Quem ama uma velharia levanta a mão. Eu sou fã de ruínas, principalmente aquelas não tão ruínas assim e que permitem a gente ter uma visão melhor sobre as civilizações que viveram mais de dois mil anos antes de nós. Por isso, claro que para mim entrar na Acrópole de Atenas e ver o Parthenon de pertinho foi a máxima das emoções.
É incrível imaginar a história que cada uma daquelas colunas conta. Ainda mais sabendo que a Acrópole e seus prédios já foram residência de reis, lugar de adoração de deuses, igreja, mesquita e até harém. Várias dessas coisas eu não sabia até pisar lá – e agora compartilho com vocês.
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Mitologia
Antes da Atena, deusa da sabedoria, ser padroeira de Atenas, ela disputou a honra com Poseidon. Ambos deram presentes à cidade. Poseidon teria dado a água do mar e um cavalo. Mas Atena não só dominou o cavalo e o transformou em animal doméstico, como também deu ao povo a oliveira, vencendo a disputa. O conflito entre os deuses, assim como o nascimento de Atena, da cabeça de Zeus, são retratados no frontões do Parthenon, que são os espaços triangulares no topo das entradas do prédio. Boa parte das esculturas está hoje no Museu da Acrópole.
Todas as construções da Acrópole foram feitas para adoração dos deuses, principalmente, claro, Atena. O primeiro templo feito em homenagem a ela nem existe mais – foi construído por volta do século 7 a.C.
Origens
A Acrópole como você a visita hoje está ali desde a liderança de Péricles, por volta de 430 e 460 a.C. Isso não quer dizer que não havia nada lá antes. O lugar, cujo nome significa “o ponto mais alto da cidade”, já era ocupado desde o período Neolítico. Sua grandeza, porém, começou na época da ocupação dos reis micênicos, que transformaram a grande rocha numa cidade fortificada.
Com a queda desses reis, a aristocracia de Atenas assumiu o poder numa espécie de conselho. Para acabar com qualquer traço da monarquia, fizeram com que a Acrópode passasse a ser um local somente para adoração dos deuses, sem qualquer função administrativa.
Parthenon
No período que se seguiu, vários templos arcaicos foram construídos, dos quais restam ruínas que podem ser vistas no Museu da Acrópole, na Galeria Arcaica. Não se tornaram ruínas só por conta do tempo. É que houve uma invasão persa em 480 a.C. que arrasou com tudo o que havia lá.
E foi depois do fim da guerra com os persas que começou o período clássico da democracia grega, que a gente estuda na escola. Também foi nessa época que o tal Péricles, que eu citei uns parágrafos acima, tornou-se líder. Ele encomendou dos principais arquitetos e artistas da época a construção do Parthenon, a fim não só de homenagear Atena, mas também proclamar a glória de Atenas para o mundo.
Antigo Templo de Atena
Já estavam ali o Templo de Atenas Nike, que é o primeiro templo construído na Acrópole com estilo iónico, e o Propileu, que são os portões de entrada. Posteriormente, também foi construído o Erecteion, que é o templo que tem aquelas belas colunas em formas femininas, as cariátides. Claro, nesse meio tempo rolou mais uma guerra, dessa vez com os vizinhos de Esparta. Finalmente, quando a Guerra do Peloponeso acabou e Esparta venceu, em 404 a.C, todas as construções pararam e a Acrópole tinha mais ou menos essa disposição:
Essa é a mesma Acrópole que visitamos hoje. Fonte: Visit Ancient Greece
Os impérios iam passando, com Alexandre e depois os Romanos, e a Acrópole continuava lá. Pequenas modificações e algumas reparações, mas o lugar continua sendo um espaço para admirar os deuses e as grandes obras da humanidade.
