O bugueiro desacelera. Sentir a velocidade diminuir depois de tanto sobe e desce de morros num ritmo intenso chega a ser esquisito, mas também significa que já posso me ajeitar melhor na almofada e segurar com um pouquinho menos de força o tubo de ferro que, até segundos atrás, tinha sido a única coisa que garantia a minha sobrevivência. Aí eu percebo o que está acontecendo: não estamos parando, mas nos preparando para descer um tobogã de areia. A paradinha foi só para a fotógrafa lá embaixo se preparar e não perder o clique dos jovens jornalistas desesperados naquela montanha-russa em terra (quase) firme. Aí vem a descida. Como quase sempre acontece, a queda durou menos tempo do que o medo, e deixou uma vontade de fazer tudo de novo.
Eu nunca fiz muita questão de mar e sol, mas uma tarde de aventuras e descobertas sobre as areias lendárias de Canoa Quebrada, Praia das Fontes e Uruaú me fez até cogitar uma vida junto ao litoral. É esse o tipo de magia que o litoral leste do Ceará exerce sobre os visitantes (não conheci a parte oeste do estado, mas tenho certeza que o efeito é parecido).
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Foto: Paula Mattos. O segundo mais longo é o que acontece logo antes da queda.
A redescoberta das falésias
Falésia, se bem me lembro das aulas de geografia, é tipo um penhasco que geralmente ocorre perto do mar ou de um rio. Nem os livros da escola e nem as fotos da internet, porém, tinham me preparado para a beleza das formações desse tipo no litoral cearense. Lá, as falésias são de cor laranja bem forte, e as pedras que formam cavernas variam entre o cinza azulado e o cor de rosa.
Os empresários locais, que não são bobos, enxergaram o potencial dessas paisagens e reuniram cerca de 600 empreendimentos turísticos – hotéis, pousadas, restaurantes, agências, lojas – da região para a criação de um sistema em que uma empresa vai dando uma forcinha à outra. O objetivo, é claro, é fortalecer o turismo local e criar um padrão de qualidade na área.
Foto: Vi Neves (CC BY 2.0/Flickr). A praia de Morro Branco tem até um labirinto de falésias.
A Rota das Falésias, que existe oficialmente desde 2016 mas que já era um protótipo em 2002, se estende por 240 km e 45 praias em 13 cidades (no Ceará: Aquiraz, Eusébio, Pindoretama, Cascavel, Beberibe, Fortim, Aracati e Icapuí; no Rio Grande do Norte: Areia Branca, Porto do Mangue, Grossos, Tibau e Mossoró). Tem duna, tem lagoa, tem caverna, tem nascentes de água termal, tem praia, tem pirâmides de areia, tem hotelzinho, tem resort all inclusive, tem tudo. Diante de tanta opção, cada turista escolhe como vai aproveitar o local.
Dunas infinitas
Na minha passagem pela Rota das Falésias, a primeira parada foi em Canoa Quebrada, que faz parte do município de Aracati. Das praias da região, é a mais famosa – vira e mexe é utilizada como cenário de novela e filme. O jeito mais comum de explorar os arredores é de buggy (um passeio para até quatro pessoas sai entre R$ 180 e R$ 200, dependendo da empresa contratada). De saída, o carrinho te leva do centro da cidade até uma encosta onde fica o símbolo de Canoa Quebrada – um lugar clássico para tirar fotos.
O rolê pelas dunas de buggy é “com emoção”, como o início deste texto já deixou bem claro. Isso quer dizer que você precisa segurar firme mesmo no buggy porque as dunas são enormes e acidentadas – e mudam um pouquinho todo dia. Os bugueiros mais experientes até arriscam umas manobras, tipo passar com o veículo bem inclinado pelo terreno acidentado. Mas dá para sobreviver, e super vale a pena.
O ponto alto é mesmo o tal tobogã, uma descida íngreme que dá acesso a uma área de barracas onde se vende bebidas e comidinhas. É dessas barracas também que saem as tirolesas. Tem a opção “seca”, que vai dar numa cabaninha lá embaixo, a 300 metros, e a “molhada”, que te joga num laguinho raso. Uma descida pelas cordas custa em torno de R$ 18, e é bem menos radical do que parece – a tirolesa vai relativamente devagar.
E a preguiça de subir tudo de novo?
O passeio pela região também pode incluir paradas na Praia das Fontes e em Morro Branco, dois pequenos paraísos na cidade de Beberibe. Por lá é forte a tradição de fazer desenhos com areia colorida – aquela mesma técnica que produz souvenires. Na Praia das Fontes, o destaque é a Gruta da Mãe D’Água, uma caverna colorida moldada pela água e pelo vento entre as falésias. Os noveleiros vão se lembrar das cenas de Açucena, personagem de Carolina Dieckmann em Tropicaliente (1994), nesses paredões psicodélicos.
Foto: Felipe Abílio. Na falta de Carolina Dieckmann, vai a gente mesmo.
O mais legal é que, se você não ficar perguntando para o bugueiro, nem vai perceber quando sair de uma praia e chegar a outra. É realmente como se diversos pontos da região fossem ligados por dunas infinitas.
“Finge naturalidade e olha para o infinito que eu vou tirar uma foto.”
Depois de descer do buggy, descobrir as cidadezinhas da região também vale a pena. A geografia cearense é cheia de detalhes fofos. A Rota das Falésias está bem no encontro do sertão com o mar, o que quer dizer que vai ser comum encontrar vaquinhas e burrinhos andando pelas estradas estreitas, além de uma vegetação “de interior”, mais rasteira e amarelada.
Nas lojas, você encontra artesanato, as famosas rendas tradicionais da região, e um monte de doces típicos. Nos restaurantes, a culinária local merece um texto inteirinho só pra ela, de tanta coisa gostosa que se come no Ceará. E ainda tem o povo cearense – não encontrei sequer uma pessoa antipática ou mal-intencionada durante minha passagem pelo estado.
Quer dizer, com exceção do bugueiro do passeio que descrevo no início deste texto, que certamente tinha um plano maligno de despertar em mim um leve desespero com aquele sobe e desce sem fim a 100 km por hora.
O plano deu certo, em partes. Sim, fiquei com medo de virar manchete e cair do buggy durante todo o trajeto pelas dunas infinitas do litoral leste. Mas, para quem não é muito chegado a veículos que despencam ou que se movem rápido demais, até que encarei bem o tobogã automotivo nas areias do litoral cearense.
Já a tirolesa de 300 metros entre dunas (aquela da foto) eu preferi não arriscar. Estava me guardando para o esquibunda, uma aventura que não dependeria nem das habilidades de um motorista desconhecido e potencialmente ousadinho, nem de ser amarrado por cordas e cintos de segurança. Mas o Sol baixou rápido demais e o esquibunda ficou para o próximo verão. Decepcionado, eu? Jamais. Com um pôr do sol desses, quem é que pode ficar chateado?
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Dezembro fui em Fortaleza e vivenciei tudo com minha família , fui nas falésias e um local lindo , lago azul , tirolesa , Beach park ,adoramos . Recomendo..
Vivenciei tudo isso há alguns dias, foi incrível!
Ler tudo isso deu uma saudade imensa