Estrada Real. Esse é o nome resgatado, em 2001, para as rotas turísticas que percorrem alguns dos caminhos mais importantes do Brasil Colônia, que levavam do Rio de Janeiro, então capital, para o interior de Minas Gerais. Era a rota de escoamento do ouro, dos diamantes e de outras riquezas que a Coroa Portuguesa corria para arrancar do Novo Mundo.
Hoje, a Estrada Real é quase sinônimo para road trip: é a maior rota turística do país, com 1630 quilômetros, cortando os estados de Minas, Rio e também São Paulo. Algumas das cidades históricas mais importantes do Brasil fazem parte da Estrada Real, como Ouro Preto, Tiradentes, São João del-Rei e Diamantina, em Minas, e Paraty, no Rio de Janeiro.
Você pode percorrer a Estrada Real de carro, moto, cavalo, bicicleta e a pé – neste caso, a logística é um pouco mais complicada, mas é perfeitamente viável. Caso opte por alugar um veículo, leia aqui como fazer isso garantindo o melhor preço.
Sabará
Os quatro caminhos da Estrada Real: o mapa
Criados no século 17, para facilitar o escoamento do ouro para os portos do Rio, hoje os caminhos da Estrada Real estão divididos em quatro:
- Caminho Velho
Como o nome indica, foram as primeiras estradas abertas pelos portugueses para fazer a ligação entre os portos, no litoral do Rio, e a região das Minas. Na época, os tropeiros (nome dado aos condutores das tropas que levavam mercadorias e pessoas, no lombo de cavalos) precisavam de 60 dias para completar o percurso.
O Caminho Velho da Estrada Real tem 710 quilômetros e liga Ouro Preto à Paraty. No meio dele estão Tiradentes, Caxambu e São João del-Rey, entre outras cidades. Segundo o site oficial da Estrada Real, essa rota costuma ser feita em 15 dias (bike), 48 dias (a pé), 8 dias (carro) e 24 dias (cavalo).
Cerca de 12% do trajeto é por rodovias asfaltadas; o restante é por estradas de terra e trilhas. Para quem não vai motorizado, a maneira mais fácil é fazer a viagem de Ouro Preto para Paraty, já que esse sentido envolve menos descidas.
- Caminho Novo
Outro que se entrega pelo nome: esse é o caminho mais recente da Estrada Real. Mas não é jovenzinho, não – foi idealizado em 1698 e finalizado em 1725. Liga a cidade do Rio de Janeiro e Ouro Preto, passando por Petrópolis, Juiz de Fora, Santos Dumont e Barbacena.
O Caminho Novo da Estrada Real tem 515 quilômetros, sendo que 32 deles são de asfalto, enquanto o restante é de trilhas e estradas de terra. A viagem de carro leva 6 dias, 11 de bicicleta, 18 a cavalo, e 35 a pé. Para quem vai caminhando ou de bike, o melhor é seguir no sentido Minas – Rio, para evitar as subidas.
- Caminho dos Diamantes
Liga Ouro Preto, que foi capital de Minas Gerais antes de Belo Horizonte, e Diamantina, mais ao norte do estado. Passa ainda por Serro e Mariana, totalizando 395 quilômetros. Uma pessoa leva, em média, 4 dias de carro, 8 de bicicleta,14 de cavalo e 27 a pé para fazer esse trajeto. Apenas 26% do Caminho dos Diamantes da Estrada Real é asfaltado.
Se for pedalando ou caminhando, prefira fazer no sentido Diamantina – Ouro Preto.
- Caminho Sabarabuçu
Esse caminho é um tesouro. E o irônico é que nasceu assim: há 300 anos, bandeirantes confundiram o brilho do alto da Serra da Piedade com ouro. Era minério de ferro, mas a busca ajudou a criar um cinturão de cidades históricas ao redor de onde, bem mais tarde, foi construída Belo Horizonte.
A grande vantagem do Caminho de Sabarabuçu é que ele é praticamente um círculo – você conhece Sabará, Caeté, a Serra da Piedade, o Santuário do Caraça, Barão de Cocais, Catas Altas, Mariana, Ouro Preto e Lavras Novas, só para citar algumas das cidades e vilas históricas que se espalham pelo roteiro. E vai percorrer apenas 160 quilômetros, distância que um motorista faz em 2 dias, um ciclista em 4, alguém de cavalo precisa de 6 e caminhando exige 11. Cerca de 77% do Caminho Sabarabuçu envolvem estradas de terra.
