As histórias de Copacabana, no Rio de Janeiro

Não foi o Cristo Redentor e nem o bondinho do Pão de Açúcar. O que me deixou mais animado na primeira vez que eu fui ao Rio foi ficar hospedado perto da rua Tonelero, número 180, em Copacabana. É que eu sou louco com história e foi nesse local que houve a tentativa de assassinato do político Carlos Lacerda, em 1954. Esse atentado gerou outro acontecimento muito maior, um daqueles eventos maiúsculos da nossa história: o suicídio do então Presidente Getúlio Vargas, acusado pela oposição de envolvimento com o crime.

Eu gosto muito de ir à praia, mas o que me impressiona mesmo em Copacabana é a história. O bairro mais famoso do Rio de Janeiro não é apenas bonito, daqueles lugares que dá vontade de morar, mas também o cenário onde ocorreram alguns dos mais importantes acontecimentos do Brasil. E olha que não foi sempre assim: a região foi urbanizada há 120 anos, com a construção de um túnel que ligou Botafogo à Copacabana. Antes o acesso era difícil e os cariocas só chegavam lá subindo os morros que cercam a região.

Veja também: Onde ficar no Rio de Janeiro – os melhores bairros e hotéis

Passeio no bondinho do Pão de Açúcar, no Rio

atentado rua toneleros

A construção do túnel mudou o Rio de Janeiro, mas por pouco não saiu do papel. Teve gente que protestou contra a obra, dizendo que seria um gasto absurdo de dinheiro para facilitar o acesso a um lugar vazio, pouco interessante e onde só viviam pitangueiras. 120 anos depois Copacabana tem de tudo, menos pitangueiras, que provavelmente se mudaram para a periferia por conta da mesma especulação imobiliária que trouxe os arranha-céus.

Da construção do túnel pra cá, o bairro mudou. Inclusive de nome – antes a região era chamada de Sacopenapã, uma palavra em tupi usada para falar das aves que viviam por lá. O novo nome, com o qual a praia ficou consagrada internacionalmente, veio de uma imagem de Nossa Senhora de Copacabana que ficava numa capela.

calçadão de copacabana

A Igreja estava onde hoje é o Forte de Copacabana e bem pertinho da praia, mas foi derrubada na segunda década no século 20. Todas essas histórias mostram que Copacabana é muito mais do que praia. Qualquer pesquisa rápida na internet revela curiosidades e fatos importantes que acontecerem no bairro, mas que o tempo apagou da memória de muitos turistas e até mesmo de alguns moradores da região. Tipo que:

Copacabana teve muitos moradores ilustres, como o poeta Carlos Drummond de Andrade e vários Presidentes da República, entre eles JK, Tancredo e Jango. Também moraram ali os políticos Leonel Brizola e Carlos Lacerda, além do cantor Dorival Caymmi. E também Nara Leão e João Gilberto. Drummond e Dorival foram inclusive imortalizados com estátuas na orla.

Foto antiga de Copacabana, no Rio de Janeiro

Copacabana no começo do século 20. Foto: Wikimédia Commons.

O Copacabana Palace, mais famoso hotel brasileiro, já hospedou gente como o americano Walt Disney, o líder sul-africano Nelson Mandela, o cineasta Orson Welles e o compositor russo Ígor Stravinski. E também subcelebridades como o Bill Clinton, o Will Smith e os Rolling Stones.

O Forte de Copacabana

Embora o hotel de gente rica e famosa seja um importante ponto da orla, nenhum lugar concentra tantas histórias como Forte de Copacabana, hoje um dos principais pontos turísticos do bairro. O local vem sendo utilizado para objetivos militares desde a colonização, por determinação dos portugueses, mas foi só no começo do século 20 que a construção atual foi erguida.

Dois acontecimentos chamam atenção na história do lugar. O primeiro deles é o levante dos 18 do Forte de Copacabana, em 1922. Instisfeitos com a República Velha, os militares do Forte de Copacabana organizaram um levante contra o Presidente da República, Epitácio Pessoa. Mas a adesão de outros batalhões não foi a esperada e logo o Forte de Copacabana se viu foreveralone no meio da rebelião.

O forte foi bombardeado pelas tropas do governo durante um dia, até que a maioria deles resolveu se render. Cerca de 30 militares escolheram sair do forte com a faca nos dentes pra encerrar a questão. Assim que as tropas do governo começaram a meter bala nos rebeldes, muitos deles deram no pé. 17 continuaram a caminhada pela Avenida Atlântica, armas em punho, e no meio do caminho encontraram um civil que resolveu botar pra quebrar também. Eles seguiram até a altura do posto três de Copacabana, quando a maioria foi abatida. Game over.

revolta dos 18 do forte, copacabana

Foto clássica do levante, de Zenóbio da Costa. No meio dos militares, o civil Otávio Correia.

A República Velha sobreviveu até 1930, quando foi derrubada, sob comando dum sujeito chamado Getúlio Vargas. O então Presidente, Washington Luís, foi deposto e preso. Onde? No Forte de Copacabana!

Outro evento quase inacreditável da história de Copacabana aconteceu na década de 50, quando um Presidente da República que estava em exercício há 48 horas entrou num dos mais modernos navios militares brasileiros. A embarcação, que já tinha feito parte da marinha norte-americana e participado da batalha de Pearl Harbor, chegou a apontar sua artilharia para Copacabana.

O Forte de Copacabana disparou contra o navio, no último ataque militar registrado na Baía de Guanabara. Aquele Presidente era Carlos Luz, que ficou no cargo por apenas quatro dias. As bombas lançadas pelos militares do Forte de Copacabana garantiram que JK, que tinha acabado de ser eleito, assumisse a Presidência do Brasil, evitando um golpe. Agora escolha qual dos acontecimentos abaixo é mais surreal:

( ) 17 militares e um civil marcham, armados, contra o Presidente da República e o Governo Federal. Foram abatidos perto do posto 3 de Copacabana, onde eu costumo tomar açai.

