Procurando livros para ler em 2024? Esta lista é bastante diversificada e inclui apenas livros que li e gostei. Tem romances nacionais, estrangeiros, de escritoras e escritores jovens ou já consagrados.
E até alguns que foram esquecidos pela história, sofrendo uma espécie de memoricidio. Algumas obras são de não-ficção e têm muito a ver com o contexto atual.
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Livros para ler em 2024: nossas dicas
Os perigos do imperador, de Ruy Castro
No Brasil, pouca gente entende mais de biografias que o Ruy Castro, que já escreveu sobre as vidas de Carmen Miranda, Nelson Rodrigues e Garrincha.
Mineiro de Caratinga, o escritor fala como poucos do Rio de Janeiro e seus personagens, a cidade que adotou e da qual é, por que não, também biógrafo.
A última obra de Ruy Castro é um romance literário e venceu o Prêmio Jabuti de 2023 nessa categoria. Estou falando de Os perigos do Imperador (R$ 69,90), que mistura ficção com reconstituição histórica. Ruy Castro parte de uma história real, uma viagem feita por Dom Pedro II em 1876, e imagina uma tentativa de assasinato contra o monarca.
Chão de Ferro, de Pedro Nava
De um livro recente para um cujo o autor morreu há 36 anos. Chão de Ferro, de Pedro Nava, é uma obra de memórias. Modernista de primeira hora, amigo de Carlos Drummond de Andrade e Juscelino Kubitschek, de quem foi colega de faculdade, Pedro Nava fez carreira como médico. A literatura, se esteve sempre presente na vida dele, só virou atividade profissional quando Nava estava prestes a completar 70 anos.
Os livros vieram em sequência: Baú de Ossos (1972), Balão Cativo (1973), Chão de Ferro (1976), Beira-Mar (1978) foram alguns deles. Sim, todos são memórias. Contam a vida de Nava, passando pela infância em Juiz de Fora, o internato no Rio de Janeiro, as férias no Recife e os anos de faculdade em Belo Horizonte.
Como Nava foi amigo de tanta gente importante e esteve no meio de alguns dos movimentos fundamentais de sua época, suas obras são interessantíssimas. Isso sem nem mencionar a beleza do texto do autor.
Chão de Ferro (R$ 40), que escolhi para colocar nesta lista, narra o período em que Nava era um estudante no Rio de Janeiro, com direito a testemunho sobre a epidemia de gripe de 1918, da qual ele não escapou ileso.
Se você ler e gostar, vai por mim: Beira-Mar, em que Nava conta de sua vida na Belo Horizonte dos anos 1920, com Drummond e JK (entre outros), também é um livrão.
A Imaginária, Adalgisa Nery
Preciso ser justo: descobri Adalgisa Nery no Metrópole à Beira-Mar, do Ruy Castro, que conta a história da escritora. E que descoberta! Com traços autobiográficos fortíssimos, o livro A Imaginária é uma obra de ficção.
Narrado em primeira pessoa, conta a história de Berenice, da infância ao casamento precoce, ainda na adolescência. Um matrimônio abusivo e muitas vezes violento.
A Imaginária é uma obra sobre sofrimento, luto, doença e insanidade. A autoficção, um gênero em que Adalgisa é considerada precursora no Brasil, fica clara quando a gente conhece um pouco da vida da escritora, que se casou aos 15 anos com um vizinho, o pintor modernista Ismael Nery.
A Imaginária foi publicado em 1959, décadas após a morte de Ismael, e logo se converteu no maior sucesso de Adalgisa. Um dos melhores romances que li em 2020.
O Peso do Pássaro Morto, da Aline Bei
Já que o assunto é sofrimento, O Peso do Pássaro Morto é aquele livro contemporâneo que todo mundo precisa ler. A autora, a paulistana Aline Bei, escreve de forma única e poética. O Peso do Pássaro Morto é o romance de estreia da escritora. Narra a história de uma mulher sem nome, dos 8 aos 50 anos, passando pelas várias fases de uma existência cheia de lutos. Fala de violência sexual, maternidade, da perda de entes queridos e da solidão.
