A mulher fazia o mesmo ritual todos os dias: a cada manhã ela colocava pequenas bandejas cheias de flores e frutas na porta do hotel onde estávamos hospedados. Eu, talvez com a mesma periodicidade, ofendi aos deuses sem saber, toda vez que pisei nas oferendas. Acidentalmente, claro, afinal não sou do tipo que desrespeita um deus, seja ele qual for. Em outras palavras, eu não chutaria nem se fosse macumba, quanto mais uma oferenda hindu.
As oferendas – canang sari, no idioma local – estão por todos os lados, a cada esquina, entrada de casa, escadaria, comércio, estátua ou templo. São feitas várias vezes por dia por muitos outros balineses, não apenas pela mulher em nosso hotel. Bali, além de praias lindas, tem uma cultura única. E a fé das pessoas é uma das causas disso.
A religião é um assunto sério na Indonésia, que é o país de maioria muçulmana mais populoso do planeta: 87% da população do país professa o Islã. Não em Bali. A ilha, a região turística mais importante da nação, tem maioria hindu, 93%. Não se sabe ao certo como o hinduísmo chegou por lá. Há quem diga que a religião foi levada por indianos, ainda no segundo século 2 d.C. Outros afirmam que foram os próprios moradores do local que, após viajarem até a Índia, adotaram a nova religião. Fato é que o hinduísmo foi a primeira das grandes religiões a fazer adeptos por ali e logo foi seguida pelo budismo. Cerca de 1000 anos depois dos hindus, vieram os muçulmanos, provavelmente também da Índia. Com o avanço do Islã na ilha de Java, os hindus começaram a se refugiar em Bali.
A tudo isso, some a chegada de exploradores portugueses e holandeses, a partir do século 16. Com os europeus, vieram mais duas religiões: o protestantismo e catolicismo. Pronto. Estava criado o caldeirão religioso que toma conta das 17 mil ilhas da Indonésia.
Já no século 20, o governo local empreendeu uma verdadeira luta contra o comunismo. O resultado foi uma caça aos ateus e a criação das seis religiões oficiais da Indonésia: islamismo, protestantismo, catolicismo, hinduísmo, budismo e confucionismo. Na Indonésia, a carteira de identidade informa a qual dessas seis religiões o cidadão é fiel. Isso aumentou o já grande sincretismo religioso do país, uma vez que adeptos de outras fés, principalmente de religiões locais e menores, passaram a integrar, pelo menos para o governo, uma das seis religiões oficiais. Um exemplo envolve os sikhs, religião típica do Punjab, região dividida entre a Índia e o Paquistão, mas que na Indonésia são declarados hindus.
Todo leitor do blog sabe que nós moramos na Índia antes de visitarmos Bali. Por isso, esperávamos semelhanças. Afinal, a Índia também tem maioria hindu. Que engano! Bali é diferente da Índia, inclusive quando o assunto é religião. Lá o sistema de castas, embora exista, não é tão rígido. Além disso, o hinduísmo balinês carrega influências do budismo e do animismo, uma espécie de manifestação religiosa que envolve os elementos da natureza. Os hindus de Bali acreditam que existe uma ordem no cosmos, e, no lugar do foco no ciclo de morte e reencarnação, típico do hinduísmo indiano, em Bali estão os espíritos dos ancestrais e, é claro, os muitos deuses. Eles acreditam que os espíritos podem reencarnar em novos membros da família ou de até de outras, como no bebê do vizinho, por exemplo.
Bali é um destino polêmico. Não há consenso sobre esta ilha – há quem vá e ame. E já li relatos de quem foi e se decepcionou. Talvez a chave para resolver essa questão esteja aí, na diversidade religiosa e cultural da Indonésia, que em Bali é expressa por meio de uma religião única e altamente miscigenada. Sair do Brasil e cruzar oceanos só para encontrar as praias de Bali pode ser um erro sem sentido. Bali oferece mais: incontáveis templos, deuses e fés, a ilha dá ao viajante a chance de conhecer um povo único e fascinante.
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Acabei de voltar de lá agora, de volta pra China onde moro. Adoro Bali por esse clima de religiosidade hindu que paira na ilha. Isso é mais evidente em Ubud, clima hindu zen total, quem vem pra Bali só pra mergulhar ou pegar altas ondas, não venha, o maior sabor da ilha não está aí, mas no clima e visual das estátuas das divindades espalhadas pela ilha.
Concordo, Raphael.
Abraço.
Estivemos em Ubud, Seminiak e passeamos pela Bali. Ficamos com essa estranha sensação de não conseguir definir Bali, principalmente na sua espiritualidade…. É um lugar para se deixar levar, é só na pele e na alma você sente a atmosfera da ilha!
Adoramos! Ainda não sei definir muito bem porque! Uma dica: vá sem muitas expectativas e aproveite!
Karin, Bali encanta! Que bom que gostou! 🙂