( ) Um navio que esteve na batalha de Pearl Harbor aponta sua armas para Copacabana. O país reage e ataca o navio, onde estava o Presidente da República em exercício.

Eu francamente não sei escolher. Os dois fatos só tornam Copacabana muito mais interessante pra mim – e sim, eu já pensei nisso enquanto tomava uma cerveja na beira da praia ou andava pelo calçadão. Se você curte história, taí mais um motivo para gostar de Copacabana. Não que fosse necessário.

Forte_de_Copacabana

Foto: Wikimédia Commons

Como visitar o Forte de Copacabana

Cerca de 10 mil turistas passam pelo Forte de Copacabana todos os meses, muitos para visitar o Museu Histórico do Exército. Além disso, o local oferece uma vista incrível do Rio, principalmente no fim do dia. O ingresso para entrar no Forte custa custa R$ 6. Mais informações aqui.

Além do pôr do sol, muitos turistas passam pelo Forte de Copacabana por causa de uma filial da Confeitaria Colombo, aberta no Forte em 2003. A tradicional confeitaria tem mais de 100 anos e teve fãs como o escritor Machado de Assis – e vários outros.

*Imagem destacada: Chensiyuan, Wikimédia Commons

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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17 comentários sobre o texto “As histórias de Copacabana, no Rio de Janeiro

  1. Sou de Niterói, mas tb adoro Copacabana, meu bairro preferido no Rio de Janeiro e para o qual pretendo me mudar futuramente. Antigo, tradicional e ao mesmo tempo moderno, sempre congregou todas as classes sociais. Adorei os comentários históricos, estava fazendo uma pesquisa sobre o assunto para uma tese de doutoramento que é sobre história do direito brasileiro e encontrei todos os fatos que eu queria. Um grande abraço e continue com o blog.

  2. Sou paulistano tenho 57 anos e o maior carinho do mundo por Copacabana.. Foi amor a primeira vista . Claro que gosto de Ipanema, Leblon , Sao Conrado e Barra , mas Copacabana ”e meu caso de amor… Venho ao RJ escondido dos amigos paulistanos que frequentam a Barra , rs.. Adoro caminhar pelas ruas de Copa dar uma parada no Pavao Azul, no Cervantes, no Caranguejo etc… Apenas cheguei ao blog do Rafael por amar historia e estar fazendo pesquisa…

  3. Eu nunca morei em Copacabana, mas minha irmã resolveu ir para la e se radicou lá. Por isto eu sempre frequentei esse lindo bairro do Rio de Janeiro durante os anos entre l956 a 1994. Curti muito as areias de Copacabana (pois sou apaixonada pelo mar); e hoje sinto imensa saudades daqueles tempos. Estou sempre atenta às noticias e gostei muito desse artigo publicado pelo Mineiro Rafael Sette Câmara,

  4. Copacabana é realmente encantador.
    Sou paulistana mas morri de amores por este lugar! Tenho planos de voltar em breve.
    Parabéns pela publicação!

  5. Infelizmente fizeram o túnel para chegar em Copacabana, poderiam ter deixado o acesso restrito garanto que as belezas ainda seriam maiores assim como tudo no Rio seria melhor, mas infelizmente aos poucos esta se tornando isso que estamos vendo, só interesses imobiliários e dinheiro interessam e quanto a natureza e beleza preservada para um futuro cheio de vida pouco importa. Que tristeza “Brasil”.

  6. Eu me amarro em Copacabana. Um lugar de grandes histórias. Vai uma dica aí pro pessoal que deseja se hospedar em Copacabana em excelente localização e gastando pouco. Tem um hotel chamado Angrense que fica na travessa Angrense com a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, perto de tudo e a um quadra da praia. Quando fui ao RJ fiquei lá, pesquisei e foi o hotel mais barato que encontrei. Não tem nada de luxo mas viajantes como eu que só vai pro hotel dormir está muito bom. Vlw pessoal do blog.

  7. Realmente Copacabana encanta a todos. É o típico local onde ninguem dorme rs. Você pode achar de tudo 24hrs por dia (Bar, Loja de Suco, Boate e por ai vai). Recomendo também andar de stand up paddle no Posto 6. E também o bom samba do bip bip. Agora uma curiosidade: Todo mundo diz que em Copacabana se todos s moradores descerem no msm horário ninguém anda na rua.

  8. É a parada mais próxima do cantinho do centro, onde em breve serão inaugurados os grandes projetos do Porto Maravilha , como o MAR (Museu de Arte do Rio) e o Museu do Amanhã . A estação também funciona como atalho para o Morro da Conceição, onde acontece a roda de samba da Pedra do Sal , toda segunda-feira.

  9. Sempre quero passar aqui pra comentar, mas por algum motivo o 360 é bloqueado no meu trabalho 🙁 mas elogiar o trabalho de vocês é chover no molhado, né? Show demais cara, tudo esse sucesso sempre foi mais que merecido!
    Foi bom matar um pouco da saudade e saber um pouco mais sobre o meu Rio!
    Grande abraço e muita paz, Michel

    1. Pô, como assim é bloqueado no trabalho? Tem que ver isso aê! hehehe
      Obrigado pelos elogios, Michel. E também pelo apoio que você nos dá desde o começo! =)
      Abraço!

      1. Tenho um bom instinto pra trabalhos com potencial e sabia que vocês iam arrebentar! Eu que agradeço pela parceria e irmandade de sempre, só falta marcarmos uma gelada ao vivo!
        *no outro comentário era “todo esse” 🙂
        Abração e muita paz! Michel

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