O Peso do Pássaro Morto foi publicado em 2017 e no ano seguinte ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura, um dos mais importantes do Brasil, na categoria melhor romance de autor com menos de 40 anos. É o tipo de livro que você engole em uma tarde – e depois passa semanas refletindo.
Pra quem quiser conhecer mais o trabalho da Aline Bei, há um conto dela na antologia Pandemônio: nove narrativas entre São Paulo – Berlim, que pode ser baixada gratuitamente aqui. ]
O romance seguinte de Aline Bei, publicado pela Companhia das Letras, também é fantástico: Pequena coreografia do adeus.
A Máquina de Fazer Espanhóis, Valter Hugo Mãe
Poucos escritores contemporâneos tratam tão bem a língua portuguesa como Valter Hugo Mãe. Esse português, que nasceu numa cidade angolana e viveu na então colônia até os dois anos de idade, é autor de obras como O Remorso de Baltazar Serapião (2006), O apocalipse dos trabalhadores (2008),O Filho de Mil Homens (2011) e A Desumanização (2013), todos livros incríveis.
Nossa indicação para quem quer conhecer a obra dele, porém, é A Máquina de Fazer Espanhóis (2010). Na obra, Valter Hugo Mãe narra a história de um idoso, o barbeiro Antônio. Aos 84 anos e após perder a esposa, ele vai morar num asilo.
Ali, enfrenta o abandono da família, o luto e a velhice ao mesmo tempo em que faz novos amigos. Por meio das memórias do homem, o livro fala de um Portugal Salazarista e ditatorial – a tal máquina de fazer espanhóis, um país de onde muitos queriam ir embora.
O livro custa em torno de R$ 40. Já leu? Então vai em qualquer outro título do autor: a escolha será certeira.
Fim, Fernanda Torres
Pegando o gancho da velhice para falar de outra obra sobre o mesmo tema: Fim, da atriz, apresentadora, roteirista e também escritora Fernanda Torres. Fim foi o romance de estreia dela – e provou que Fernanda é mesmo boa em tudo que se propõe fazer. Tanto é que a obra ganhou o prêmio Jabuti em 2018, na categoria livro brasileiro publicado no exterior. Antes, já tinha sido finalista do mesmo prêmio em 2014, em outra categoria.
A obra narra as passagens mais importantes das vidas de cinco amigos, moradores do Rio de Janeiro. Ali estão casamentos, divórcios, festas, encontros, brigas e – como o nome indica – o fim.
Apesar do tema, é um livro divertido, fácil de ler. Esteve durante muito tempo na prateleira dos mais vendidos. Custa em torno de R$ 50. Em 2023, Fim virou uma série no Globoplay – com direito a elenco fantástico. Vale assistir.
Já leu e gostou? Fernanda Torres já publicou também Sete Anos (2014) e A Glória e Seu Cortejo de Horrores (2017).
Lituma nos Andes, de Mario Vargas Llosa
Desde a morte de García Márquez, nenhuma voz latina é mais importante na literatura que a de Mario Vargas Llosa. Prêmio Nobel de 2010, esse peruano de Arequipa escreveu páginas famosas, como Batismo de Fogo (1963, também chamado A Cidade e os Cachorros), As Travessuras da Menina Má (2006) e A Guerra do Fim do Mundo (1981), entre muitas outras obras.
Se você já leu todos esses, mas gosta da escrita do Vargas Llosa, uma dica é Lituma nos Andes, publicado em 1993. Como o nome indica, a obra se passa na cordilheira peruana. Entre a religiosidade andina, superstições, uma ditadura militar e ataques de grupos revolucionários, dois policiais investigam uma série de assassinatos numa vila perdida nas montanhas. Vale pela narrativa de Vargas Llosa e também para conhecer mais da cultura peruana. Espere gastar entre R$ 40 e R$ 50.
