Ao contrário do que os filmes de Hollywood tenham te mostrado por aí, tubarões não são criaturas maléficas que gostam de matar por diversão ou bichos mega famintos que se alimentam de carne humana. Segundo o Museu do Tubarão, em Fernando de Noronha, os animais atacam seres humanos por três causas: quando ele “erra”, e confunde os humanos com outros bichos; quando se sente atacado ou acuado; ou quando há desequilíbrio ecológico.
O Brasil é o quarto país do mundo em número de ataques, desde que os dados começaram a ser compilados pelo International Shark Attack File. Dos 102 ataques contabilizados, o lugar com o maior índice é uma faixa de costa das praias da Grande Recife, incluindo Boa Viagem, a mais famosa delas. Oficialmente, há 60 ocorrências nessa região: 32 surfistas (deles, 4 morreram), 28 banhistas (muito mais mortes, foram 20).
A construção do Complexo Portuário e Industrial de Suape, nos anos 80, é uma das causas apontadas para o aumento dos ataques: “Os estudos científicos revelam uma confluência de causas. Mas a construção do Porto de Suape é apontada como fator desencadeador dos ataques de tubarões, por seu alto impacto ambiental. O início de maior frequência dos ataques, nos anos 90, coincide com o começo do funcionamento do porto”, analisa a procuradora da República Mona Lisa Ismail.” O trecho é de um especial da Folha de Pernambuco sobre o problema.
O porto levou a diminuição da vida dos mangues, reduzindo a oferta de alimentos dos tubarões. Além disso, o movimento dos navios estava atraindo espécies de grande porte e mais agressivas. O problema é que a formação geográfica do fundo do Oceano, entre Suape e Pina, com um canal de 8 metros de profundidade, facilita o direcionamento dos animais do porto para a praia. Para completar, um matadouro clandestino que jogava carcaças no mar, o lixo e o esgoto lançados nas águas, o aumento populacional: tudo contribuindo para o problema ambiental.
Para complicar mais a situação, a linha de recifes que se estende por praticamente toda a praia, bem próxima da costa, é uma fonte de alimentos para os tubarões, dada a concentração de peixes por ali.
Quando a maré sobe, a água está turva, você está em risco. Nadar, a qualquer momento, depois dos recifes, é um risco. Para completar, o mar nessa região é perigoso: há correntes de retorno que puxam os banhistas para o fundo, sem aviso. Assim, elas caem no canal onde pode haver tubarões. Foi o que aconteceu com a Bruna Gobbi, em 2013: ela estava nadando com a família, com a água na altura da cintura, quando ela e a prima foram puxadas pela corrente. Os salva-vidas entraram no mar para salvá-las do afogamento, mas um tubarão atacou a Bruna.
Ainda há quem conteste os números e diga que são muito mais ataques. Numa matéria da National Geographic, um ex-coronel do corpo de bombeiros e um biólogo contestam os dados, em relação a corpos resgatados do mar e registrados apenas como afogamento.
O ex-presidente do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões admite a questão: “Até mesmo Fábio Hazin, presidente do Cemit entre 2004 e 2012, reconhece que ‘casos notificados como afogamento podem ter sido na verdade ataques de tubarão. No Recife, é preciso entender que, assim como ocorre na Flórida e na Austrália, teremos que conviver com os tubarões’, diz ele”.
A prevenção aos ataques é feita com as placas (meio apagadas) espalhadas pela orla e pela equipe do Corpo de Bombeiros que atua nas praias. Há um barco, chamado Sinuelo, que captura tubarões na orla, marca-os com sinalizadores e os devolve para alto mar. A atividade dá resultado, o problema é que nem sempre existem verbas para o funcionamento da ação. Atividades na água como surf ou mergulho são proibidas em todas as praias da região metropolitana de Recife.
A questão é que o problema do desequilíbrio ambiental não vai diminuir e a população urbana só cresce. Eu estive na praia de Boa Viagem em janeiro e me aventurei pelas águas, seguindo as tais recomendações de só ficar no raso, antes da área dos recifes. Eu acho complicado falar em culpa no caso dos ataques: o Estado tem a responsabilidade da prevenção, mas nem sempre a cumpre; o atendimento às vítimas pode ser visto com falhas, às vezes; e o banhista ou surfista só pode se prevenir se não entrar no mar de jeito nenhum.
Ao mesmo tempo, o único caso registrado de ataque de tubarão em 2015 foi em Fernando de Noronha, local onde isso nunca tinha acontecido antes. No final das contas, em tempos que os impactos das ações dos humanos na Terra são cada vez mais sentidos nos oceanos, temos de lembrar que os tubarões estão por aqui há mais de 200 milhões de anos, antes mesmo dos dinossauros. E torcemos para que continuem a existir.
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Nada errado com Recife , nada errado com Boa Viajem e menos errado ainda o tubaroes …Errado quem entra no mar ali sabendo de todas essas ocorrencias ,é pedir pra morrer. Se sei que fogo queima ,melhor respeitar e ficar longe dele.
É triste ver lindas praias sendo perdidas por falta de consciência de APENAS algumas pessoas para com uma população inteira. Porém, lutemos por outro litorais no qual ainda não foi destruído pelo Ser Humano.
Eu moro em Recife e raramente entro nas águas das praias da Região Metropolitana do Recife. A faixa que envolve as praias de Boa Viagem, Piedade, Candeias e Pina pode apresentar vários riscos, fora que volta e meia aparecem laudos na mídia que mostram contaminação acima do normal no nível da água. Não querendo afugentar ninguém, mas é sempre bom prevenir. Pernambuco tem lindas praias, como Porto de Galinhas e Praia dos Carneiros, mais seguras e limpas, e sempre que posso estou por lá.