Um visitante desavisado do século 21 talvez nunca se desse conta, mas chegar em Ravena é pisar na antiga capital do Império Romano entre os anos de 402 e 476 d.C. Dessa época, restaram oito monumentos tombados pela Unesco como Patrimônios Mundiais e os famosos e bem preservados mosaicos que fazem a fama da cidade. Para que você não perca nadinha de tudo o que fazer em Ravena, criamos esse guia completo sobre a cidade.
A curiosa história de Ravena
Agostinho era quase um adolescente normal. Aos 15 anos, achava que os seus problemas eram os piores do mundo, aquele tipo de coisa que entra na categoria das sem solução. A diferença é que, no caso dele, os problemas eram mesmo sérios. Tudo culpa do pai, que forçou o garoto a ser quem ele não era. O menino vivia em Ravena, cidade do norte da Itália conhecida por ter belíssimos mosaicos, e era mimado como um rei. Literalmente.
Odoacro, homem feito e arqui-inimigo de Agostinho, já chegou chutando a porta e humilhando o garoto. O tal do Agostinho – ou melhor, Flávio Rômulo Augusto – já era chamado pelo diminutivo como uma forma de humilhação, afinal não é todo dia que o Império Romano tem um governante adolescente. Depois disso então…
Agostinho foi o último Imperador Romano. Ao ser deposto por Odoacro, líder de uma tribo germânica, o mundo conheceu um gigantesco ponto final – naquele dia terminava o Império Romano. “Mas o que isso tem a ver com um blog de viagens?”, você pode perguntar. Tudo.
Ilustração de Charlotte Mary Yonge mostra Rômulo Augusto renunciando ao trono
É impossível contar a história do mundo sem falar de cidades como Babilônia, Roma e Ravena. Se você nunca tinha ouvido falar da última, não se espante – essa pequena cidade da Emília Romana tem apenas 160 mil habitantes e passa mesmo longe de estar no topo do mapa turístico nacional. Mesmo assim, a importância histórica de Ravena já deveria ser suficiente para fazer qualquer viajante passar pelo menos um dia por lá.
Se você fizer uma lista das datas mais importantes da História (com H maiúsculo) certamente vai passar pelo dia 4 de setembro de 476 d.C., o dia da queda de Agostinho. Ao presenciar a queda do último líder do Império Romano, as ruas de Ravena testemunharam também o final da Idade Antiga. Ou seja: foi em Ravena que a Idade Média começou, em 476 d.C. Se isso não te convenceu de que a cidade vale uma visita, então nada mais vai importar. Nem os tais mosaicos.
Como muitas cidades da região, é complicado traçar a origem de Ravena, que já é habitada há milênios. O certo é que em 89 a.C. Ravena se tornou parte dos domínios romanos, mais uma vila naquilo que em breve se tornaria um Império. E teria sido uma vila como outra qualquer, não fosse um detalhe: a cidade foi a última capital romana, entre 402 e 476 d.C.
Já contamos aqui no blog que Roma não foi a única capital do Império Romano. Na fase final, quando o poder já estava dividido entre Ocidente e Oriente, Milão era a sede dos reis do ocidente, enquanto Constantinopla, atual Istambul, recebia os reis do oriente. Quando até Milão foi ameaçada pelos inimigos, a capital do ocidente fez as malas e se mudou de novo, dessa vez para Ravena. Após a queda do último Imperador Romano, Ravena se tornou capital do Reino da Itália, até 533 d.C. Essa fase durou até a chegada dos bizantinos, que conquistaram a região e fizeram de Ravena sede do governo. É por isso que a cidade tem um grande número de prédios históricos, igrejas e mosaicos. Afinal de contas, casa de reis precisa ter um pouquinho de luxo. Hoje, Ravena tem oito monumentos que foram declarados Patrimônio Mundial pela Unesco. Agora que você já sabe tudo que rolou por lá, tem ainda mais motivos para incluir a cidade no seu roteiro.
O que fazer em Ravena: os principais pontos turísticos
Cerca de uma hora de viagem separa a Bolonha, a capital da Emília Romana de Ravena. Uma vez na cidade, é quase impossível se perder – a estação de trem fica bem perto dos principais pontos turísticos. A maior parte do centro histórico de Ravena é fechado para o trânsito de carros, o que deixa tudo mais fácil para pedestres e ciclistas. Veja a lista completa com tudo o que fazer em Ravena e, logo abaixo, uma sugestão de roteiro pela cidade:
- Basílica do Santo Apolinário Novo
- sepultura de Dante Alighieri
- Mausoléu de Teodorico e Gala Placídia
- Batistério Neoniano
- Batistério Ariano
- Os mosaicos da Capela Episcopal, o maior conjunto da cidade
- Igreja de São Vital
- Basílica do Santo Apolinário em Classe
Dos monumentos mais famosos, um dos mais concorridos é a Basílica do Santo Apolinário Novo. Construído para ser a capela de um palácio, esse templo foi consagrado há quase 1500 anos. De lá pra cá, virou queridinho dos turistas, tudo por culpa dos mosaicos que decoram a igreja. Eles são tão impressionantes que, diz a lenda, os fiéis não conseguiam rezar – logo se distraiam com a beleza dos mosaicos e deixavam Deus pra lá. Isso teria motivado uma ordem do Papa Gregório para cobrir os mosaicos, acabando com a festa dos crentes, que voltaram a orar. Como essa igreja foi planejada num momento importantíssimo da História (após a queda do Império Romano do Ocidente), os mosaicos da Basílica do Santo Apolinário são uma mistura da cultura ocidental com oriental.
