*Por Leonardo Motta
Ainda no trem, a caminho do onsen, já começou a bater uma certa apreensão, afinal ficar completamente nu na frente de estranhos não é algo se que faz todo dia (pelo menos, não a maioria de nós mortais). “Será que estou fora de forma?” ou “será que vão reparar em mim… lá?”. A resposta: ninguém liga, mesmo, já que a nudez há séculos faz parte dessa experiência.
Mas que experiência é essa? Onsen é a palavra japonesa para “água termal” e hoje é o nome usado para as casas de banho quente, naturais ou artificiais, espalhadas pelo país. Existentes há séculos – eles surgiram nos locais de água termal vulcânica legítima, com piscinas naturais usadas pelos efeitos medicinais dos elementos químicos presentes, sempre acontecendo ao ar livre.
Com o tempo a coisa foi se transformando, surgiram onsens privados, visitantes passaram a pagar pelo uso do banho e apareceram piscinas artificiais, aquecidas eletricamente. O diferencial da prática de banho em águas termais no Japão para as encontradas em Goiás ou no sul de Minas é o fato de que no extremo oriente fica-se nu ao entrar na água.
Alguns são ultra modernos, com serviço de massagistas, praças de alimentação e áreas de descanso. Outros são mais acolhedores, montados por famílias, só com um vestiário e as piscinas. Para quem, como eu, não conhecia muito da “cultura onsen”, o melhor foi visitar os grandes antes, aproveitando um pouquinho das comidas e massagens, para render um dia todo de relaxamento e não só uma atividade pós-trabalho como muitos japoneses fazem, afinal você é turista e não um local.
Porém, talvez mais importante do que saber o que são, é saber como proceder dentro de um. É claro que poderíamos simplesmente entrar de sunga ou biquíni, mas a norma é não usar roupa alguma.
Outro ponto é que nada sexual é sequer pensado. Os japoneses podem ser bem enfáticos em suas manias sexuais, elegendo vários lugares para usufruir delas, mas o onsen não é um deles. Geralmente, crianças acompanham os pais, como num clube, e tem sido cada vez mais comum que exista uma área exclusiva para homens e outra para mulheres. Não se trata de uma sauna, coisa já mais difundida no ocidente, especialmente na cultura gay, e sim uma casa de banho.
Oobuka Onsen (Foto: Divulgação)
Também vale ressaltar que este é um dos momentos em que a cultura japonesa mais careta transparece, nesse caso nem mesmo com o disfarce de um sorriso. Muitos onsen não aceitam visitantes com tatuagens. O motivo dado é o medo da entrada de membros da máfia japonesa yakusa, famosos pelo uso delas. Mas japoneses são certinhos, tradicionais, e esse é um espaço em que eles vão com a família, então nada mais coerente que eles sejam rígidos como bem entenderem (por mais tolo que isso possa parecer). Para quem tem tatuagens pequenas, a orientação é só tampar com um esparadrapo, mas aqueles que têm desenhos maiores, melhor repensar o roteiro.
Tomados os devidos cuidados e avisos, hora de curtir. Você paga a admissão logo na entrada e em seguida já guarda a roupa num vestiário. Nos onsen maiores, geralmente até se mantém as peças íntimas, e coloca-se a yukata, um roupão japonês feito de um tecido fino, como um quimono de verão, para poder transitar nas praças de alimentação (quando elas existirem) e marcar massagens, antes de nadar. Mas, já nos menores, não há perda de tempo e logo homens e mulheres se separam, para tirarmos tudo e ficarmos como viemos ao mundo, com somente uma toalha de rosto em mãos.
Onsen (Foto: Creative Commons)
Mas não se pode simplesmente entrar na água e pronto, antes devemos tomar banho. É claro que tomar banho por lá não só passar na ducha, mas se limpar nos banhos japoneses mesmo, aquele em que se senta em um banco de madeira e se enxágua com um chuveiro em mangueira e uma cumbuca, em frente a uma torneira. É, nada high tech.