Isso tudo até que chegou o Império Bizantino e o cristianismo. O imperador Justino não queria saber de paganismo em suas terras e converteu o Parthenon e o Erecteion em igrejas ortodoxas. Ele também mandou fechar todas as escolas de filosofia, provavelmente para o extremo horror de todos os gregos. Depois, vieram as cruzadas. Atenas se tornou um Ducado dos Francos e o pobre Parthenon virou uma catedral católica – ah, eles também fizeram do Propileu um palácio.
Propileu
Mas as transformações não cessaram por aí. Em 1456, o Império Turco Otomano invadiu Atenas. Resultado? O Parthenon tornou-se uma mesquita. E o Erecteion, coitado, virou harém para o sultão. Mais ou menos uns 200 anos mais tarde, numa batalha com Veneza, os turcos foram cercados em Atenas e se refugiaram na Acrópole. O Parthenon virou seu estoque de pólvora. Para o azar de toda a humanidade, foi atingido por fogo e bastante destruído.
Como se não bastasse essa sequência de impérios, dois outros fatores contribuíram muito com a destruição da Acrópole clássica grega. Em primeiro lugar, depois desse conflito com Veneza, os turcos fizeram do lugar uma parte qualquer da cidade. As pessoas ali não só danificavam as construções por sua presença, como também roubavam mármore dos templos.
Para piorar a situação, um embaixador inglês usou da sua posição de poder com o governo turco para conseguir autorização para remover todas as peças de antiguidade que desejasse. E foi o que ele fez durante 20 anos. Até hoje o governo grego e o britânico disputam essas peças (só de pensar nisso me dá uma raivaaaaa, ugh!).
Erecteion
Acrópole de Atenas atualmente
Em 1827 a Grécia finalmente conseguiu sua independência, mas não sem muita revolta e ainda mais destruição de seus monumentos. Imediatamente após a formação do novo governo helênico, iniciou-se um processo de restauração e escavações.
É um processo que se mantém até hoje e certamente continuará nas próximas décadas. O novo Museu da Acrópole, que já citei algumas vezes neste post, reúne boa parte das relíquias que são muito frágeis para ficarem expostas ao sol e chuva. Suas galerias remontam achados de todos os períodos de ocupação da Acrópole. A entrada custa €5.
A Acrópole em si reúne 21 achados arqueológicos, incluindo também o Odeon de Herodes Áticos e o Teatro de Dionísio, que ficam abaixo do topo. O ingresso para visitar tudo custa 30 euros, mas incluí também a entrada em outros monumentos históricos e vale por quatro dias, como eu já contei no post sobre o que fazer em Atenas. Também dá para pagar €20 no ticket que incluí somente a acrópole.
Odeão de Herodes Áticus
Para vocês terem uma noção melhor da disposição das atrações, vejam o mapa abaixo.
Crédito: Madmedea – CC BY-SA 2.0
- Parthenon
- Antigo templo de Atena
- Erecteion
- Estátua de Atena Promacos
- Propileu
- Templo de Atena Nike
- Eleusinion
- Santuário de Artemis Brauronia
- Calcoteca
- Pandroseion
- Arrephorion
- Altar de atena
- Santuário de Zeus Polieus
- Santuário de Pandion
- Odeão de Herodes Áticus
- Stoa de Eumene
- Asclepieion
- Teatro de Dionísio
- Odeão de Pericles
- Teatro de Dionísio
- Aglaureion
Ao seus artigos sobre Atenas foram muito úteis para a minha viagem a essa cidade. Em agosto de 2015 dizia que o bilhete custava 12 euros. Em junho de 2017 custa 30 euros!!! A crise económica na Grécia está a inflacionar preços para os turistas. Obrigada.
Opa, obrigada pela informação Paula!
Vou corrigir os posts.
E fico feliz em ter contribuído com a sua viagem.
Gostei muito de seu post sobre a Acrópole, sou fã da Grécia gostaria muito de conhecer e estou fazendo um trabalho da faculdade sobre Acrópole e você me ajudou bastante. Obrigada!
=D