Desde que me entendo por gente, tenho fascinação por duas coisas: as alturas e o fundo do mar. Ao mesmo tempo que nunca tive medo de altura e sempre fico fascinada em ficar olhando da janela do avião e imaginando como deve ser voar de verdade – sem ter que passar pela sensação de queda livre que envolve paraquedas, asa-delta, etc – também sempre fui dessas que passam horas olhando para aquários e imaginando como deve ser a vida embaixo d’água. Será que existe Atlântida?
Porém, apesar da imensidão do céu e do mar me gerarem tanta curiosidade, eu nunca tratei isso como uma coisa a ser explorada, seja por medo, no caso de voar para além do avião, seja por falta de dinheiro, no caso do mergulho. Ou pelo menos era o que eu achava. Eu sempre achei (e, burra, nunca corri atrás de pesquisar) que para mergulhar você precisava fazer aqueles cursinhos que duram uns dias e te dão um certificado de principiante. Esses cursinhos não são exatamente baratos e o resultado disso é que eu conheci a Tailândia e a Indonésia em 2012 e nem me dei ao trabalho de pesquisar como era mergulhar por lá.
Foi só no ano passado, quando o Rafa foi para Fernando de Noronha e voltou cheio de fotos e histórias de nadar com tartarugas e tubarões que eu aprendi que existe um tipo de mergulho para pessoas pão-duras ou pobres como eu, que não queriam ou poderiam fazer o cursinho PADI ainda, mas queriam ter a experiência de mergulhar. O agora já conhecido também dos nossos leitores: Mergulho de Batismo.
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O resultado disso foi que depois que comprei minha passagem para os Açores, para o final de outubro de 2015, a primeira coisa que eu reservei meu dinheirinho e minhas pesquisas foi para esse tipo de mergulho. Afinal, o arquipélago português é famoso por sua fauna marinha bem diversa e pontos de mergulho interessantes, como áreas de proteção ambiental e naufrágios.
A questão é que eu fui numa época não muito propícia, o outono. Ou seja, nada de pensar que porque é uma ilha vai ser um paraíso tropical o ano inteiro. Eu já fui sabendo do friozinho que estava fazendo, temperaturas em torno dos 17 graus. O problema, porém, era a chuva. A chuva vem a qualquer hora do dia sem nenhum aviso! Juro, em um minuto está tudo azul e no minuto seguinte você está envolvo em neblina e tempestade.
Assim, quando eu escolhi a empresa de mergulho (a Azores Sub) e liguei para eles para combinar o batismo, o que ouvi foi: “olha, quais dias você tem disponíveis, porque estamos dependendo do tempo e só dá para saber na véspera”. É que com chuva e tempo nublado, não há visibilidade no fundo do mar.
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E assim foi, até que no último dia que tínhamos disponível finalmente houve alguma condição para o mergulho. Seria em Vila Franca de Campo, onde há um ilhéu que é área protegida. Quando eu digo alguma condição é porque, como nos outros dias, estava meio nublado, mas a possibilidade de chuva era menor. Então chegamos lá, conversamos com o instrutor e com o casal que também ia mergulhar conosco – o mergulho em si seria individual e o instrutor fica ao seu lado o tempo inteiro. Recebemos as instruções do que fazer embaixo d’água e a roupa de mergulho para vestir.
Bom, a roupa já foi o meu primeiro desafio. Foi uma luta colocar aquele grossa camada de neoprene que ia me salvar do frio à cerca 6 metros abaixo d’água. Depois de sufocar, apertar, sacudir e praticamente virar de cabeça para baixo – sem nenhum exagero – consegui me vestir. E aí lá fomos nós pegar o barquinho e seguir por 15 minutos de um mar que não estava exatamente tranquilão para o ponto do mergulho.
Eu decidi ser a primeira do grupo a descer. Ouvi mais uma vez as instruções sobre como pressionar o nariz e soprar para controlar a pressão, sobre como evitar que a água entrasse na minha máscara, sobre como sinalizar problemas para o instrutor. Coloquei os pesos e capotei para o lado do barco. O que ninguém me preparou, porém, é para como você perde toda a sua noção de sensações quando está lá embaixo.
