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O mundo mágico e colorido dos Diários e Cadernos de Viagem

“Ao mesmo tempo um local para gravar sonhos e descrever as explorações de mundo afora”. Como um maravilhoso companheiro de viagem, diários e cadernos de viagem há séculos são um local para compartilhar pensamentos, sentimentos e descobertas de artistas, cientistas, escritores ou meros viajantes.

Seja por meio de desenhos, aquarela e/ou escrita, os sketchbooks (livro de rascunho, em português) eram, muito antes da fotografia tornar-se onipresente, os espaços onde as viagens eram registradas como memórias, que podiam ou não um dia ser publicados. De soldados na Segunda Guerra Mundial a grandes artistas, até hoje esses diários representam um espaço de experimentação artística e observação durante uma jornada.

Segundo o livro de Farid Abdelouahab, Jorneys and Journals, de onde retirei a frase de abertura deste texto, as primeiras narrativas de viagem que se tem notícia raramente descreviam paisagens para além da topografia. Tanto que, inicialmente, os autores desses diários eram cientistas ou especialistas.

Mas, com o passar do tempo, com a popularização das viagens e do acesso a materiais artísticos, essa virou uma atividade também de grandes pintores e escritores, e também de meros mortais: “os viajantes tornaram-se artistas puramente por causa do estranhamento e beleza do que viam”.

A prática de manter diários de viagem ganhou força com o movimento do romantismo, ali pelo final do século 18, mesmo período em que a ideia de turismo como conhecemos começou a surgir. Mas até hoje o caderno de viagem é um lugar de experimentação e novas ideias, para profissionais ou amadores (como eu), colocarem belas paisagens no papel.

Cadernos de viagem famosos na história

Os diários de Humboldt e as expedições científicas

Alexander von Humboldt foi um geógrafo, naturalista e explorador da Prússia (atual Alemanha), que fez uma das mais notáveis expedições científicas, de 1799 a 1804, para catalogação de fauna e flora, e confecção de mapas da região Amazônica. 

Durante todo esse período, Humboldt manteve diários de viagem, dos quais nove volumes originais sobreviveram. Segundo Abdelouahab, “os diários de viagem de Humboldt podem ser considerados um dos mais magníficos exemplos do gênero, não apenas em termos de quantidade, mas também no respeito a sua diversidade artística e literária.”

alexander von humbold ensaio geografia das plantas

O autor ainda explica que Humboldt pensava como um colecionador e anotava tudo, de notas científicas a observações pessoais. Além da escrita de viagem, também fazia desenhos de plantas, animais, paisagens e mapas.

Delacroix e os diários de viagem ilustrados

Eugenie Delacroix era um pintor francês da época do Romantismo. Em 1832, ele viajou para o Norte da África para escapar da sociedade parisiense. “Eu quero trabalhar em como gravar as impressões que passam pela minha mente a todo instante”, escreveu.

Os cadernos de viagem foram praticamente a única forma de expressão artística que ele adotou durante sua jornada pelo Norte da África, que o inspirou imensamente. A partir dessa viagem, ele produziu mais de 100 pinturas e desenhos baseados na arquitetura e estilo de vida dos povos do Marrocos e da Argélia.

Diario de Viagem de Delacroix

Já os diários de viagem foram esquecidos por muitos anos e alguns deles só foram encontrados muito recentemente. Você pode ler e ver os apontamentos do pintor em Journey to the Maghreb and Andalusia, 1832: The Travel Notebooks and Other Writings é um livro publicado em 2019, a única versão em inglês, que reúne quatro dos cadernos de viagem de Delacroix, além de fragmentos de dois deles, descobertos recentemente, inúmeras notas e rascunhos.

John Ruskin e a popularização do sketchbook

John Ruskin era um artista e escritor inglês que viveu no tempo em que o ritual do Grand Tour era popular entre os jovens ricos ingleses: basicamente, uma viagem pelas principais cidades europeias para explorar a arte e arquitetura. Também começou a ser comum nessa época levar diários de viagem para anotar os pensamentos, desenhar e aquarelar as paisagens e pessoas.

john ruskin sketchs e aquarela

Além de preencher incontáveis cadernos de viagem, Ruskin passou a se incomodar com quão pouco as pessoas notavam os detalhes à sua volta. Ele detestava a cegueira de hordas de turistas que tinham orgulho de ver a Europa inteira em uma semana.