Já leu? Se quiser conhecer um pouco mais da história do autor, vá no Tia Júlia e o Escrevinhador (1977), que tem uma pegada de autoficção, ao narrar o relacionamento entre um jovem jornalista e sua tia mais velha. Não por acaso o personagem principal tem o mesmo nome do autor: é a literatura bebendo na realidade.
Assassinos da Lua das Flores, David Grann
Eu gosto muito do trabalho do jornalista e escritor estadunidense David Grann, publicado no Brasil pela Companhia das Letras. Grann, que ficou conhecido pelas longas reportagens da New Yorker, é um dos expoentes do chamado jornalismo literário ou narrativo.
São dele os livros O Diabo & Sherlock Holmes, uma coletânea de reportagens publicada em 2010, e Z, a Cidade Perdida (2009), livro que narra as aventuras do coronel Percy Fawcett pela Amazônia e a busca por uma lendária cidade pré-colombiana.
Menos conhecido no Brasil, Assassinos da Lua das Flores conta a incrível história da fundação do FBI. E de como, na década de 1920, nativos americanos acabaram donos de algumas das maiores reservas de petróleo do país. No livro, Grann investiga uma série de assassinatos que veio no rastro do dinheiro.
É uma obra envolvente e que foi apontada como livro do ano por vários jornais dos Estados Unidos, em 2017. E que voltou aos holofotes no final de 2023, quando estreou o filme baseado no livro, que foi dirigido por Martin Scorsese e tem Leonardo DiCaprio no papel principal.
- Conheça mais sobre essas histórias: Z, a Cidade Perdida do Coronel Fawcett
- Os assassinatos dos Osages, os índios mais ricos do mundo
O País da Canela, de William Ospina
Muitas das melhores histórias do mundo são sobre viagens, da Odisseia, de Homero, ao Livro das Maravilhas, de Marco Polo. Na época das Grandes Navegações, as cartas dos cronistas e conquistadores também seguiam na mesma direção – um exemplo está com Pero Vaz de Caminha.
Mas qualquer pessoa que já tentou ler obras como a correspondência de Caminha sabe que a leitura passa longe de ser agradável. E se um autor recontasse histórias assim numa linguagem moderna e literária? Foi o que fez o colombiano William Ospina, autor do romance O País da Canela, lançado em 2008.
A história narrada por Ospina é a da conquista da Amazônia. Para ser mais específico, a primeira navegação do rio Amazonas feita por conquistadores europeus, que cruzaram os Andes em busca de uma lendária selva que seria rica em especiarias.
Eles deram de cara com a maior floresta tropical do mundo, quase morreram e, meio que sem querer, acabaram navegando o Amazonas de ponta a ponta. Lançado no Brasil em 2017, o livro custa R$ 50.
O Ladrão no Fim do Mundo, de Joe Jackson
Já que o assunto é Amazônia, um livro de não-ficção que ajuda a entender a riqueza e a história da região é O Ladrão no Fim do Mundo (2011), do escritor e jornalista investigativo Joe Jackson.
A obra, publicada no Brasil pela Objetiva, conta como 70 mil sementes de seringueira foram roubadas do Pará e contrabandeadas pelo inglês Henry Wickham para a Inglaterra, acabando com o Ciclo da Borracha e destruindo a rica economia amazônica.
É um livro interessante para quem gosta de história. E que ensina, da pior forma, o tamanho das riquezas que a Amazônia guarda. Afinal, na virada do século 19 para o 20 a borracha das seringueiras era tão cara e importante como hoje é o petróleo.
Chico Mendes – Crime e Castigo, de Zuenir Ventura
Sigamos com Amazônia, que mais do que nunca merece nossa atenção. Em Chico Mendes – Crime e Castigo, Zuenir Ventura fala do assassinato do líder seringueiro, em 1988. Quinze anos após o crime, ele vai ao Acre para acompanhar o julgamento.