Saindo da basílica, é hora de visitar uma tumba. Ou melhor, várias. Começando pela sepultura de Dante Alighieri, que foi exilado de Florença e morreu em Ravena. Também vale visitar o Mausoléu de Teodorico, rei dos ostrogodos e da Itália, e o de Gala Placídia, frequentemente apontado como aquilo que há de mais legal em Ravena. É uma construção do tempo dos romanos: Gala Placídia foi Imperatriz Romana e uma mulher poderosa, fatos comprovados pelo mausoléu dela, feito em forma de cruz e também repleto de mosaicos que ilustram importantes momentos da fé cristã.
Outro prédio religioso de Ravena é o Batistério Neoniano, a mais antiga de todas as construções históricas da cidade. Um batistério é um prédio, normalmente construído ao lado de uma igreja, dedicado somente ao bastimo. Por fora, uma construção simples, de tijolos. Por dentro, o luxo em forma de mosaicos. Na cúpula, um Jesus Cristo barbudo é batizado por João Batista, no rio Jordão.
Ravena tem outra sala de bastimo, o Batistério Ariano. Novamente, Jesus e João Batista são as estrelas dos mosaicos, só que dessa vez o messias aparece sem barba e com feições femininas (oi?). Ao lado dele, um Deus mais para Zeus do que para o Todo Poderoso dos cristãos. Ao redor deles, os 12 apóstolos.
Foto: Georges Jansoone, Wikimedia Commons
O menor conjunto de mosaicos está na Capela Episcopal. Já a Igreja de São Vital é outro cartão-postal clássico de Ravena. Dentro dela, encontramos o que? Mais mosaicos, claro. Esses contam histórias do Velho Testamento, começando por Abraão e Isaque, passando por Moisés até a formação das 12 tribos de Israel.
Mas legal mesmo é analisar com atenção o mosaicos mais famoso da Igreja. Um homem cercado por seus súditos é retratado dentro de uma igreja cristã. Só que não é Jesus Cristo ou um apóstolo, mas Justiniano, imperador bizantino e um dos patrocinadores da obra. Segundo a Wikipedia, os mosaicos da Igreja de São Vital são alguns dos raros exemplos dessa arte do Império Bizantino que sobreviveram intactos aos séculos.
Dos oito monumentos mais importantes da região de Ravena, só não visitamos a Basílica do Santo Apolinário em Classe. Essa tal de “Classe” é uma vila a quatro quilômetros de Ravena, bem perto do mar. Por ser mais distante, não tivemos tempo de dar um pulo lá, mas parece que também vale a visita.
Como chegar em Ravena
A grande cidade mais próxima é Bolonha, mas Florença e Veneza também estão pertinho: cerca de duas horas de trem. A localização faz de Ravena um destino ideal para uma viagem de bate e volta ou mesmo uma parada estratégica no deslocamento entre duas cidades italianas.
Em um dia inteiro é possível conferir todos os mosaicos e monumentos importantes de Ravena. E ainda vai sobrar tempo, o que é ótimo. Aproveite para almoçar num dos restaurantes da cidade, tomar um gelato ou simplesmente vagar pelas ruas do Centro Histórico. É possível comprar as entradas dos monumentos em conjunto, o que deixa o preço final mais interessante. Mas uma coisa eu te garanto: por mais que os mosaicos sejam incríveis, o mais legal é andar por aquelas ruas sabendo que ali rolou a história do Agostinho e o começo da Idade Média. Pelo menos foi assim para mim.
Onde ficar em Ravena
Se você se encantar pelas ruelas e construções históricos de Ravena, pode valer a pena passar uma noite na cidade para aproveitar melhor os restaurantes, bares e gelaterias que encontrar por lá. Nesse caso, fique dentro do centro histórico! Apesar de você conseguir ver tudo a pé, as ruas fechadas no centro são muito charmosas e interessantes. Veja todas as opções de hostels e hotéis em Ravena.
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Meu avõ nasceu em Ravens -Comune di Faenza,tenho todos os documentos dele é gostaria e solicitar minha cidadania italiana ,como descendente .
Você pode me dar uma dica que seja mais rápido??
Se for possível ,agradeço
Obrigada
MARLY Maria Tassinari
marly@adimovel.com.br
Cheguei de Ravena, pena não ter conhecido este Blog antes. Adoramos a cidade, 5 dias de muita visita e queixos caidos.
parabéns! adorei o post e viajar ‘na carona’ contigo.. virei seguidora! abraços
Que bom que gostou, Adriana.
Abraço.
Eu estou literalmente viajando na história do Agostinho e nas fotos dos Moisacos.
Realmente fascinante!!
Eu adoro história. Natália. Inclusive, fiz vestibular pra história uma vez, antes de encarar comunicação. 🙂
Ravena é uma cidade bem interessante.
Bom dia pra você.
Adoro o 360 meridianos, tem sido uma mão na roda para me programar para minha próxima viagem. Mas estou com uma dúvida sobre Ravena, tenho tentado achar o tal trem que vocês falam para fazer bate e volta, mas só tem 1 horário de trem saindo de Bolonha para Ravena e mesmo assim num horário horrível! Como vocês fizeram?
obrigada
Julia
Oi, Julia.
Nós simplesmente fomos até a estação de trens de Bolonha e pegamos o trem. São vários por dia e não é necessário reservar antes.
Se você ficar com muito receio, pode ir na estação e comprar o ticket no dia que você chegar em Bolonha.
Abraço!