nao vai se arrepender!
El tunco é super turístico, preços mto mais caros! Mas Santa Ana, ahh Santa Ana (que está na Rota das Flores e tem um vulcão lindo), essa sim vc vai sentir como são os salvadorenhos!
Na capital, eles oferecem um free walking tour bem legal!
Em Santa Ana encontrei o hostel que mais gostei da viagem! Pool House Hostel!
Boa viagem galera!
Olá Stella, obrigada por seu relato! El salvador foi a maior boa surpresa que eu tive na minha viagem.
Eu estava pedindo ao universo que encontrasse um artigo que me desse uma luz. Viajei pela Colombia, Panamá, Costa Rica e agora estou indo em direção ao Mexico e quero muito conhecer as belezas dos países no meio do caminho. Mas a mídia fala muito sobre os perigos, ainda mais como uma mulher sozinha e enontrar o seu artigo trouxe a luz que eu precisava. Obrigada! <3 E se quiser manter contato e dividir experiências, meu IG de viagens é @baudacica.
Bjs!! Cecilia 🙂
Ei Cecília,
Obrigada por comentar e qualquer dúvida, estamos aí! Um abraço e que você tenha uma ótima viagem pela América Central!
Vim fazer coro em defesa de El Salvador e dar aquele empurrãozinho caso alguém fique em dúvida se deve ou não visitá-lo – principalmente por conta da segurança. hahaha
Sem dúvida este pequeno país foi minha maior surpresa na América Central. Tanto pelas paisagens de tirar o fôlego, o povo simpático e – quem diria – pela segurança. Em nenhum momento das minhas duas semanas por lá me senti inseguro.
Isso quer dizer que todas as notícias/estatísticas que vemos sobre o país são mentira? Claro que não. Mas exageradas – ao menos as notícias – com certeza. Ou talvez a questão nem é ser exagerada ou não, o grande problema, na minha opinião, é que nos mostram apenas isso e se “esquecem” de tudo o que há de positivo por lá.
As preocupações de segurança que deveríamos ter quando pensamos em viajar para El Salvador são as mesmas para qualquer outro destino da América Latina…
Se me permite, deixo aqui o link para um relato sobre a minha surpresa por lá.
>>> https://www.voltologo.net/el-salvador-uma-agradavel-surpresa/
No mais, acreditem, El Salvador é digno de uma viagem inteira só pra ele!
(Mas se tiver tempo suficiente pra combinar com Guatemala ou Nicarágua pode apostar que será ainda melhor! 🙂 )
Abração!
Ei Murilo, que bacana que você curtiu El Salvador tanto quanto eu. Só saí de lá com vontade de voltar.
Abraços e obrigada por complementar com sua experiência. 🙂