Chico estava na casa dele quando foi baleado, em Xapuri, no interior do estado. Ele já vinha recebendo ameaças há meses e chegou a profetizar o próprio assassinato. A morte de Chico Mendes teve impacto internacional e levou Xapuri para o centro do mundo. Em dezenas de formas, sua morte ajudou a conter o desmatamento.
Aos 92 anos, Zuenir Ventura segue como um escritor fundamental da literatura brasileira. Se você quer conhecer outras obras dele, invista no clássico: 1968: o Ano Que não Terminou.
Tudo de bom vai acontecer, de Sefi Atta
A premiada escritora nigeriana Sefi Atta não tem muitos livros publicados no Brasil. No momento, a exceção é Tudo de Bom Vai acontecer (2013), obra que conta a história de Enitan, uma mulher nigeriana de classe média, passando pela infância em Lagos, a faculdade em Londres e o começo da vida profissional e o matrimônio, já de volta ao país natal.
Além da trama pessoal, como pano de fundo estão os sucessivos golpes de estado que envolvem a Nigéria, a luta pela liberdade e a prisão de opositores políticos por militares que comandam o país. O livro também fala de machismo, violência sexual e religiosidade.
Dá uma visão bem interessante, para além das histórias únicas que costumam chegar até aqui, da sociedade nigeriana e de como é a vida numa metrópole como Lagos.
Dicas de Leitura em 2024: indicação bônus
Dos que vão morrer, aos mortos – meu romance de estreia
Sim, eu escrevi um livro. É o romance Dos que vão morrer, aos mortos, publicado no final de 2023 pela Editora Urutau – e que foi a maior pré-venda daquela casa, com centenas de exemplares vendidos antes do lançamento.
Este livro é a realização de um sonho e também um exorcismo. É uma obra de ficção, mas baseada numa página de minha própria vida: a morte de minha mãe. Há 12 anos, o telefone de casa tocou. Minha mãe largou as panelas no fogo e atendeu a ligação. A voz, desconhecida da família, era de um homem.
Minha mãe saiu de casa imediatamente e nunca mais voltou. Seu corpo foi encontrado 36 horas depois, em outra cidade, e as circunstâncias jamais foram esclarecidas.
Eu já conhecia a morte, mas foi naquele dia que a compreendi. O luto, essa planta suculenta, é uma mãe-de-milhares que se reproduz infinitamente. Espalhada pelo sopro mais leve, capaz de brotar até na falha do rejunte dos azulejos e nutrida por uma gota d’água, logo ela toma conta do jardim. Sufoca todo o resto e, mesmo quando é arrancado do peito, o luto segue enraizado, pronto para ressurgir e virar solidão.
Tantos anos depois, resolvi transformar aquele luto em literatura, uma forma de exorcizar certos demônios e de garantir alguma permanência para os meus mortos e suas histórias.
O livro custa R$ 60. Você pode comprá-lo no site da editora ou direto comigo, pelo meu Instagram – basta mandar uma mensagem lá! Se quiser, eu envio como uma dedicatória em seu nome.
A bailarina da morte: A gripe espanhola no Brasil, de Lilia Schwarcz e Heloisa Starling
Como eu disse antes, as indicações de livros listadas acima vêm da minha leitura pessoal. São livros que li nos últimos meses e gostei.
Agora, fica a indicação de uma obra que ainda não li. A bailarina da morte: A gripe espanhola no Brasil, foi publicada pela Companhia das Letras e escrita a quatro mãos e ao longo de 2020, primeiro ano da pandemia.
E escrita por uma dupla de peso: Lilia Schwarcz, historiadora, antropóloga e autora, entre outras obras, da biografia Lima Barreto: Triste Visionário; e Heloisa Starling, historiadora com vasta produção sobre o período republicano.
Parece uma aposta segura para saber mais sobre a maior pandemia antes da que vivemos. Uma gripe que em 1918 deixou dezenas de milhões de mortos.