Hoje ela é Patrimônio da Humanidade e principal cartão-postal de Belo Horizonte, mas a Igreja de São Francisco, na Pampulha, foi odiada por boa parte da população no momento em que foi inaugurada. O templo projetado por Oscar Niemeyer causou tanta polêmica que a Igreja Católica se recusou, durante 17 anos, a realizar a primeira missa lá – e teve até quem sugerisse sua demolição, insistindo que no lugar fosse construída uma réplica de outra igreja de São Francisco, a de Ouro Preto, que tem a assinatura de Aleijadinho.
Felizmente nada disso aconteceu e logo a população belo-horizontina – inclusive os conservadores – abraçou a Igrejinha da Pampulha. Como quase sempre morei perto da Igrejinha, sei dessa história há tempos, mas foi só outro dia que pensei que isso não deve ser tão incomum assim. E não é. Todos os cinco monumentos abaixo foram odiados na inauguração. E não faltou quem falasse que era melhor demolir tudo e colocar outra coisa no lugar.
Torre Eiffel
“Inútil e monstruosa”. “Maldade pública”. “Tão feia que nem os norte-americanos gostarão dela”. Esses foram alguns dos comentários carinhosos que a Torre Eiffel recebeu em seus primeiros anos de vida. O ódio dos haters começou antes mesmo do projeto sair do papel, quando vários artistas, engenheiros e cientistas – ou seja, boa parte dos intelectuais da época, publicaram um manifesto num jornal parisiense com um apelo para que a torre não fosse erguida.
“Nós, escritores, pintores, escultores, arquitetos e amantes devotados à beleza de Paris, até hoje intacta, fazemos protesto com todas as nossas forças e indignação, em nome do bom gosto francês desvalorizado, da arte e da história francesa agora sob ataque, contra a ereção, no coração de nossa capital, da Torre Eiffel, que é inútil e monstruosa, que a maldade pública, muitas vezes cheia de bom senso e espírito de justiça, já batizou de Torre de Babel”, bradaram eles.
Não adiantou a birra, já que a torre foi erguida mesmo assim, para ser o portão de entrada da Exposição Universal de 1889, que celebrava os 100 anos da Revolução Francesa. Mas aí começaram os esforços para desmontá-la, o que só foi evitado pela utilidade da torre para fins militares. O tempo, claro, resolveu a questão, e logo a Torre Eiffel se transformou no monumento pago mais visitado do mundo.
Gustave Eiffel, o homem que tinha bancado aquilo tudo, não teve motivos para reclamar, já que ele recuperou em apenas seis meses, com o valor cobrado dos ingressos, tudo que foi investido na Torre. O que veio depois foi lucro. O ódio de muitos pode ter ajudado a transformar a Torre Eiffel no melhor negócio da história do turismo.
Veja também: Um passeio pelos bastidores da Torre Eiffel
Parc Güell
O tempo trouxe a redenção do arquiteto Antoni Gaudí. O catalão, hoje um dos nomes mais conhecidos do mundo e cujo trabalho leva milhões de turistas para Barcelona, tem um monte de projetos polêmicos em seu portfólio. Um deles é o Parc Güell, hoje transformado num dos principais cartões-postais da cidade.
Essa história começou quando um empresário contratou o Gaudí para projetar uma espécie de condomínio residencial numa área montanhosa da cidade, em El Camel. O problema é que o empreendimento não deu muito certo e apenas duas casas foram concluídas: uma para Eusebi Güell, o contratante da obra e que mais tarde deu nome ao parque, e outra para servir de show room. Ninguém se interessou.
O fracasso do empreendimento imobiliário acabou criando, mesmo que involuntariamente, um parque público com uma baita vista da cidade. O Parc Güell foi declarado Patrimônio Mundial da Humanidade em 1884.
Veja também: Como visitar o Parc Güell, em Barcelona
Um tour pela Barcelona de Gaudí
Sagrada Família
Não precisamos nem sair de Barcelona: a Sagrada Família, hoje o cartão-postal máximo da cidade, também foi odiada por muitas. E a polêmica novamente foi causada por Antoni Gaudí. E essa foi maior ainda – diz o boato que Pablo Picasso, outro espanhol, teria mandado ‘Gaudí e a Sagrada Família para o inferno’, enquanto o escritor George Orwell, autor de livros famosos como “1984” e “A Revolução dos Bichos”, teria dito que ‘a Sagrada Família é um dos prédios mais horrorosos do mundo’.
Gaudí morreu em 1926, aos 73 anos, atropelado por um bonde, e jamais viu sua obra-prima terminada. A previsão atual é que o templo ficará finalmente pronto em 2026, 144 anos depois do começo das obras, mas muita gente dúvida. Quando concluída, a Sagrada Família será a igreja católica mais alta do mundo, com 18 torres que representam cada um dos apóstolos, os quatro evangelistas, Maria e Jesus.