Acabou o roteiro? Então pegue a BR 356 e volte de Ouro Preto para BH pela estrada atual. Ou, caso você pretenda dispensar o transporte motorizado, vá primeiro para Ouro Preto e de de lá comece seu caminho, já que nesse sentido há menos descidas.
Catas Altas
Passaporte da Estrada Real
Talvez você já tenha até visto os marcos da Estrada Real – grandes totens que identificam o caminho, principalmente em bifurcações. E que acabam funcionando como pontos turísticos e pausa para fotos, além da ajuda que dão na localização.
Para tentar divulgar o roteiro, o Instituto Estrada Real criou um passaporte para a rota. Basta preencher suas informações no site oficial e depois retirar o documento num dos postos indicados lá. A cada novo local que você conhecer, corra atrás do carimbo!
O passaporte é gratuito – o Instituto Estrada Real pede apenas a doação de um quilo de alimento não perecível.
Algumas das cidades da Estrada Real que você precisa conhecer
Abaixo, listamos algumas das cidades mais importantes da Estrada Real. Não deixe de ler nosso guia com sugestões de roteiros pelas cidades históricas de Minas Gerais, com saídas de Belo Horizonte, do Rio de Janeiro e de São Paulo.
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Ouro Preto
Vamos começar pela mais famosa, tão conhecida que chega até a eclipsar as outras. Antiga capital de Minas e símbolo máximo do ciclo do ouro, Ouro Preto já foi a maior aglomeração da América Latina – em seu auge viviam mais pessoas ali do que em São Paulo, Rio de Janeiro ou Salvador, na mesma época.
Uma multidão que correu para as Minas Gerais em busca de riquezas, alterou o eixo colonial do nordeste para o sudeste e causou uma grande migração de portugueses para o Novo Mundo – foi nessa época que a população brasileira saltou de 300 mil para 3 milhões de pessoas.
Ouro Preto
Percebeu como Ouro Preto era importante? O resultado disso você poderá ver em várias igrejas, um monte de casarões, ruas de pedra e antigas minas de ouro, tudo isso misturado com bares, restaurantes e uma cidade viva, onde funciona uma das maiores universidades do estado.
Em Ouro Preto, já fiquei na Pousada Colonial e na Pousada Mezanino. Outras opções confortáveis são o Grande Hotel de Ouro Preto, a Pousada do Mondego e o Hotel do Teatro.
Ouro Preto
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Mariana
Menos de 15 quilômetros separam Ouro Preto de Mariana, cidade que foi a primeira capital de Minas, fundada há mais de três séculos e que também guarda um centro histórico impressionante. Com tantas igrejas que você terá direito até a irmãs – uma ao lado da outra. Ó:
Igrejas Irmãs de Mariana
Mariana tem muitos casarões, uma mina de ouro interessantíssima, a da Passagem, que fica no meio do caminho entre a cidade e Ouro Preto, e mais algumas igrejas, praças e, claro, restaurantes e bares.
Outro passeio tradicional envolve o percurso de trem entre Ouro Preto e Mariana.
Praça de Mariana
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Lavras Novas
Um distrito de Ouro Preto que está a menos de 20 quilômetros do centro. Charmosa, pequenina e repleta de pousadinhas interessantes, a partir da década de 1990 Lavras Novas se tornou um destino turístico por si só: muita gente que vai lá sequer passa por Ouro Preto.
São turistas que buscam tranquilidade e as cachoeiras da região. Além disso, Lavras Novas também é muito procurada por casais e costuma lotar em datas importantes, como no Dia dos Namorados. O povoado nasceu em 1716.
Lavras Novas
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Congonhas
O Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, merece mesmo o título de Patrimônio da Humanidade, concedido pela UNESCO. O responsável por toda essa fama é um certo Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, que projetou os 12 profetas em pedra-sabão que tornaram o santuário famoso (e também trabalhou em outras cidades mineiras, como Ouro Preto e Sabará).
Congonhas
Além do Santuário, Congonhas tem um museu, casarões, outras igrejas, algumas lojinhas de artesanato e é só. Uma pena: falta pouco para que o turista, que costuma passar por ali somente no esquema bate-volta, resolva ficar. Falta só um centrinho gastronômico interessante, o tipo de coisa que Tiradentes e Ouro Preto fazem bem. Quem sabe um dia, né?