Onsen (Foto: Creative Commons)
O processo é simples: você se senta, se enxágua, se ensaboa e depois se enxágua novamente. Mas é preciso se lavar bem lavado, do tipo “atrás da orelha e entre os dedos”, pois a ideia é estar limpíssimo para entrar na água quente. O sabonete e shampoo tendem a ficar por conta da casa, mas onsens menores geralmente cobram. Antes de levantar, enxágue bem o banco e cumbuca que usou.
Já limpo (e já melhor acostumado a essa nudez coletiva) é hora de entrar na água. As piscinas elétricas, artificiais, que ficam do lado de dentro, podem ser reguladas, então a temperatura fica mais amena, coisa em torno dos 38º C. Mas as naturais tendem a ser mais quentes, então não espere nada com menos de 40ºC.
Num primeiro momento, você se sente um ovo cozinhando, sem saber o que fazer. Mas logo logo o calor não incomoda tanto e o relaxamento é inevitável. Você pode meditar, bater um papo ou mesmo cochilar. Os olhos ficam pesados, os movimentos lerdos, num processo de quase limpeza física. Massageie aquela lombar ou aquele músculo que fisgou no voo até o Japão. Com certeza você sairá da água mais aliviado.
Foto: Markmark28, Wikimedia Commons
Seja 40 minutos dentro d’água ou duas horas, tome só um cuidado. Ao se levantar após tanto tempo na inércia, é comum a tontura, então nada de sair correndo esbaforido. Volte ao vestiário, se vista, coma, faça uma massagem, ou que preferir. O importante é que não seja nada que te exija voltar a um ritmo acelerado.
Daí o motivo dessa me parecer uma atividade japonesa como poucas outras – a prática de ir a um local pensado exclusivamente para se entrar na água quente, não fazer praticamente nada e deixar o calor fazer sua mágica relaxante, num país em que tudo (prédios, ruas, metrôs, comidas, sorrisos, brinquedos) pode ser superlativo (o mais alto, a mais movimentada, o mais cheio). Além disso, a coisa acontece de uma forma cotidiana: o empresário que sai do trabalho e quer dar um cochilo enfiado na água, uma família que se planeja para ir no fim de semana…
Espalhados pelo país inteiro, os onsen muitas vezes ficam dentro de ryokans, que são hotéis tradicionalmente japoneses, com chão de tatame e futon ao invés de uma cama, o que oferece dois em um. Abaixo uma lista de dois (um em Tóquio e um em Kyoto) que valem a pena conferir. Mas é possível também descobrir um que seja mais do seu gosto clicando aqui e aqui. Além disso, a Time Out fez uma bela seleção também.
O-Edo Monogotari Onsen
Endereço: Rua 2-57 Aomi (na ilha de Odaiba), Tóquio.
Horários: 11h às 21h
Preços: adultos ¥1900-2900, crianças ¥1400-1600
Telefone: +81 3 5500 1126
Site: www.ooedoonsen.jp/higaeri/english/index.html
Funaoka Onsen
Endereço: Rua 82-1 Murasakino Minamifunaokacho , Kyoto
Horários: 15h à 1h am (seg-sat), 8h à 1h am (dom e feriados)
Preços: ¥410
Telefone: +81 75-441-3735
Site: https://funaokaonsen.info/
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*Este texto foi escrito por Leonardo Motta. Jornalista, ele está sempre de olho no cinema e no mapa da próxima cidade que vai conhecer. Agradecemos ao Leo pelo relato.
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Que matéria linda do blog, sou fotógrafo de casamentos no Brasil e meu maior sonho é conhecer o Japão. Obrigado por matérias assim.
No caso de quem é todo tatuado nem rola, né? Não tem nenhum que permita estrangeiros tatuados? 🙁
Eu não senti constrangimento em tomar banho nua, escolhi um horário mais vazio. Fiquei sozinha 1 hora.
Deve ser relaxante so e ruim ficar pelado na frente dos outros
Nossa parece muito bom mas a parte mais ruim é de entrar pelada
Ah n fala isso… A beleza da mulher é fenomenal 🙂