Neuschwanstein
Hoje o castelo mais visitado da Alemanha, o Neuschwanstein, que fica perto de Munique, causou a queda de um rei, que passou a ser tratado como louco pelos súditos e por outros nobres. Tudo porque ele insistiu na construção megalomaníaca.
Ludwig II resolveu construir um grande castelo nas montanhas. Projetado não por um arquiteto, mas por um designer de palcos de teatro, o Neuschwanstein tem características, digamos, especiais, como uma gruta falsa, com direito a estalactites e iluminação especial. O rei supervisionava toda a obra, nem que fosse a partir de uma luneta instalada em outro castelo. Veja bem: ele fazia praticamente só isso, a ponto de ter ignorado a Guerra Franco-Prussiana, não comparecendo nem na comemoração da vitória.
Veja também: O Castelo da Cinderela que fica próximo a Munique
O rei se mudou para o castelo em 1884, mas só viveu lá por 172 dias. É que o custo altíssimo da obra – ainda inacabada – se tornou insustentável, a ponto do parlamento resolver declarar que o rei era louco e incapacitado para a função. Ludwig II morreu pouco depois disso.
Foi o Castelo de Neuschwanstein que inspirou Walt Disney na construção do Castelo da Bela Adormecida e da Cinderela nos parques da Flórida e Califórnia.
Pirâmide do Louvre
Os que odeiam a Pirâmide do Louvre, inaugurada em 1989, dizem que a construção do monumento só foi compreendida quando Dan Brown escreveu O Código Da Vinci: só mesmo uma teoria da conspiração milenar para explicar um monumento tão horrendo – e futurista – em frente ao Louvre, erguido oito séculos antes e certamente com um estilo muito diferente.
Por mais que eu queira acreditar no Dan Brown, a versão oficial diz que a Pirâmide foi encomendada porque a entrada do Louvre, usada há séculos, não dava mais conta da quantidade de visitantes que passava por lá. A solução foi criar uma nova entrada, em que os visitantes pudessem descer diretamente para o átrio. O fato é que muita gente não gostou da mistura de estilos e o François Mitterrand, o presidente francês que encomendou a obra, foi chamado de faraônico porque, né, ele construiu uma pirâmide de vidro.
A polêmica gerou uma lenda urbana que chegou até a ser publicada em jornais franceses como se verdade fosse: diziam que o monumento tinha 666 peças de vidro, exatamente o número da besta, descrito na Bíblia. Coincidência não poderia ser, óbvio, mas mentira era: o número é maior. Segundo o Louvre, são 673 painéis de vidro. Não que alguém tenha acreditado.
Veja também: Visita ao Museu do Louvre, em Paris
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Que conteúdo rico em informações, interessante!
O monumento a Vittorio Emanuele II também foi odiado na época e é lindo!
Li uma vez que os romanos acharam o valor da obra absurdo e confrontava com a beleza do Vaticano, e por sua cor branca, que incomodava aos olhos. Não sei se é verdade. Só sei que apaixonei por ele.
Também gosto dele, Ana. Mas tem romano que até hoje odeia!
Abraço e obrigado pelo comentário.
Gosto muito das matérias que vocês mandam, são excelentes, vou para Paris e Madrid no próximo mês e já guardei as matérias que vocês fizeram, estão de parabéns.
Ficamos muito felizes de saber disso, Carmen.
Obrigado!
Alerta! no castelo de Neuschwanstein, tem uma data improvável, 1984.
De fato, errado por um século! Totalmente improvável!
Obrigado pelo aviso, Roberta. Já fiz a correção. 🙂
Obrigada pelo convite do Instagram. Amei. Viajei com VCS.
Que bom que gostou, Maria.
Abraço.
Curti intensamente sua entrevista na Bandnews, realmente rodas surgiram debaixo de meus pés… Parabéns pelo belíssimo trabalho!
Muito obrigado, José!
Abraço.
Que bom que gostou, Lyara.
Abraço.
Surpreendente esse approach.
Que bom que gostou, Silvino.
Abraço.
Ótimo post! Adiciono mais um, o Obelisco de Buenos Aires. Para contruí-lo destruiram uma igreja histórica que tinha no lugar, muita gente reclamou e protestou. Mas no fim adotaram o monumento como símbolo da Argentina.
Boa, Tulio!
Não sabia dessa história!
Abraço.
Rafael, me parece que a data em que o Rei foi morar no Castelo está equivocada. Conheço os 5 monumentos. Fora a Igrejinha, visitei os outros 4 há menos de um mês e fora o Castelo, já não foi a primeira visita à Torre e as duas obras de Gaudi. Maravilhosos!
Verdade, Bozzo! Já corrigi. Obrigado pela dica. 🙂
Abraço e obrigado pelo comentário.