A princesa grega Pyrene dá seu nome para uma cidade histórica no coração de Goiás. A ligação entre a mitologia e Pirenópolis não é simples, mas vamos devagarzinho que a história aparece: Pyrene era filha do Rei Bebrycius, que resolveu ser hospitaleiro e recebeu Hércules durante suas andanças para completar os 12 trabalhos. Só que isso foi uma péssima ideia, já que Hércules estuprou Pyrene, que engravidou, deu à luz a uma serpente, fugiu (morrendo de medo) para a floresta e lá acabou morrendo.
Ao saber da história, Hércules se encheu de remorso – agora não adianta, né? – e resolveu fazer uma tumba para Pyrene. Essa tumba pode ser vista até os dias de hoje, mas atende por outro nome: são os Pirineus, uma cadeia de montanha que fica na fronteira da França com a Espanha, está pertinho de Barcelona e repleta de estações de esqui.
Seguiu a história até aqui? Ótimo. Então senta, porque a confusão continua, mas agora com um jeitão, digamos, menos mitológico. Em 1727, quando a corrida do ouro chegou no que hoje é o estado de Goiás, um povoado foi formado para explorar as riquezas da região. Era Minas de Nossa Senhora do Rosário Meia Ponte, um nome enorme e pouco funcional, eu sei, e que por isso mesmo foi encurtado para Meia Ponte.
Até que chegaram os imigrantes espanhóis, possivelmente da região da Catalunha. Foram eles que batizaram uma serra ao redor do povoado de, advinha, Pirenéus, uma homenagem à cordilheira de montanhas em que eles tinham vivido boa parte da vida. O próximo passo, você também já deve imaginado, foi a mudança do nome do povoado mais próximo. Foi assim que Meia Ponte virou Pirenópolis, ou “a cidade dos Pirineus”. E assim Pyrene, a princesa estuprada por Hércules e que virou cordilheira no Velho Continente, deu seu nome também para uma cidade do Planalto Central.
Fim da mitologia, mas o começo da nossa viagem. Outra coisa igualmente interessante sobre Pirenópolis é como ela é desconhecida pelo viajante brasileiro. Veja bem: os turistas de Brasília e de Goiânia conhecem (e bem) a cidade, que está estrategicamente localizada entre as duas capitais – são cerca de 150 km de distância de cada uma delas. Por conta da proximidade, não tem feriado em que que Piri, para os íntimos, esteja vazia. Cercada por cerca de 20 cachoeiras, a cidade é especialmente procurada por quem deseja trocar o escritório por um pouco de água fresca.
Mas Pirenópolis tem mais. Isolada por décadas e redescoberta gradativamente após as fundações de Goiânia (1933) e Brasília (1960), a cidade teve seu centro histórico preservado. O resultado? Casarões coloniais, igrejas e ruas de pedra para Ouro Preto nenhuma botar defeito. Ó:
O que fazer em Pirenópolis
Há três atividades principais, todas ótimas. A minha favorita é comer. Eu já tinha passado por Goiás antes, mas pela Chapada dos Veadeiros. Foi só nessa viagem que conheci alguns clássicos da culinária local, como o Empadão ou a Panelinha Goiana. Não faltam restaurantes nas ruas do centrinho, mas muitos deles abrem só aos finais de semana ou feriados. Procure pela Rua do Lazer e você achará um lugar para chamar de seu.
Depois de engordar, é hora de abraçar a preguiça. São mais de 20 cachoeiras ao redor da cidade. Eu estive na do Abade, que está dentro de uma reserva particular e tem ótima estrutura. A entrada custou R$ 30 e há duas opções de trilha. A mais longa é tranquila, no formato circular, e passa por outras cachoeiras e mirantes num percurso total de 2,4 km. Mas os mais preguiçosos podem ir direto para a cachoeira principal, ignorando a trilha longa.
Outras cachoeiras concorridas são a dos Dragões, do Rosário, da Meia Lua, do Lazaro, do Paraíso e das Araras. Saiba mais sobre essas cachoeiras aqui. No mais, fique de olho no mapinha abaixo, da secretaria de turismo de Piri – pegue sua versão impressa no posto de informações turísticas, na entrada da cidade, ou no seu hotel.
Ahh, por ali também fica um dos acessos para o Parque Estadual dos Pirineus. Os goianos, porque o teletransporte ainda não foi inventado. 😉
Por fim, gaste seu tempo andando sem rumo pelo centro histórico. Conheça a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, construída a partir de 1728, mas que já sofreu um incêndio. Em seguida desça pela Rua do Rosário – que num ponto mais abaixo vira o trecho que é chamado de “Rua do Lazer“, um quarteirão repleto de bares, restaurantes e lojas de artesanato. Perto dali está a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, construída a partir de 1750.