“É uma medida de quão acostumados estamos com a inatenção que acharíamos incomum ou até perigoso se parássemos e encararmos um local pelo tempo necessário para que um desenhista precisaria para desenhá-lo. São necessários 10 minutos de concentração aguda para desenhar uma árvore. Mas a mais bela das árvores raramente detém transeuntes por mais de um minuto.”

Com isso, Ruskin criou um curso de desenho e em 1856 o livro Elementos do Desenho. Seu objetivo era fazer um guia que permitiria que mesmo a pessoa menos habilidosa artisticamente fosse capaz de produzir sketchs da realidade. O livro, voltado para pessoas comuns e não para artistas profissionais, tornou-se um best seller não só na Inglaterra, mas em todo o Império inglês. Foi uma sacada genial, que tornou-se um gênero de publicação popular até hoje.

Os cadernos de desenhos da Segunda Guerra Mundial

cherbourg-Setembro-7-1844

Aos 21 anos, o americano Victor Lundy se alistou para combater na Segunda Guerra Mundial, e, quando convocado, levou consigo seu caderninho de desenhos. Ele documentou as experiências no centro de treinamento e nos campos de batalha na Normandia. Lundy desenhou sobre suas experiências na guerra entre maio e novembro de 1944.

O jovem soldado mais tarde tornou-se um importante arquiteto do modernismo americano. Em 2009 ele doou seus cadernos de desenhos documentais à Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Você consegue ver vários desses desenhos aqui. 

Cadernos de Viagem e Sketchbooks contemporâneos

Apesar da fotografia ter mudado o cenário das memórias de viagem, ainda hoje muitos artistas se dedicam a pintar suas viagens e preencher páginas e mais páginas de diários com suas aquarelas, rabiscos e textos.

Uma forma de descobrir artistas perto de você é buscar por um dos grupos de USK (sigla de Urban Sketchting) na sua cidade ou país. Obviamente, o Instagram e o Youtube também são fontes inesgotáveis de artistas brasileiros e estrangeiros que pintam em diferentes estilos. Também recomendo buscar grupos de aquarela no Facebook.

Minhas aventuras de Viagem pela Aquarela

Com a pandemia e a dificuldade para viajar, eu embarquei nesse universo de skechbooking e aquarelas. O hobbie me ajudou a passar de uma forma menos ansiosa e mais divertida por dias difíceis trancada em casa.

Com o tempo, fui evoluindo entre pincéis, cores e perspectivas e passei a usar como referências minhas fotos de viagem para desenhar e pintar minhas memórias. Tem quem faça disso uma fonte de renda, mas para mim é só um passatempo incrível.

sketchbook aquarela viagem

Algumas das fotos neste post são de trabalhos meus, feitos nos últimos meses. Para quem tem vontade de embarcar nesse universo, foi por meio de cursos do Domestika que consegui desenvolver bastante minhas habilidades com desenho e pintura.

Quer saber mais como são os cursos do Domestika? Descubra aqui como funciona a plataforma e como conseguir as melhores ofertas nos cursos

Por isso, decidimos fazer uma parceria com eles para indicar cursos e oferecer cupons de desconto para vocês. Abaixo eu indico alguns cursos sobre o tema que fiz no Domestika. São workshops de cerca de 3 horas, que custam a partir de R$39,00.

domestika-days

Cursos de Cadernos de Viagem no Domestika

cadernos de viagem em aquarela alicia aradilla domestika

A espanhola Alicia Aradilla deu a volta ao mundo fazendo lindas aquarelas e preenchendo seus diários. No seu curso “Cadernos de Viagem” ela fala de suas inspirações da artista, fundamentos básicos de desenho e aquarela, dicas sobre composição das páginas, como levar equipamentos de pintura numa viagem e ensina a fazer passo a passo a pintura de uma paisagem. Clique aqui para saber mais!

Curso de Desenho arquitetônico com aquarela e tinta

desenho com aquarela e tinta alex hillkurtz domestika

Se você tem uma preferência por Skechs Urbanas, outra opção de curso que eu fiz e comprei é o de Alex Hillkurtz, que vive em Paris e produz desenhos e pinturas mais impressionistas. O curso dele é uma aula muito completa de suas técnicas de pintura e perspectiva, que são relativamente simples e bastante impactantes visualmente. Clique aqui para saber mais!

Outros cursos online de Urban Sketching e Aquarela

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

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