Como qualquer país com uma longa história que se estende por mais de um milênio, Portugal é cheio de fatos curiosos, que renderiam ótimos episódios de Game of Thrones. Uma das minhas favoritas é a de D. Pedro e D. Inês (aquela do ditado “agora Inês é morta), que eu já contei em outro post. Hoje, vou contar a história de como Portugal se tornou um país independente, graças a um senhor chamado Afonso Henriques, “o Conquistador”.
A história precisa de um contexto, que começa alguns séculos antes do nascimento de Afonso. É que em 711 rolou a invasão muçulmana da Península Ibérica. Foi um processo bem rápido de dominação, mas um grupo de cristãos visigodos, que era o povo que dominava a região na época, conseguiu resistir no norte da Península, na Astúrias. Liderados por um homem chamado Pelágio, em 718 fundaram o Reino das Astúrias e iniciaram um processo de reconquista dos territórios que durou quase sete séculos.
Nesse processo gradual de reconquista dos territórios foram surgindo pequenos reinos: os Reinos de Leão, de Navarra, de Aragão, de Castela e da Galiza. Esses reinos também iam se unindo e separando de acordo com manobras políticas, casamentos, religião e brigas entre si. Por volta de 1077, D. Afonso VI, com a morte (possivelmente encomendada por ele) de seus irmãos, conseguiu unificar três dos reinos, proclamando-se o Imperador de toda a Hispânia.
D. Afonso Henriques
Em 1096, o rei Afonso VI casou sua filha ilegítima, Teresa de Leão, com Henrique de Borgonha, um cruzado que havia ajudado nas batalhas pela reconquista. E deu a eles de presente de casamento o governo do Condado Portucalense. E então, o casal foi viver provavelmente em Guimarães, como eu contei no post sobre a cidade. Em 1109, nasce Afonso Henriques – provavelmente em Guimarães, o quinto filho do casal e único homem que sobreviveu.
Aí começa a controvérsia. Se você acha que aquelas histórias de que o Paul McCartney ou a Avril Lavigne morreram e foram substituídos são pura comédia, saiba que existe uma corrente de historiadores que afirma que Afonso Henriques, o Conquistador, na verdade não era a criança que nasceu em Guimarães. É que o menino era muito adoentado. O aio do Conde, Egas Moniz, levou então a criança para ser tratada numas águas termais na cidade de Chaves – a viagem levava 3 meses e o verdadeiro Afonso Henriques teria morrido no caminho. Para substituí-lo, Moniz comprou o filho de um pastor e durante os quatro anos seguintes, em Chaves, educou o menino camponês como se fosse um nobre da realeza. Outra corrente diz que quem ficou no lugar do menino adoentado foi o próprio filho de Egas Moniz.
O que dá força para essa lenda é o fato de que uma criança adoentada e debilitada como era o jovem Afonso Henriques não poderia, com a medicina da época, ter se tornado um homem saudável e vigoroso que conquistou boa parte do território português.
Castelo de Guimarães
Continuando a história, em 1112, D. Henrique morreu e D. Teresa assumiu o governo do condado como regente, mas governava como rainha, sendo reconhecida por sua irmã e sobrinho, governantes de Leão, e pelo papa da época. Devido às batalhas e jogos políticos, D. Teresa aproximou-se de Fernão Peres de Trava, que era da casa mais poderosa do Reino da Galiza. Os dois eram parceiros políticos e românticos, visto que D. Teresa teve com o Conde Trava duas filhas. Porém, tal aliança com a nobreza galega não agradava os nobres e arcebispos portucalenses.
Sob a orientação do arcebispo de Braga, D. Afonso Henriques, em 1120, se posicionou contra a mãe, emigrou para Coimbra e em 1122 se armou cavaleiro. Porém, eles só chegaram às vias de fato em 1128, quando as tropas de Terese e Trava e as de Afonso se confrontaram na batalha de São Mamede – e o filho saiu vitorioso, assumindo o governo do condado.
Com D. Teresa, não se sabe ao certo se ela foi detida pelo filho num castelo, se exilou num convento, ou fugiu e foi presa com o Conde Trava. Porém, sabe-se que ela morreu dois anos depois e que o filho, quando já era rei, mandou trazer os restos mortais da mãe para a Sé de Braga, para ser enterrada ao lado do pai, o Conde D. Henrique, onde os túmulos estão até hoje.
Nos anos que se seguiram, D. Afonso Henriques passou a negociar junto à igreja a autonomia e o reconhecimento do Reino. Ao mesmo tempo, seguiam as batalhas da reconquista. Em 1139, o exército liderado por Henriques consegue, mesmo estando em menor número, um vitória incrível contra os mouros na batalha de Ourique. Foi no próprio campo de batalha, com o apoio das tropas, que ele se autoproclamou rei de Portugal.
Estátua de D. Afonso I em Guimarães
Claro, não basta se autoproclamar, é preciso ser reconhecido. Depois de algumas negociações com o primo, D. Afonso VII, que era o Imperador de toda Hispânia, foi selado, em 1143, o Tratado de Zamora, em que Afonso VII reconhecia a soberania portuguesa, mas mantinha D. Afonso Henriques como vassalo, apesar do título de rei.
Porém, também não bastava o reconhecimento de Leão e Castela, era preciso que a Santa Sé reconhecesse a independência. As negociações para isso duraram até 1179, quando finalmente o Papa Alexandre III emite a Bula Manifestis probatum em que aceita a vassalagem direta de D. Afonso Henriques e reconhece definitivamente a independência do Reino de Portugal. Assim, ele torna-se Afonso I de Portugal.
O título de “O Conquistador” veio devido a seu sucesso no campo de Batalhas. D. Afonso I, com o apoio dos cruzados, conquistou Lisboa e as fronteiras do sul do país até o Alentejo. Ele governou o país recém fundado por 46 anos, um dos reinados mais longos da história Portuguesa e até hoje também um dos mais significativos.
Ele morreu em 1185, aos 76 anos e seu túmulo está no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra (foto acima), um dos vários mosteiros e conventos que ele financiou a fim de povoar o reino.
Vai viajar? O Seguro de Viagem é obrigatório em dezenas de países da Europa e pode ser exigido na hora da imigração. Além disso, é importante em qualquer viagem. Veja como conseguir o seguro com o melhor custo/benefício e garanta promoções.
*Imagem destacada: Aires Almeida – Fundação da Nacionalidade (Tratado de Zamora). Painel de azulejos no Jardim 1.º de Dezembro, Portimão, Portugal. CC BY 2.0
Inscreva-se na nossa newsletter
Como cultura da região onde desejo viajar e conhecer foi ótimo saber a história de origem de Portugal. Mesmo não sendo tão completo e preciso como toda a história antiga é, já me ajuda a usá-lo para seguir a viagem e apreciar com mais entusiasmo todas as belezas e os monumentos destas regiões de Guimarães. Muito obrigado.
=)
estupendo trabalho!!!!!!!!