A Ponte do Carmo, com parapeito colorido, é outro cartão-postal, e leva até o Museu do Divino Espírito Santo, que funciona no revitalizado prédio da Casa de Câmara e Cadeia. A lista de templos tem ainda a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, um pouco mais afastada das outras duas, mas nada que assuste e ainda no centro.
Como chegar em Pirenópolis
Dá para ir de ônibus, com a Viação Goianésia. Mas, numa boa, esse é o tipo de destino que compensa viajar de carro, a não ser que você pretenda ignorar as cachoeiras. O carro é dispensável para conhecer o centro histórico da cidade, mas um tremendo facilitador para visitar as quedas d’água, que estão num raio de 30 km da cidade e normalmente não são acessíveis por transporte público.
Eu aluguei um carro em Brasília, via Rentcars, um buscador internacional que compara os preços em várias locadoras e indica o mais barato. Reservar o carro antes foi fundamental, já que não havia veículos disponíveis para locação na hora que chegamos no aeroporto. A Rentcars é parceira do blog, então reservando pelo link acima você ainda ajuda o 360 a se manter.
Coloque Pirenópolis no waze e siga em frente. Há dois caminhos mais comuns: um pela BR-070 e outro pelas rodovias DF-290, BR-060 e GO-338. O segundo trecho é muito melhor, embora tenha 20 quilômetros a mais (são 170 no total). Nesse caso, uma parada tradicional é no Jerivá, restaurante e lanchonete de comida goiana que fica em Abadiânia.
A outra estrada, a BR-070, está repleta de buracos, mas tem uma vantagem que pode fazer a estrada (horrível) valer a pena, pelo menos num dos trechos: uma parada estratégica no Mirante do Salto do Corumbá, que está a 31 km de Piri. Saiba mais sobre esse lugar aqui.
Onde ficar em Pirenópolis
No centro. Assim dá para curtir as cachoeiras, mas voltar para cidade para terminar a noite nas ruas e bares de Piri. O Pouso do Sô Vigario fica num casarão do século 18 e está pertinho da rodoviária. Já a Pousada Muralha está ao redor da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. A Pousada Rancho do Ralf e a Pousada Casa Grande também são boas opções.
Veja mais opções de hospedagem em Pirenópolis
Quando ir
Quando você puder. Apenas tenha em mente que a cidade, por conta da proximidade com Brasília e Goiânia, lota nos feriados, especialmente nos mais quentes – pode ser complicado achar um lugar na cachoeira. Inclusive, se estiver buscando o que fazer quando estiver em Brasília, vale a pena. Eu fui no carnaval e não tenho do que reclamar. Além disso, lembre-se que, como toda cidade histórica que se preze, Piri segue o calendário dos feriados religiosos.
Por fim, o ano pode ser dividido entre a época da seca, que é de maio a setembro, e a época das chuvas, de outubro a abril. Se for na temporada das chuvas, lembre-se de tomar mais cuidado, já que trombas d’água podem tornar cachoeiras perigosas, mesmo que a chuva não seja exatamente onde você estiver, mas na nascente.
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Estou aqui nesse exato momento em Pirenópolis mais precisamente na cascata de usina velha …tuas dicas estão corretíssimas .
Quem está com intenção de vir para essa localidade o blog é super confiável.
Um abraço
Poxa, fico feliz, Margarete.
Abraço e boa viagem.
Moro no noroeste de MG e Pirenópolis é um dos meus lugares favoritos. Todo ano gosto de começar o ano de viagens lá. É uma cidade histórica, mas com muita cachoeiras e pra quem gosta do agito ela ferve nos feriados. Ainda fico me perguntando com o resto do Brasil ainda não descobriu esse paraíso. Sorte da gente!
Verdade, Ana! Gostei bastante!
Abraço e obrigado pelo comentário.
Conheci Pirenópolis, em fevereiro de 2017. A cidade é simplesmente linda. Ficamos bem no Centro na pousada Vivenda; maravilhosa. Conhecemos a noite em Piri. Que por sua vez tem uma grande oferta de bares e restaurantes com comidas deliciosas. Conhecemos algumas cachoeiras, dentre elas a de bom.sucesso.
E a comida é incrível, não é? Já estou com vontade de voltar, Margarida.
Abraço.
Oi Rafael!
Legal saber que você andou descobrindo nossa Piri. 🙂
Para quem gosta de uma aventura off road, fica a dica: Dá pra ir, de Brasilia a Pirenópolis chegando por dentro do Parque. A paisagem é linda!
Nossa, deve ser mesmo, Marcelo. Quem sabe na próxima.
Abraço.
Piri!! Pretendo conhecê-la em breve!!
Vale a pena, Lidiano.
Pirenópolis é realmente uma cidade linda! Já fomos algumas vezes e estamos de viagem marcada para lá em maio! As cachoeiras são lindas, pena que a água é gelada demais.. Adorei o post e obrigada por citar nosso post sobre o Salto de Corumbá! O lugar é lindo e vale a visita!
Um prazer, Carol. Dá próxima vez quero parar lá.
Abraço.