- Veja também: Congonhas, a cidade dos profetas do Aleijadinho
Congonhas
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Tiradentes
Muita gente aponta Tiradentes como a melhor cidade histórica de Minas. É fácil entender o motivo, afinal essa vila tem jeitão de cidade cenográfica, sem construções que mostrem que o tempo passou.
Enquanto lugares como Ouro Preto, Mariana e Sabará até têm mais construções coloniais, têm também mais cara de cidade mesmo, onde pessoas vivem o dia a dia do século 21.
Tiradentes
Fundada em 1702, na época com o nome Santo Antônio do Rio das Mortes, a vila mudou de nome como quem muda de século, até que chegou na homenagem ao mártir da Inconfidência Mineira, que nasceu na Fazenda do Pombal, nessa região.
Tiradentes está a cerca de 200 km de Belo Horizonte, mas colada com outra cidade histórica importante: a distância para São João del-Rei é de apenas 15 km. O passeio de Maria Fumaça entre as duas cidades é uma tradição dessa parte de Minas.
Em Tiradentes, já fiquei na Pousada Villetto, que é simples, mas funciona num casarão colonial e é muito bem localizada. A Pousada Mãe D’Água é outra boa opção.
Tiradentes
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São João Del-Rei
Em geral, quem visita São João Del-Rei considera quase uma obrigação conhecer Tiradentes, mas o contrário nem sempre acontece. A razão é a mesma que citei acima. O clima de cidade cenográfica, de uma bolha parada no tempo, torna Tiradentes tão surreal que muitos resolvem pular São João Del-Rei, que tem um grande centro histórico, mas é uma cidade mais normal, onde passado e presente convivem juntos.
Isso é um erro – vale a pena conhecer São João del-Rei, que foi fundada em 1713, durante a corrida do ouro, e que guarda igrejas, casarões coloniais e ruas de pedra.
Bernardo Gouvêa (Rua das Casas Tortas, São João Del-Rei)
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Prados
Eu ouvi falar de Prados graças ao blog Viaggiando, que tem um baita conteúdo de Minas Gerais. A Camila, autora do blog, se pergunta por que a gente quase não escuta falar dessa cidade histórica que foi fundada em 1704, tem um centro histórico lindo e está pertinho de Tiradentes (menos de 20 km) e São João. Ela mesma conclui: talvez seja exatamente essa proximidade que acaba jogando Prados nas sombras das vizinhas mais famosas.
O pior é que tem muito turista que até conhece Prados, mas nem sabe. E por isso mesmo passa longe do centro histórico. É que Bichinho, povoado colado com Tiradentes e famoso pelo artesanato, é um distrito de Prados. Que tal dar uma esticada até lá na sua próxima passagem pela região?
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Sabará
A distância entre Sabará e Belo Horizonte é tão curta que dá para ir de ônibus urbano, desses que param em pontos normais e custam praticamente o mesmo que uma passagem dentro da cidade. São só 25 quilômetros.
O cartão-postal da cidade é a Igreja de Nossa Senhora do Ó, essa simpática capelinha, mas que tem um interior tão impressionante que muitos historiadores a colocam naquela listinha de igrejas barrocas mais importantes do Brasil.
Igreja de Nossa Senhora do Ó, em Sabará
Mas Sabará tem muitas outras igrejas e casarões, além de dois festivais importantíssimos: o da Jabuticaba, que lota a cidade todo fim de ano, e o de ora-pro-nóbis, hortaliça usada em vários pratos da comida mineira.
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Caeté
Caeté é destino de muito turista belo-horizontino por conta do Tauá, um hotel e centro de convenções que funciona na cidade. Localizada a menos de 60 quilômetros de BH, Caeté tem pelo menos mais dois pontos turísticos importantes. O primeiro é o Santuário de Nossa Senhora da Piedade, que fica no alto da serra de mesmo nome, a quase 1800 metros. O templo foi erguido há 250 anos, após fiéis relatarem o aparecimento de Nossa Senhora no alto da Serra.
A outra atração da cidade é o Observatório Astronômico Frei Rosário, gerenciado pela UFMG. Caeté foi fundada em 1714 e conta ainda com outras igrejas, como a de Nossa Senhora do Bom Sucesso.
