A troca da guarda na fronteira entre Índia e Paquistão

Cada um na multidão levava uma pequena bandeira com listras em verde, branco e laranja. Alguns arriscavam bandeiras maiores, daquelas que tornam o espetáculo da torcida mais bonito em qualquer lugar do mundo. Não bastasse o símbolo nacional, presente por todos os lados, muitos gritavam a mesma palavra: Índia.

O tempo foi ficando curto e os torcedores começaram a correr rumo ao estádio. Ninguém queria perder a disputa, afinal o adversário era o Paquistão, eterno rival. Os torcedores indianos, eufóricos, se apressaram rumo às arquibancadas. E eu fui junto com eles.

Não era um jogo de futebol. Não era uma partida decisiva de críquete. Não era um confronto das seleções dos dois países no hóquei. Não. As duas torcidas tinham viajado até uma pequena cidade para ver e vibrar com a cerimônia da troca da guarda. Todos os dias centenas de torcedores aparecem lá para ver qual guarda – se a da Índia ou a do Paquistão – grita mais alto, marcha mais rápido ou dá passos mais largos.

troca da guarda na fronteira da Índia

Bandeira Indiana troca da guarda

Parênteses

Sabe aquela historinha que a rivalidade entre Brasil e Argentina é enorme? Esquece isso. Gigante mesmo é a rivalidade entre a Índia e o Paquistão. As duas nações eram o mesmo não-país – uma colônia britânica – até o final da década de 40. A independência trouxe a separação: o Paquistão, de maioria muçulmana,  e a Índia, de maioria hindu, seguiram caminhos diferentes.

De lá para cá, foram quatro guerras (1947, 1965, 1971, 1999), a maior parte por causa da disputa pela Caxemira, uma região ao norte da Índia. Os ataques terroristas em Mumbai, em 2008, por pouco não iniciaram um novo conflito. No meio disso tudo entra o críquete, que para os dois países é o equivalente do futebol no Brasil. Fecha parênteses.

Fronteira Índia e Paquistão Attari

A Cerimônia da troca da guarda

A decepcionante troca da guarda de Londres afastou qualquer possibilidade de sermos fãs desse tipo de cerimônia. Até presenciarmos a troca conjunta entre Índia e Paquistão. Testemunhar os 30 minutos de gritos dos soldados e o apoio eufórico da torcida é algo inesquecível, aquele tipo de coisa que você só acredita que existe quando vê in loco.

Torcida Índia troca da guarda

Wagah / Attari é uma cidade dividida em dois – cada metade fica em um país. Ali está a única passagem por terra ao longo de toda a fronteira entre Índia e Paquistão. A cerimônia ocorre diariamente, ao pôr-do-sol. O evento ficou tão popular que os governos dos dois países construíram arquibancadas para facilitar a visão dos torcedores (vê se aprende, Londres).

Animadores de torcida gritam de cada lado da fronteira, e são respondidos por centenas de vozes. Por fim, depois de muita gritaria e animação, as bandeiras dos dois países são recolhidas, o portão é fechado e todo mundo vai embora pra casa, feliz. Até o dia seguinte, quando guardas – e torcedores – começam tudo novamente.

Como chegar

Attari é uma vila de Amritsar, cidade onde fica o Golden Temple. Uma viagem de ônibus de Délhi até Amritsar dura cerca de 9 horas e custa em torno de 300 rúpias ( R$ 11). Para chegar até Attari são mais 30 quilômetros. Táxis cobram em torno de 600 rúpias ( R$ 22), ida e volta. É possível ir de tuk-tuk, dividindo com outras pessoas. Espere pagar em torno de 80 rúpias (R$ 3), ida e volta, por essa opção.

Horário da troca da guarda

Todos os dias, ao pôr-do-sol. Isso quer dizer que o horário varia: a cerimônia começa por volta de 4h15 no inverno e 5h15 no verão. O melhor mesmo é chegar mais cedo pra garantir um bom lugar e não perder nada.

India x Paquistao troca da guarda

Preço

De graça. Estrangeiros podem ficar na área VIP, na primeira fileira. Você só precisa levar seu passaporte. Câmeras são permitidas, mas mochilas e malas não. Você está na fronteira entre a Índia e o Paquistão, e ali uma simples mochila gera suspeitas. É possível guardar sua mochila no estacionamento.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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