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Como a China pode se tornar o maior país cristão do mundo

2032 é logo ali. E esse ano nem tão distante pode marcar uma virada que já se anuncia há pelo menos duas décadas na geopolítica mundial: é quando a China passará os Estados Unidos e se tornará a primeira economia do planeta. Mas se esse cenário se desenha há tanto tempo que chega até a ser esperado, outra mudança grande no panorama internacional pode ocorrer um pouco antes. Segundo pesquisadores, em 2030 a China se tornará a maior nação cristã do mundo.

Essa é uma afirmação e tanto para um país oficialmente ateu, comandado desde o fim da década de 1940 pelo Partido Comunista Chinês e que hoje é o menos religioso do mundo, onde apenas 7% da população diz frequentar alguma igreja. Mas, como tudo na China, pequenos percentuais podem ser esmagadores. É isso que explica por que o percentual de ateus no país é relativamente baixo, apenas 14%, mas mesmo assim a China tem a maior quantidade de ateus do mundo em números absolutos, um grupo que soma cerca de 180 milhões de pessoas.

O percentual de cristãos é ainda menor, mas, na contramão do mundo, não para de crescer. O cristianismo chegou na China no século 7, teve alguma presença ao longo de várias dinastias de imperadores, mas entrou no século 20 de forma tímida. Quando Mao Tsé-Tung assumiu o poder, em 1949, cerca de quatro milhões de chineses eram cristãos. Os anos de Revolução Cultural sufocaram o crescimento religioso de uma forma geral, que só voltou após a morte do líder comunista e a gradual abertura política que trouxe um certo nível de liberdade religiosa.

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“Em 2030, a China quase certamente terá mais cristãos do que qualquer outro país do mundo”, diz Fenggang Yang, professor da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos. Em entrevista ao Financial Times, o pesquisador garantiu também que hoje existem cerca de 100 milhões de cristãos na China, um número maior do que o informado pelo governo, que estima que o percentual de cristãos no país não passe dos 3%.

O problema é que a estimativa do governo envolve apenas as religiões oficiais, permitidas e controladas de perto pelo Estado. E boa parte das religiões cristãs na China são as chamadas igrejas-garagem ou fundo de quintal – templos que funcionam na informalidade, sem autorização oficial e longe dos olhos vigilantes do Partido Comunista Chinês.

Embora o número de católicos também esteja crescendo, são as religiões protestantes, que não respondem a um ponto central, como o Vaticano, que mais crescem nesse ambiente de informalidade. A taxa de crescimento dessas religiões é maior até do que a do budismo, principal religião do país e que também experimentou uma retomada após o fim da Revolução Cultural.

cristianismo china

Se o número oficial de cristãos não é claro, outro dado é bastante revelador e parece concordar com a tese defendida por Fenggang Yang. Nanquim, antiga capital da China, sedia a maior editora de Bíblias do mundo, onde foram produzidas 150 milhões de cópias nos últimos anos, a maior parte para alimentar o mercado interno.

Segundo Yang, em 2030 a China terá 247 milhões de cristãos, o que corresponderá a pouco mais de 15% da população chinesa, mas ainda assim será maior que o número de cristãos esperado em países como Estados Unidos, México e Brasil, que hoje têm as maiores populações que professam essa fé.

“Em 2030, a China quase certamente terá mais cristãos do que qualquer outro país do mundo”, Fenggang Yang, professor da Universidade de Purdue

Não falta quem conteste as estimativas de Fenggang Yang, começando pelo próprio governo chinês, mas também  pesquisadores e praticantes de outras religiões. “Todas as histórias sobre o crescimento do cristianismo na China são mentiras vindas do lobby cristão-evangélico dos Estados Unidos. São notícias falsas espalhadas pela mídia anglo-americana, por organizações religiosas cristãs e os pseudo-acadêmicos que são financiados por ela”, argumenta Eccardo Adelingi no site Quora.

Em todo caso, Pequim parece ter resolvido agir para controlar a situação, tanto por conta da influência de uma religião vista como estrangeira como por causa do medo que essas igrejas comecem a fazer política – a Igreja Católica teve um papel central na queda da União Soviética, durante o papado de João Paulo II. O perfil do cristão chinês também preocupa, já que as conversões são mais comuns entre jovens urbanos de classe média.

Alegando razões de segurança e beleza, o governo já removeu 1200 cruzes dos topos de templos cristãos. Também não são raros os casos de igrejas fechadas, mesmo com intenso protesto por parte dos fiéis e, claro, de prisões. O centro da disputa é a cidade de Wenzhou, banhada pelo Mar da China Oriental e onde vivem 1.2 milhão de cristãos – gente suficiente para que a cidade seja conhecida como a Jerusalém do Oriente.

Em tempo: o número de muçulmanos também não para de crescer na China, essa sim uma tendência internacional e que deve fazer o número de fiéis dessa religião igualar, no mundo, o de cristãos até 2050 – e superar até 2100, quando o Islã pode se tornar a maior religião do globo. Hoje, o islamismo já é a religião mais popular entre os jovens chineses e deve alcançar a marca dos 30 milhões de fiéis em 2030.

Assim como os cristãos, os muçulmanos reclamam da perseguição religiosa por parte do governo chinês, que chegou a fazer campos de reeducação e a obrigar a ingestão de carne de porco e bebidas alcoólicas por muçulmanos, algo que contraria a fé deles. Esse é considerado o maior encarceramento em massa de uma minoria religiosa atualmente no mundo. Embora não existam números oficiais, alguns órgãos estimam que pelo menos um milhão de muçulmanos possam estar presos nesses campos.

*Imagem destacada: Expose, Shutterstock.com

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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8 comentários sobre o texto “Como a China pode se tornar o maior país cristão do mundo

  1. Eu creio que de fato será assim: o aumento de cristaos na China decorrente ate da própria perseguição que sofrem. Aqui no Brasil os chamados cristão vivem em mordomias materiais que se esqueceram do Reino de Cristo, e vivem só para o reino terreno onde seus mitos e salvadores sao os governos a quem delegam poderes como se deuses fossem para salvá-lo s do comunismo, da perseguição e crendo que assim terão uma vida terrena abastada materialmente e por tal motivo se orgulharem de serem cristãos, nada mais!

    1. Oi, Estela.

      Em breve a China vai ter uma das maiores populações mulçumanas do mundo também.

      Então, até pela população, tudo lá é superlativo.

      Abraço e obrigado pelo comentário.

    2. Gostei demais do seu texto, está de parabéns pela sua capacidade de entender o cerne da questão. Ser um verdadeiro cristão é algo espiritual e não materialidade!

  2. Isso não condiz com a perseguição do governo chinês em repreender o cristianismo, fechando varias igrejas, prendendo pastores

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