Tudo bem, eu já sou uma pessoa famosa por minha total falta de coordenação motora, mas embaixo d’água e sob pressão, a confusão foi muita. Eu tentava ir para um lado e ia para o outro. Eu tentava ficar na posição vertical e ia para a horizontal. Eu tentava ficar na horizontal e dava cambalhota. O instrutor e os peixinhos deviam estar olhando para mim e pensando: ALOKA. E o mais complicado é que a única forma de me comunicar era a mímica, então eu não tinha como verbalizar para o moço que eu não estava conseguindo saber o que fazer com as minhas pernas e braços, que pareciam ter ganhado vida própria.
Tudo isso enquanto eu tentava me ajustar ao fato de que: 1. eu estava vários metros abaixo d’água e tinha que lembrar da coisa do nariz. 2. Tinha cardumes de peixes de vários tamanhos, recifes coloridos e até uns polvos escondidos – para todo lado em que eu olhava, era uma coisa diferente. 3. Não só minha coordenação motora estava estranhando tudo, a minha percepção da visão também, porque aquela luz e o filtro da máscara, os sons meios estranhos, tudo estava me fascinado e desorientando, ao mesmo tempo.
Então, eu movia minha perna mais do que deveria, tentando ir de um lado para o outro e ver as coisas que o instrutor calmamente me mostrava. Até que aconteceu o inevitável: eu perdi meu pé de pato! Eu nunca ouvi nenhuma história de gente que foi fazer mergulho de batismo e perdeu o pé de pato, mas é obvio que isso estava destinado a acontecer comigo. E aí que o instrutor ficou dividido entre me largar sozinha e ir buscar o próprio equipamento. Ele meio que decidiu ir buscar o pé de pato (só caiu um) me arrastando junto, porque sem um pé de pato, eu, descoordenada, estava ainda pior.
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Mas deu tudo certo, ele recolocou o treco no meu pé, a gente deu mais umas voltinhas e eu subi para que a próxima pessoa do grupo pudesse descer. E aí eu ainda fiquei um tempo fazendo snorkeling na superfície, o que é bem mais simples, porque sem a pressão da água dava para ver os peixinhos tranquilamente. Mas então começou uma chuva fina e eu voltei para o barco. Pior erro.
Apesar da roupa de neoprene fazer um bom trabalho me isolando do frio da água, uma vez fora da água, aquele trambolho molhado só colaborou para que eu começasse a congelar. A chuva apertou um pouco, o vento ficou muito frio, e o mar mais revolto. Resultado: eu tinha que esperar outras três pessoas mergulharem naquele gelo e ainda comecei a ficar enjoada com o balanço do barco. Foi uma eternidade de muita meditação, tentar pensar em outras coisas, olhar para a paisagem, não olhar para nada, respirar fundo, até que todo mundo voltou e fomos para terra firme.
E vocês lembram como eu disse que foi difícil colocar o diabo da roupa? Bom, tirar ela molhada e com frio foi 700x mais complicado. Teve uma hora que eu cheguei a considerar que aquilo faria parte do meu corpo para todo sempre #dramática. Então, tudo acabou. Foi só quando eu já estava quentinha no carro voltando para o hotel que eu consegui refletir e pensar na experiência. Yeey, eu tinha mergulhado! E mesmo não sendo a experiência perfeita, praticamente-a-pequena-sereia como o Rafa teve, foi muito mágico e desafiador.
Eu certamente faria novamente e até mesmo pagaria o cursinho, mas numa época menos fria, quando eu possa usar menos daquela roupa sufocante.
ps. Meu Mergulho de Batismo nos Açores custou 70 euros, incluíndo tudo (aluguel do equipamento, instrutor, mergulho, etc). A melhor época do ano para mergulhar lá (e provavelmente no resto da Europa) é no verão.
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*A imagem destacada é do Shutterstock. Eu não tenho nenhuma foto do meu mergulho.
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gente ri mto com esse post e me vi totalmente nele!!! Amo todas as dicas de voces!!! Parabens!!
Estou pensando em fazer… acho que vou ser ainda mais atrapalhada !!
kkkkkkkkkkkkkkk eu ri eternamente com seu post. Muito, muito bom.
Eu ainda não tenho nenhum mergulho em mente nos próximos anos porque sou medrosa. Mas super me diverti com seu post hehe
Um dia crio coragem como você rs. Aliás, preciso aprender a nadar antes -.-
hahahahaha obrigada por comentar!