Santuário de Nossa Senhora da Piedade, Caeté (Foto: HVL, Wikipedia Commons)
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Catas Altas
Menos de cinco mil pessoas vivem em Catas Altas, vila que foi fundada em 1702, mais um dos povoados que surgiram com a chegada dos bandeirantes que vinham em busca do ouro. Durante quase três séculos, Catas Altas foi um distrito de Santa Bárbara – a emancipação só chegou em 1995.
Catas Altas: (Foto: Lucia Coelho, Wikimédia Commons)
Embora seja pequenina, o cenário oferecido é grandioso: casinhas coloniais cercadas pelo paredão de montanhas da Serra do Caraça. Ali, entre Catas Altas e Santa Bárbara, fica o Famoso Santuário do Caraça, uma das maravilhas da Estrada Real.
Santuário do Caraça (Foto: Dabiene Soutto)
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Santa Bárbara
Já falei do Santuário do Caraça no tópico anterior, então nem vou repetir. Mas Santa Bárbara tem outras atrações. Só a imagem mais conhecida, a de uma rua, com canteiro central, uma igreja à esquerda e outra capelinha ao fundo já deveria ser suficiente para mostrar que Santa Bárbara, também fundada no começo do século 18, merece uma visita.
Matriz de Santa Bárbara (pintura de Mestre Ataíde)
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Diamantina
Diamantina está um pouco mais afastada de BH do que as outras cidades citadas neste texto: são cerca de 300 km. Também declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco, honraria dada a Ouro Preto e Congonhas, Diamantina é outra que nasceu no ciclo do ouro, mas, como o nome indica, o forte por ali eram os diamantes.
Além do centro histórico, cachoeiras e povoados, como Biribiri, recebem os turistas. O cartão-postal da cidade é a Casa da Glória, com seu passadiço inconfundível.
Sobre hospedagem, destaque para o Pouso da Chica e o Hotel Jardim do Vale.
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Saiba tudo o que fazer em Diamantina no nosso guia de viagem completo!
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Serro
Além do famoso queijo do Serro, registrado como Patrimônio Imaterial de Minas Gerais e que leva muita gente a conhecer essa cidade histórica, o que chama atenção é o centro bem preservado e, claro, a Capela de Santa Rita e sua escadaria.
Vai falar que não é motivo suficiente para correr (morro acima) pra lá?
Serro está a 230 km da capital. Além de Dimantina, que está um pouco mais adiante, é uma viagem possível de combinar a viagem com passagens por Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras, distritos de Serro. Leia o nosso roteiro de viagem completo pelo Serro.
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Boa tarde!!!!
Gostaria de saber se indicam alguma empresa/pessoa que leve grupos para caminhadas nestes diversos caminhos que vcs comentam no artigo. Uma amiga e eu queremos fazer um destes caminhos, mas queremos ir em um grupo, pois entendemos ser mais seguro, e também já ter infra estrutura de transporte de mochila maior, reserva prévia de pousada, indicação do caminho, etc.
Não conhecemos nenhuma agência que faça isso para recomendar, mas é fácil e seguro planejar tudo por conta própria.
PARABÉNS, MUITO BOM O RELATO E AS INDICAÇÕES PARA UMA VIAGEM PELAS CIDADES HISTÓRICAS DE MG.
Oi amigos na minha terra a cidade do Ouro tem estrada Real onde passava o Ouro para embarque em Salvador a animal na epoca nao havia estrada.
Serro é maravilhoso, minha família por parte de pai é de lá e incrível que pareça a da minha namorada também é de lá. Moramos em Sabará e sempre que podemos vamos pro serro. Muitas cachoeiras , comida Boa e sossego.
Serro é incrível mesmo!
Abraço e obrigado pelo comentário.
Diamantina tem algo que vicia.
Sempre tenho vontade de voltar lá.
É uma cidade maravilhosa, Roald.
Oi Rafael, A-DO-RE-I o post!!! Muito bom! Parabéns! Muito bom mesmo! Vou com meu filho em julho, de ônibus… alguma dica a + pra mim? Obrigada! Bjs! Sucesso!
Oi, Patrícia. Fico feliz! Obrigado. 🙂
Posso te dar mais dicas, mas me fala quais suas dúvidas.
Abraço.